Campo Grande 00:00:00 Quarta-feira, 02 de Julho de 2025


Geração Agora Terça-feira, 01 de Julho de 2025, 17:10 - A | A

Terça-feira, 01 de Julho de 2025, 17h:10 - A | A

Coluna Geração Agora

Ensino Médio Integral: quais são os diferenciais da política pública ofertada em 47,1% das escolas na rede pública do Mato Grosso do Sul

Por Alan Santana

Da coluna Geração Agora
Artigo de responsabilidade do autor

A educação integral bem-sucedida no estado reflete uma mudança que já impacta milhares de jovens em todo o Brasil por meio de uma escola que promove mais aprendizado, reduz desigualdades e fortalece trajetórias dentro e fora da sala de aula

Divulgação/EMI

ColunaGeraçãoAgora

..

Junho de 2025 – O Ensino Médio Integral (EMI) é uma das melhores políticas públicas em educação do Brasil, e o Mato Grosso do Sul tem avançado de forma consistente na expansão do formato. De acordo com levantamento do Instituto Sonho Grande, com base nos dados do Censo Escolar 2024, o percentual de alunos matriculados em tempo integral no estado cresceu de 7,2% em 2019 para 17,3% em 2024, um aumento de 10,1 pontos percentuais nos últimos cinco anos. No mesmo período, o percentual de escolas da rede pública que oferecem o modelo passou de 10,6% para 47,1%, representando um crescimento expressivo de 36,5 pontos percentuais.

Entre os estados que figuram na lista dos que mais têm avançado no EMI estão Pernambuco liderando o ranking com 71% de matrículas, seguido pelo Piauí com 57,7% dos alunos matriculados no formato, Ceará com 53,2%, Paraíba com 51,4%, Sergipe com 32,4% e Alagoas com 28,8%. Para este levantamento, foram consideradas como matrículas em tempo integral aquelas que atendem ao critério do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) — estudantes com carga horária semanal de 35 horas ou mais, somando aulas regulares e atividades complementares — e que estão em escolas que oferecem ao menos uma turma com jornada igual ou superior a 35 horas semanais.

Diante das dimensões e desafios continentais do Brasil, a política ainda não beneficia a todos os estudantes brasileiros, seja por questões orçamentárias ou estruturais, mas já alcança 21,7% dos alunos em todo o país, de acordo com os dados. O número representa quase o dobro de jovens no Ensino Médio Integral em comparação a 2019. Um progresso importante, principalmente em um momento decisivo para avaliar e discutir a expansão de políticas públicas com resultados impactantes para a sociedade. O novo Plano Nacional de Educação (PNE) está em tramitação no Congresso Nacional e norteará os objetivos, metas e estratégias que estados e municípios devem cumprir ao longo dos próximos 10 anos em todas as frentes educacionais.

O atual plano, que corresponde aos anos 2014 a 2024 e foi prorrogado até 31.12.2025, prevê, na meta 6 do documento, o mínimo de 25% das matrículas públicas em tempo integral e 50% das escolas com oferta de ensino de tempo integral. A nova diretriz inclui, entre outros tópicos, a expansão do ensino de tempo integral e a garantia de qualidade e da equidade na educação básica. Este é o momento de avaliar as evidências do modelo e discutir sobre como essa política pode chegar a todos os jovens brasileiros como uma ferramenta de transformação no país.

Para Iara Viana, Gerente de Políticas Públicas de Ensino Médio do Instituto Natura, a escola integral vai muito além da educação básica de qualidade, mas também inclui atividades que dialogam com os projetos de vida dos alunos. “O Ensino Médio Integral proporciona um repertório enriquecido de aprendizagens que promovem o desenvolvimento de competências técnicas e socioemocionais cruciais para o futuro. Seu diferencial estratégico reside na sinérgica integração entre a qualidade pedagógica, a infraestrutura adequada e a capacidade de gerar atratividade e pertinência. Tudo isso resulta na rápida percepção da diferença pelos jovens que, sentindo seus próprios saberes reconhecidos e valorizados, são impulsionados a assumir o protagonismo de suas trajetórias”, comenta Iara Viana.

Ao longo dos anos, pesquisadores e instituições têm avaliado diferentes modelos de educação em todo o Brasil e apresentado evidências sobre o impacto do Ensino Médio Integral. Os resultados são perceptíveis e ultrapassam a melhoria significativa do aprendizado dos jovens, incluindo empregabilidade, redução de desigualdades e efeitos positivos na segurança pública. Pesquisas conduzidas pelo Instituto Natura e seus parceiros destacam que o benefício socioeconômico da política é seis vezes maior que o custo.

Um dos primeiros efeitos é na permanência dos estudantes na escola, já que a redução da evasão escolar é essencial para resultados de aprendizagem e evolução. Escolas do Programa de Ensino Integral (PEI-SP) tiveram evasão 10,6 pontos percentuais menor do que escolas parciais. Já para os estudantes com atraso escolar, essa redução foi de 19,4 pontos percentuais.

Além de proporcionar o dobro do aprendizado em matemática, os jovens do EMI têm 16,5% mais participação no ENEM. Também apresentam notas mais altas em todas as áreas, com destaque de até +29 pontos na redação. Considerando o recorte racial no mesmo estudo, estudantes pretos, pardos e indígenas tiveram até +32 pontos, versus +20 pontos para brancos/amarelos. Além disso, a taxa de ingresso no ensino superior é 5,8% maior entre alunos do EMI (mesma amostra do ENEM).

Os resultados também repercutem na economia local. O acréscimo de 10% nas matrículas no Ensino Médio Integral gera, em média, um aumento médio de 3% nos empregos no setor formal do município, com impacto racial relevante: para estudantes pretos, pardos e indígenas, o efeito na geração de empregos é três vezes maior (4,5%) em comparação aos estudantes brancos e amarelos (1,5%). Em estados como o Ceará, o impacto da ampliação de matrículas EMI é ainda mais elevado, com uma expansão de até 9,8% nas admissões formais.

Além disso, estima-se que o valor da remuneração recebida ao longo de toda a vida produtiva de um jovem estudante que tenha acesso ao EMI será R$ 64 mil a mais em relação ao que ele receberia caso não tivesse acesso à educação integral.

Em termos de equidade racial, os estudos mostram que o Ensino Médio Integral elimina a diferença salarial entre egressos negros e brancos (diferença de 13%). Em relação à equidade de gênero, a cada mil jovens no EMI, há 114 adolescentes grávidas a menos, mais 737 mulheres no ensino superior e mais 529 mulheres empregadas.

Os benefícios refletem, inclusive, em indicadores sociais como a segurança pública. No estado de Pernambuco, o EMI reduziu até 50% os homicídios de jovens de 15 a 19 anos em cidades que têm divisa com outros estados. O impacto é de 30 a 40% a menos nas taxas de homicídios ao longo de 10 anos.

Ao avaliar questões nutricionais, pesquisas constataram que no Norte do país, houve redução de 12,6% em dias de internação por anemia e desnutrição em adolescentes de 15 a 17 anos, estudantes do modelo. Já em relação à saúde mental, o aumento de 10% na proporção de escolas EMI em um município reduz em 22,3% nas internações por transtornos de comportamento e 14,4% nas internações por abuso de substâncias psicoativas.

"As evidências confirmam: o Ensino Médio Integral é muito mais que uma política educacional; é uma força transformadora. Seu impacto comprovado vai muito além da trajetória individual do aluno, alcançando e fortalecendo todo o ecossistema ao redor – da família à comunidade e à sociedade em geral. Este é o momento estratégico para projetar o futuro, consolidar as conquistas dessa política e expandir urgentemente o modelo, garantindo que mais estudantes brasileiros tenham acesso a uma educação de qualidade que abra caminhos para oportunidades genuinamente equitativas." finaliza Iara Viana.

*Fonte: Censo Escolar (rede estadual) - escolas com oferta presencial de ensino médio.
*Critério: Consideram-se, em tempo integral, as matrículas em jornada integral no critério INEP somente em escolas com ao menos uma turma com carga horária semanal igual ou superior a 35h.

Sobre o Instituto Natura
Criado em 2010, o Instituto Natura almeja transformar a educação pública, garantindo uma aprendizagem de qualidade para todas as crianças e jovens nos seis países da América Latina em que está presente (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru). Também como forma de atuação, se dedica ao desenvolvimento educacional das Consultoras de Beleza Natura e Avon e trabalha em conjunto com inúmeros parceiros no poder público, no terceiro setor e na sociedade civil. Desde 2024, o instituto ampliou sua atuação para a defesa dos direitos fundamentais das mulheres, desenvolvendo iniciativas voltadas ao cuidado com a saúde das mamas e ao fio da violência contra as mulheres por meio do apoio da Avon, que historicamente tem sido uma parceira comprometida e continua apoiando as ações do Instituto Natura nessa causa.

Comente esta notícia


Reportagem Especial LEIA MAIS