Falta de oportunidades, preconceito etário e processos seletivos desgastantes contribuem para o desalento no país
O Brasil tem registrado queda na taxa de desemprego nos últimos meses, alcançando 6,6% em abril, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, os dados revelam que uma grande parcela da população ainda enfrenta dificuldades para se inserir no mercado de trabalho.
De acordo com o IBGE, 3,1 milhões de brasileiros estão em situação de desalento. Ou seja, são pessoas que gostariam de estar empregadas, mas desistiram de procurar trabalho por não acreditarem que conseguirão uma vaga.
O levantamento aponta que, dependendo do setor, ainda há grande dificuldade em disputar uma oportunidade, o que reforça a importância de iniciativas voltadas à recolocação profissional e à promoção de processos seletivos mais humanizados.
Falta de acolhimento afasta candidatos
A forma como as empresas conduzem seus processos seletivos impacta diretamente o ânimo de quem busca emprego, como mostra uma pesquisa do Infojobs. Segundo o levantamento, cerca de 80% dos profissionais relataram insegurança durante as entrevistas, causada pela postura dos recrutadores.
Entre os principais motivos citados estão:
• Postura intimidadora: quase metade dos entrevistados se sentem desconfortáveis com abordagens em que o recrutador demonstra superioridade ou faz julgamentos excessivos.
• Falta de atenção: cerca de 18,8% mencionaram que atitudes distraídas ou apressadas do recrutador comprometem o engajamento na conversa.
• Excesso de anotações: 13,9% dos candidatos interpretam anotações em demasia como sinal de desconfiança ou avaliação rigorosa, o que gera tensão.
• Perguntas inesperadas: 13,9% também apontaram que questionamentos fora do padrão parecem tentativas de desestabilizar emocionalmente o candidato.
Esses elementos indicam sinais de desalento que podem ser avaliados pela equipe de Recursos Humanos (RH), como o alto número de desistências, excesso de etapas no processo ou feedbacks negativos dos participantes.
Fatores que contribuem para o desalento
Diversas razões podem levar um profissional a perder a esperança de conquistar um emprego. A Sociedade Brasileira de Sociologia mapeou os principais fatores:
• Dificuldade em encontrar um trabalho adequado: muitos desistem ao perceber que as vagas disponíveis não se alinham às suas competências ou expectativas.
• Falta de experiência ou qualificação exigida: a ausência de preparo técnico ou vivência prática inviabiliza o acesso a cargos que demandam mais do que a realidade de grande parte dos candidatos oferece.
• Preconceito etário: candidatos muito jovens ou mais velhos enfrentam resistência, mesmo quando têm capacidade e disposição para contribuir.
• Escassez de vagas na região: em áreas menos desenvolvidas, a percepção de que não há oportunidades disponíveis desestimula a busca.
Caminhos para reverter o quadro
Apesar das dificuldades, há sinais de mudança no mercado de trabalho. A inclusão tem ganhado espaço nas discussões, tanto em relação à qualificação quanto a questões pessoais, como gênero, idade e origem.
Além disso, os benefícios oferecidos pelas empresas vêm se tornando um fator decisivo. Uma pesquisa da MIT Sloan Management Review Brasil mostrou que 70% dos profissionais consideram os benefícios fundamentais em relação a um emprego.
Para as empresas, identificar onde são aceitos benefícios como ticket de alimentação, vale-refeição ou vale-transporte, entre outros, pode ser um diferencial para o trabalhador. Isso contribui para maior motivação e ajuda a reduzir o número de pessoas desalentadas.
No cenário atual, é considerado essencial que o mercado valorize mais os profissionais. Ao mesmo tempo, as empresas precisam avançar na construção de processos seletivos mais justos, combatendo preconceitos e incentivando a retomada da confiança entre os candidatos.