O cultivo de alface em campo aberto pode se tornar inviável no Brasil durante o verão em cerca de 50 anos. A conclusão é de um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que avaliou o impacto das mudanças climáticas sobre a produção da hortaliça, considerada altamente vulnerável ao calor.
Em um cenário otimista de aquecimento global, 97% do território nacional apresentará risco climático alto ou muito alto entre 2071 e 2100. No cenário pessimista, todo o país entrará em nível de risco muito alto, com temperaturas de verão chegando a 45°C.
“Os números projetados são preocupantes porque a adaptação da espécie às altas temperaturas é mínima, especialmente se considerar que as sementes de alface exigem temperaturas inferiores a 22°C para haver germinação”, explicou o engenheiro-agrônomo Fábio Suinaga, pesquisador da Embrapa Hortaliças.
Efeitos do calor na produção
As altas temperaturas provocam problemas como a queima de borda (tipburn), relacionada à deficiência de cálcio, e o florescimento precoce (pendoamento), que compromete o padrão comercial da alface e acentua o sabor amargo.
O engenheiro-ambiental Carlos Eduardo Pacheco, da Embrapa, destacou a importância de antecipar medidas: “Os mapas evidenciam a urgência de pensarmos em sistemas produtivos adaptados ao clima, especialmente para hortaliças, que são mais sensíveis que as grandes culturas como milho ou soja”.
Caminhos para adaptação
Entre as alternativas estão o uso de cultivares mais resistentes ao calor, como a alface BRS Mediterrânea, e o desenvolvimento de plantas com raízes mais vigorosas. A produção em ambientes protegidos, como estufas, também deve ganhar espaço.
Além da alface, os pesquisadores pretendem expandir os estudos para tomate, batata e cenoura, utilizando inteligência artificial para aprimorar os mapas de risco climático.
Importância econômica
Segundo o último Censo Agropecuário (IBGE/2017), o Brasil produzia 671,5 mil toneladas de alface por ano, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. Dados da Conab mostram que, apenas em agosto de 2025, 11 Ceasas do país comercializaram 4,6 mil toneladas da hortaliça.