Com a colheita da soja e do milho verão encerrada, os produtores rurais do Mato Grosso do Sul têm voltado suas atenções para o cultivo de grãos de inverno. Em 2024, foram cerca de 150 mil hectares plantados com trigo, aveia, cevada e culturas de cobertura, um aumento de 12% em relação ao ano anterior, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para 2025, a expectativa é de que a área alcance 180 mil hectares, impulsionada pela adoção de práticas mais sustentáveis e pela valorização dessas culturas no mercado.
Trigo lidera o crescimento com foco em tecnologia e mercado
Com 95 mil hectares cultivados, o trigo lidera entre as culturas de inverno no estado. De acordo com a Famasul e a Fundação MS, a produtividade média em 2024 foi de 2.600 kg/ha. Regiões como Dourados, Maracaju, Ponta Porã e Sidrolândia se destacam pelo bom desempenho na produção, graças à utilização de sementes certificadas, rotação de culturas e controle eficiente de doenças como giberela e oídio.
A rentabilidade também chama atenção. Em maio de 2025, a saca do trigo de alta qualidade foi comercializada entre R$ 82 e R$ 88, com custo médio de produção variando de R$ 3.800 a R$ 4.200 por hectare. Parte da produção já conta com contratos junto a moinhos do interior paulista e paranaense, com pagamento de bônus para lotes que atendem critérios de qualidade industrial.
Aveia e cevada: opção estratégica e rentável
A aveia, com cerca de 40 mil hectares cultivados, é utilizada tanto para fins comerciais quanto para cobertura de solo e pastejo. A versatilidade e o baixo custo de produção — entre R$ 2.500 e R$ 3.200/ha — tornam a cultura uma alternativa viável, especialmente para pequenos e médios produtores. A produtividade gira em torno de 2.000 a 2.400 kg/ha.
Já a cevada malteira, voltada à indústria cervejeira, foi cultivada em aproximadamente 6 mil hectares. A Fundação MS estima produtividade média de 2.800 kg/ha, com possibilidade de comercialização acima de R$ 100 por saca, desde que os padrões das maltarias sejam atendidos. A cultura exige maior atenção ao manejo fitossanitário, mas oferece retorno atrativo.
Culturas de cobertura e ILP promovem ganhos ao solo e à pecuária
Além dos grãos comerciais, muitas áreas vêm sendo destinadas a culturas de cobertura como milheto, nabo forrageiro, crotalária e mix de plantas. Essas espécies contribuem para o aumento da matéria orgânica, melhoram a estrutura do solo, controlam nematoides e reduzem a necessidade de adubação para as culturas de verão.
O sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) também avança no estado, principalmente nas regiões sul e centro-oeste. O uso de espécies como aveia e azevém como pastagem de inverno ajuda a manter o gado no campo com custo reduzido, melhora o ganho de peso e evita que a terra fique ociosa durante a entressafra.
Orientações técnicas e planejamento para 2025
Especialistas recomendam aos produtores que desejam investir nas culturas de inverno:
Escolher cultivares adequadas à região e resistentes às principais doenças;
Realizar análise de solo e corrigir a acidez com calcário, se necessário;
Manter cobertura vegetal para conter plantas daninhas e preservar a umidade;
Buscar apoio técnico de cooperativas, sindicatos ou consultorias para planejamento e acesso ao crédito rural.
Perspectivas positivas impulsionam expansão
Com assistência técnica qualificada, políticas de incentivo e demanda crescente por grãos de inverno, o setor vê com otimismo os próximos anos. A Aprosoja-MS projeta que, até 2026, o Mato Grosso do Sul pode alcançar 250 mil hectares cultivados no inverno, consolidando-se como referência em sistemas agrícolas sustentáveis no Cerrado brasileiro.