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Respire e permita-se viver: um convite à presença no Setembro Amarelo

Por Thaísa Clapham*

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Vivemos em um mundo marcado pelo excesso de estímulos, pressa e distrações constantes. Entre notificações, demandas e preocupações, nossa mente não para: fala, julga, compara, repete histórias antigas. No budismo, essa inquietude é comparada a um macaco agitado, sempre pulando de galho em galho. Foi a partir dessa metáfora que escrevi Quem está falando na minha cabeça? (Editora Labrador). No Setembro Amarelo, mês voltado para discussão sobre temas de saúde mental, torna-se ainda mais importante discutir o que trago no livro: um caminho para compreender e silenciar o “macaco tagarela” e cultivar presença, serenidade e autoconhecimento.

O que é a mente-macaco e as sete chaves para educar a mente

Chamo esse padrão mental repetitivo de Programa Mente-Macaco Condicionada (PMMC). Ele funciona como um software interno que reforça ansiedades, crenças limitantes e hábitos automáticos. Quando não percebido, assume o controle de nossas vidas, como se fôssemos conduzidos por um colega de quarto falante e inconveniente. A boa notícia é que não precisamos expulsar esse macaco, mas aprender a educá-lo, transformando-o em aliado no processo de despertar.

Inspirada pela máxima grega “Conhece-te a ti mesmo” e pelos ensinamentos do yoga, dos Vedas, do budismo e da filosofia perene, reuni no livro sete chaves de libertação: respiração consciente, atenção plena, comunhão com a natureza, afirmações e mantras, prática da gratidão, escrita em diário e meditação. Essas práticas simples e ancestrais, quando aplicadas ao cotidiano, ajudam a quebrar a identificação com os pensamentos e a reconhecer quem realmente somos além da mente.

Neste ponto, convido você a pausar a leitura por um instante. Inspire profundamente pelo nariz, expanda o abdômen como um balão e solte lentamente, permitindo que o abdômen desça com naturalidade. Sinta a paz se espalhar pelo seu corpo. Essa é a respiração diafragmática, a respiração dos bebês: natural, profunda, sem esforço. Perceba como apenas um minuto de atenção à respiração já muda o ritmo interno. Continue a leitura sentindo-se mais presente.

A Fórmula P.A.R.E. — uma pausa que transforma

Uma das ferramentas centrais é a Fórmula PARE — Pare, Atenção, Respire, Engaje-se. Esse método oferece um atalho para interromper o fluxo automático de pensamentos, observar a mente-macaco, usar a respiração como âncora e, então, retornar ao presente. Parece simples, mas é transformador: ao mudar a forma como respiramos, mudamos também como nos sentimos e nos relacionamos com o mundo.

A respiração, aliás, é apresentada como a primeira e mais poderosa chave.Na tradição do yoga, ela é a ponte entre corpo e mente. Respirações curtas e superficiais refletem ansiedade; respirações longas e profundas trazem calma e clareza. Técnicas como a respiração diafragmática, a respiração quadrada e a alternada (nadi shodhana) tornam-se, assim, práticas acessíveis de equilíbrio emocional e mental.

Experimente agora: inspire contando até quatro, segure o ar por quatro tempos, expire também em quatro tempos e faça uma breve pausa antes de recomeçar. Essa “respiração quadrada” é simples, mas poderosa para reequilibrar corpo e mente, especialmente em meio a um dia cheio.

Na tradição hindu, a vida não é medida em anos, mas em respirações. Cada respiração pode ser um portal para a calma, para a clareza, para o autodomínio. Como disse Sócrates: “Respirar é governar-se mesmo, e quem governa-se mesmo governa a própria vida.”

Como a ciência comprova tudo isso?

Pesquisas da Universidade de Harvard demonstraram que o mindfulness e a atenção plena melhoram a saúde mental ao reduzir o estresse e a ruminação mental, e podem alterar a estrutura cerebral, aumentando a massa cinzenta em áreas ligadas à atenção e regulação emocional.

A neurociência explica parte desse processo: temos entre 50 e 70 mil pensamentos por dia, e cerca de 85% deles são repetidos, segundo Joe Dispenza. Não é de se espantar que terminemos o dia exaustos, como um “macaco correndo dentro da roda de hamster”. A prática do silêncio, da observação e da gratidão nos convida a sair desse ciclo. Pesquisas recentes comprovam, inclusive, que cultivar a gratidão reduz inflamação, melhora a imunidade e diminui a pressão arterial.

“Você não é o barulho na sua cabeça — é a consciência que observa.”

Setembro Amarelo nos convida a lembrar que ninguém precisa caminhar sozinho. Cuidar da saúde mental é um ato de coragem. Se a mente está acelerada demais, respire — e, se precisar, procure alguém. Há profissionais e redes de apoio prontos para ajudar.

Respire, observe, silencie. Descubra que você não é seus pensamentos — você é a consciência que os observa. O verdadeiro despertar começa quando cessamos de nos identificar com a mente-macaco e reconhecemos a presença serena que já habita em nós.

Quem está falando na minha cabeça? nasceu do desejo de reunir anos de vivência como professora de meditação e yoga, certificada por Deepak Chopra, e como mentora em autoconhecimento. O processo de escrita, que levou um ano e meio, foi para mim tão transformador quanto espero que seja para cada leitor: uma oportunidade de mergulhar nas próprias vozes internas, discernir o que é ruído e o que é essência, e aprender a escolher com qual voz queremos dialogar.

No fim, a pergunta que dá título à obra não busca uma resposta única, mas um despertar: quem está falando na sua cabeça? Talvez, ao se perguntar, você inicie a jornada de autoconhecimento e encontre o silêncio que sempre procurou. Entre o ruído e o silêncio, escolha sempre voltar para casa: o presente momento.


*Thaisa Clapham
Autora, professora de meditação, yoga e mentora em autoconhecimento. Formada em Administração de Empresas com especialização em Marketing, deixou Belo Horizonte, capital mineira, há mais de três décadas para viver nos Estados Unidos, onde hoje reside em Windermere, Flórida. Sua trajetória une formação acadêmica e espiritualidade, com influências que vão desde os textos sagrados orientais até a filosofia ocidental. Dedica-se a ajudar pessoas a cultivarem paz interior por meio de práticas como mindfulness, respiração consciente e meditação. "Quem está falando na minha cabeça?" é seu primeiro livro publicado.

 

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