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Preciso te contar uma história Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2025, 13:32 - A | A

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Coluna Preciso te contar uma história

Ainda É Noite Feliz

Por Bruno Andrade

Da coluna Preciso te contar uma história
Artigo de responsabilidade do autor

Quando o mundo está quebrado, o Natal de Cristo faz mais sentido do que nunca

IA, prompt por Bruno Andrade

ColunaPrecisoTeContarUmaHistoria

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O ano era 1816 e o mundo tentava reaprender a viver. As Guerras Napoleônicas haviam terminado nos mapas, mas continuavam nos corpos, nas casas vazias e nos campos que já não produziam como antes. A Europa caminhava sobre escombros invisíveis: dívidas, fome, homens sem trabalho, famílias sem futuro. Era um tempo em que a palavra paz soava bonita, porém distante — como promessa que ainda não tinha endereço.

O frio chegou fora de hora, em um ano que ficaria conhecido como o Ano sem Verão. As colheitas falharam. O pão encareceu. A esperança virou artigo raro. Não havia redes sociais para compartilhar indignação, nem discursos motivacionais para anestesiar a dor. Havia apenas a vida real, dura, sem filtros.

E foi exatamente ali que alguém ousou escrever: Noite feliz. Noite de paz.

Não como quem descreve o mundo, mas como quem o enfrenta. Não como propaganda de um tempo bom, mas como confissão de fé num tempo ruim. Aquelas palavras não nasceram da abundância, mas da carência. Não brotaram do conforto, mas da necessidade urgente de crer que Deus ainda visitava gente cansada.

A melodia veio depois, simples, quase frágil. Nada de grandes corais ou instrumentos imponentes. Um violão, uma igreja pequena, um órgão quebrado. O cenário não ajudava — e talvez por isso mesmo a canção tenha ajudado tanta gente.

Dois séculos depois, o mundo mudou de roupa, mas não de alma.

Ainda convivemos com guerras, mas agora televisionadas. Com crises, que agora estão parceladas. Com fome, que agora parecem apenas estatística. No Brasil, a gente aprende cedo a sorrir no meio do aperto, a fazer piada da tragédia, a seguir em frente mesmo sem saber exatamente pra onde.

Também aqui o pão encarece. Também aqui o futuro às vezes parece curto.

Também aqui a paz costuma faltar. Talvez seja por isso que Noite Feliz continue fazendo sentido. Não porque descreva nossa realidade, mas porque aponta além dela. A canção não nega o mundo quebrado; ela anuncia que Deus entrou nele. Que o Salvador não escolheu palácios, mas uma manjedoura. Não esperou o caos passar para nascer — veio exatamente no meio dele.

Noite Feliz segue viva porque o mundo segue quebrado — e porque Cristo sempre se faz tão necessário.

Uma vela acesa no escuro. Uma prece sincera. E, às vezes, isso já é o suficiente para atravessar a noite.

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Bruno Andrade, em meio ao caos de criar os filhos ao pé da cruz de Cristo, escreve como quem acende pequenas luzes no escuro. Cristão, acredita que a fé não nega a noite — ajuda a atravessá-la.

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