A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil gerou forte reação no Senado Federal, escancarando divergências entre base governista e oposição, ao mesmo tempo em que unificou a defesa da soberania nacional.
A Comissão de Relações Exteriores (CRE) divulgou nota oficial reforçando o compromisso com o diálogo e o respeito ao direito internacional, e anunciou a articulação de uma missão parlamentar a Washington. “Medidas comerciais devem ser tratadas com responsabilidade e dentro dos marcos do direito internacional”, diz o documento.
Base defende reação firme e diplomática
Aliados do presidente Lula reagiram com indignação. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), chamou a tarifa de “crime de lesa-pátria”.
“Não pode existir polarização quando o nosso país é atacado. Conspirar contra o Brasil em território estrangeiro é crime de lesa-pátria, digno de covardes.”
Senadores Eliziane Gama (PSD-MA) e Alessandro Vieira (MDB-SE) classificaram a decisão como “agressão sem precedentes” e “ataque à Constituição”.
Fabiano Contarato (PT-ES) apontou motivação política, em alusão ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro: “O Brasil não cederá a chantagens. Patriota de verdade não se ajoelha para bandeira estrangeira.”
Jaques Wagner (PT-BA) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) responsabilizaram diretamente a família Bolsonaro pela articulação internacional que teria motivado a medida.
“O Brasil não será quintal do país de ninguém”, afirmou Wagner.
Oposição culpa Lula e vê isolamento internacional
A oposição apontou a política externa do governo como responsável pelo rompimento comercial. O líder da oposição, Rogério Marinho (PL-RN), criticou a postura do presidente Lula: “Lula trocou a diplomacia por ataques infantis. Agora tenta culpar Trump por suas falhas.”
Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Ciro Nogueira (PP-PI) reforçaram o discurso de que o Brasil estaria “alinhado a regimes autoritários”. Já Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ironizou:
“Se Lula não tem capacidade, que peça ao Alexandre de Moraes para devolver o passaporte ao Bolsonaro e ele resolve.”
Eduardo Girão (Novo-CE) disse que o Senado “é parte do problema” por não enfrentar “abusos do STF e do Executivo”, e Marcos Pontes (PL-SP) afirmou que a decisão dos EUA é reação a um governo que “tensionou” as relações com Washington.
Diplomacia como caminho, diz centro político
Senadores de centro e da base moderada defenderam a busca por diálogo técnico e diplomacia pragmática. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), avaliou a medida como “exagerada” e defendeu o multilateralismo:
“Esse componente político é frágil e não vai se sustentar.”
O presidente da CRE, Nelsinho Trad (PSD-MS), destacou a importância de manter os canais técnicos com os EUA e lembrou que os diálogos vêm desde o primeiro mandato de Trump:
“Parlamento e Executivo devem se movimentar com equilíbrio e sensatez.”
Eduardo Braga (MDB-AM) reforçou a necessidade de uma resposta firme, porém serena:
“Não há mais espaço para lógica de vencedores e vencidos em um mundo interligado.”
Lei da Reciprocidade entra no radar
Diante da ameaça, senadores lembraram a recente Lei da Reciprocidade, aprovada em abril. O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Renan Calheiros (MDB-AL), disse que o país agora tem base legal para reagir: “Soberania não se negocia.”
Tereza Cristina (PP-MS), relatora da lei, pediu equilíbrio: “Brasil e Estados Unidos têm longa parceria. Nossos povos não devem ser penalizados.”
Já o senador Izalci Lucas (PL-DF) se posicionou contra retaliação imediata: “Revidar não resolve. O caminho é o Itamaraty negociar.”
Cenário diplomático segue tenso
A tarifa deve entrar em vigor no dia 1º de agosto, conforme comunicado da Casa Branca. Enquanto o governo brasileiro ainda não oficializou uma resposta, o Senado já articula frentes diplomáticas, inclusive uma visita oficial ao Congresso dos EUA. A crise se soma a um cenário global de tensão comercial e embates políticos que colocam o Brasil no centro de disputas ideológicas e econômicas com repercussões reais na balança comercial.
Nota da CRE: "A Comissão de Relações Exteriores seguirá atuando com equilíbrio para manter canais abertos com todos os parceiros estratégicos, ao mesmo tempo em que contribui para a ampliação da rede brasileira de alianças e acordos internacionais."