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ENTREVISTA Sexta-feira, 04 de Dezembro de 2009, 14:00 - A | A

Sexta-feira, 04 de Dezembro de 2009, 14h:00 - A | A

Em visita ao Capital News, Valter Pereira fala sobre concorrência pelo Senado e atual momento do PMDB

Marcelo Eduardo - Redação Capital News

No dia em que comemora 66 anos de vida, quinta-feira, 3 de novembro, o senador Valter Pereira (PMDB) visita a sede do Capital News e fala sobre as prévias dentro do partido para a disputa ao Senado no ano que vem, inclusive expõe sua opinião sobre as supostas intervenções internas dentro do partido para que os prefeitos Nelson Trad Filho (da Capital) e Simone Tebet (de Três Lagoas) possam disputar uma vaga ao Senado em 2010.

O parlamentar conversa ainda sobre as eleições presidenciais, sobre sua ótica a respeito do PMDB atual (em níveis nacional e estadual) e faz um resumo da atuação dentro do Senado.

A entrevista, em tom de bate-papo, é interrompida algumas vezes, por ligações de felicitações pela data recebidas ao celular.

Valter começou na política no antigo MDB – que se contrapunha ao regime militar que dominava o País décadas atrás. Foi vereador, deputado estadual e federal.

Em 1988, ajudou a formular a Constituição Brasileira, no Congresso Nacional.

Em 2002, com a morte do então senador Ramez Tebet, Valter assume o atual cargo que ocupa, por ser o primeiro suplente do três-lagoense.

Confira a conversa:

Capital News: Como estão as viagens e as conversas em torno da sua candidatura a ser o nome do partido em 2010 para disputar o Senado?


Valter Pereira: Minha estratégia está muito bem definida quanto ao resultado que eu busco. Na verdade, eu preciso ter, em primeiro lugar, o apoio da militância. Porque, como a escolha vai ser feita pelo militante, ou seja, por aquele que tem seis meses de filiação, é preciso que eu tenha esse eleitor para respaldar minha candidatura. Não adianta nada eu sair fazendo acordos políticos agora, se eu não tenho, e não sei se eu vou ter o respaldo dele. Eu só posso fazer acordos no momento em que eu virar candidato. Não adianta nada eu exibir apoio de outros partidos, de parlamentares se eu ainda não tenho consolidada a minha candidatura. Então, vou fazer o trabalho que eu me propus a fazer que é de visitar os filiados no interior e, no caso de Campo grande e de Dourados, visitar os militantes que estão espalhados pela cidade.

Capital News: Como estão as questões quanto às prévias, a concorrência com o deputado federal Waldemir Moka?


Valter Pereira:
A eleição prévia é um momento quase que inusitado para o partido, já que o filiado assina sua ficha de inscrição partidária e, a partir daí, ele não tem mais contato com o partido. Essa, aliás, tem sido uma das indagações que eu tenho feito. O militante não tem recebido o calor que a cúpula deve lhe dar. Aqui, em Campo Grande, temos quase dez mil filiados e há uma distancia muito grande entre o filiado e a cúpula. E este momento é o que estamos trazendo de volta o filiado. Então, ele vem ainda meio desconfiado, meio descrente quanto ao que vai acontecer. É uma reconquista.

Capital News: Nesta semana, deputados estaduais peemedebistas conversaram e chegaram a uma decisão de tentar indicar um parlamentar da Assembleia como vice de André na disputa pelo governo no ano que vem. Como o senhor avalia esta questão?

Valter Pereira: Eu encaro isso com muita naturalidade. A Assembleia vai assim agindo como corporação. Não é a primeira vez que acontece isso. Já aconteceram outras ocasiões em que deputados procuraram influir decisivamente no processo. E acho que é natural esse gesto dos deputados. Não conheço a extensão a que chegou esta manifestação, mas, de qualquer forma reflete o espírito de uma corporação que se cristalizou.

[Mais adiante, complementa]: Eles podem fazer o candidato Valter Pereira e o candidato Waldemir Moka a desistir e o partido depois indicar o candidato A ou o candidato B. Isso eles podem. Mas, vai depender da vontade de quem esta na disputa. Porque tem que ter regrar para tudo.

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"O militante não tem recebido o calor que a cúpula deve lhe dar"
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: Retomando ao Senado... o senhor chegou a dizer que abandonaria o cenário político caso não conseguisse vitória nas prévias. Disse também que não entrou para perder. Mas, caso isso ocorra, realmente pensa em deixar o cenário político?

Valter Pereira: Eu não diria sair do cenário político, mas eu não disputaria outra eleição. Não disputo outro cargo. Isso é uma decisão já tomada.

Capital News: Por que essa vontade de continuar senador?

Valter Pereira: Existem muitos projetos que começaram e que devem ter prosseguimento. Alguns já até conseguimos resultados importantes. Por exemplo, eu assumi a presidência da Comissão de Constituição e Justiça em caráter interino porque eu era vice presidente ACM [Antonio Carlos Magalhães] ficou doente. A primeira coisa que eu fiz, foi tirar da gaveta o projeto que recriava a Sudeco. Hoje, isso é lei. Já foi recriada a Sudeco. Foi criado o Banco de Desenvolvimento do Centro-Oeste. E são ferramentas importantes para alavancar o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul e de toda a região. Da mesma forma que eu tenho esta contribuição, decisiva para toda a região, nós temos outros projetos de grande envergadura que precisam de aprovação.

Eu acho que o político tem que aproveitar o momento que está favorável a ele para viabilizar projetos importantes para o Estado. E veja como está a situação agora, eu, com pouco tempo de Senado, fui eleito vice-presidente da CCJ, vencido o mandato da CCJ, fui eleito presidente da Comissão de Agricultura. E, para o ano que vem, eu devo assumir a relatoria geral do Orçamento da União. Então, você vê, é um momento de ascensão que eu estou tendo no cenário nacional que pode acarretar grandes resultados para Mato grosso do Sul e para a região. Então, não posso desprezar esse momento, ou seja, você interromper uma evolução dessa, não é de bom alvitre parar o próprio Estado.

Capital News: Agora, sobre política nacional. O senhor como senador, deve ter um trânsito grande em Brasília e saber dos bastidores. Como o senhor avalia a junção PMDB e PT em âmbito nacional?

Valter Pereira:
O que existe de concreto hoje é que o PMDB faz parte da base aliada do presidente Lula. A partir do momento em que ele dá o suporte necessário e a governabilidade para o presidente, é claro que cresce essa relação entre os dois partidos e leva a este tipo de discussão. No entanto, a cúpula do PMDB nacional não pode deixar de levar em conta que o partido não está circunscrito a Brasília. Está sim, pelo Brasil inteiro. Portanto, é preciso levar em consideração que o PMDB de Mato Grosso do Sul tem um posicionamento. O PMDB de Santa Catarina pensa de forma diferente de nós. O PMDB de Pernambuco também tem a sua própria identidade. São Paulo tem aspirações que são diferentes dos demais diretórios.

Então, existe, na verdade, uma heterogeneidade muito grande na família peemedebista espalhada pelo Brasil. E isso precisa ser levado em conta. E é por isso, que a cúpula precisa ter um link maior com a base. A cúpula, neste caso, o comando nacional do PMDB e a base somos nós, os diretórios estaduais.

Capital News: Então, realmente, seria impossível essa junção aqui no Estado?


Valter Pereira: Eu acho que o PMDB aqui no Estado tem outros parceiros com os quais tem conseguido grandes resultados e isso o afasta do PT.

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Senador conversou sobre seu desejo de continuar no Congresso Nacional durrante "momento de ascensão"
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: E sobre a pré-candidatura do governador do Paraná, Roberto Requião, à Presidência da República pelo PMDB... como o senhor encara isso?

Valter Pereira: Eu acho que o PMDB como é um partido político precisa ter aspiração pelo poder. O partido só realiza as suas propostas, seus projetos, se tem apetite político, se conquista cargos executivos. Senão, as suas propostas acabam se diluindo no discurso. Sou favorável ao lançamento de candidatura própria.

Capital News: Não necessariamente do Requião?

Valter Pereira: Não necessariamente do Requião. Uma candidatura presidencial tem que ser precedida de muitas tratativas. Tem que sintetizar as diferentes aspirações que o partido tem pelo País afora. De sorte que é muito difícil construir uma candidatura presidencial a um ano da eleição. Então, o PMDB negligenciou com a sua relação com a base e com um projeto para o Brasil.

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"Na minha avaliação, é muito estranho que o partido venha a discutir uma vaga de um senador que não deu nenhum motivo para ser substituído"
Foto: Deurico/Capital News

 

Capital News: O senhor, como membro da Comissão de Agricultura no Senado, o que pensa sobre a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra)?

Valter Pereira:
Acho que toda CPI nesse período que nós estamos atravessando, está condenada a dar em nada. Por quê? Hoje, as matérias mais pacificas que tramitam no Congresso estão encontrando dificuldade de quorum para serem votadas. Se a atividade ordinária do Senado está sendo prejudicada pelo momento eleitoral, imagine uma CPI, que precisa da presença de parlamentares e de autoridades que serão convocadas para prestar depoimento. Então, o momento é muito inoportuno.

Eu acho até que, essa relação que o MST trava com o poder público precisa ser avaliada. O único problema é esse momento que estamos vivendo.

Capital News: Retomando a questão do Senado, sobre os possíveis nomes que ainda se especulam – o do prefeito Nelsinho Trad (de Campo Grande) e da prefeita Simone Tebet (de Três Lagoas) –, o senhor acredita que exista alguma possibilidade de, mesmo sem estarem inscritos nas prévias, um deles possa ser indicado? Caso isso ocorra, o senhor pode acessar a Justiça para tentar impedir isso?


Valter Pereira: Acho que o PMDB não chega a esse ponto porque tem interesse de que as regras do jogo sejam respeitadas. E elas foram discutidas e aprovadas pelo Diretório Estadual.

Portanto, o que precisa ficar claro, é que a opção da previa, não é por uma ação informal, é um dos mecanismos que existe no estatuto do partido para escolha de candidato.

Lá, no estatuto está muito claro o seguinte: o PMDB poderá valer-se de dois caminhos para escolher o seu candidato para a eleição majoritária. O primeiro deles é a convenção e o segundo é a prévia.

A escolha pelos delegados, resulta da consulta a um colegiado de 240 pessoas. Já a escolha pela prévia, alcança um universo de, formalmente, quase 40 mil. Mas, descontando aí, os que se desfiliaram e não têm registro, os que viajaram, os que partiram para uma melhor, eu acredito que o partido tem cerca de uns 20 ou 25 mil filiados.

Então, qual é o universo que dá mais respaldo e legitimidade? Aquele de 240 ou aquele que tem milhares de filiados?

Já é uma pesquisa. Aí, vai exprimir quem é que o partido quer. Porque o partido somos todos nós. É o senador, os deputados federais, os deputados estaduais, os prefeitos, os vereadores, os secretários, os filiados, os diretorianos.

Se o partido, em seu colegiado mais expressivo, se posicionar em favor deste ou daquele candidato, não há questionamento. E é por isso que o estatuto diz o seguinte: quando se faz a opção pela opção prévia, o nome do escolhido vai para a convenção, porém, para ser homologado.

[Mais a frente, o senador acrescenta]: O resto é especulação. Só tem uma hipótese, por exemplo: se eu ou o Moka renunciarmos, o partido vai ter que rever se quer uma outra prévia ou se vai ser convenção.

O governador é um dos dirigentes. Só que quem vai decidir é o colegiado. Mas, por enquanto, Eu hoje viajei com o Moka e ele me disse que não está com nenhum pouco de disposição e muito menos eu.

Na minha avaliação, é muito estranho que o partido venha a discutir uma vaga de um senador que não deu nenhum motivo para ser substituído. Isso é muito estranho. Mas, faz parte do jogo.

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"O militante não tem recebido o calor que a cúpula deve lhe dar"
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: Por favor, explique a nossos leitores um pouco do trabalho de um senador e de suas atuações.

Valter Pereira: Ainda agora, concluir um trabalho de suma importância não só para Mato Grosso do Sul, mas para o Brasil. Eu fui sub-relator, um dos sub-relatores, do anteprojeto do novo Códgio de Processo Penal, que traz algumas inovações importantes que começam a ser discutidas agora no Senado.

Eu sou relator, de duas PECs (Propostas de Emendas Constitucionais) que dispõem sobre a questão indígena.; uma que transfere par o Senado Federal a competência para homologar novas reservas e a expansão das antigas. E outra que prevê a indenização da área que foi expropriada para se criar uma nova terra. Obviamente, ambas têm para Mato Grosso do Sul e vários outros Estados, uma significação muito grande. Porque pode acabar com o contencioso que existe entre índios e não-índios. Matéria extremamente polêmica, que já teve três ou quatro relatores. É um trabalho que já atravessou diferentes legislaturas. Eu acredito que a gente consiga ainda nesta legislatura. Acho que evoluiu muito.

A minha estratégia parar viabilizar é negociar. Então, tenho conversado, tenho feito concessões.

Outra coisa, os Municípios endividados tiveram em mim um dos principais defensores no Senado Federal. Outra, com relação à dívida da Previdência, que é vultosa; a renegociação passou por um relatório que foi produzido por mim.

Enfim, estou dentro de um processo de grande produção.

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"Não disputo outro cargo. Isso é uma decisão já tomada"
Foto: Deurico/Capital News

Por: Marcelo Eduardo – (www.capitalnews.com.br)

 


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Foto: Deurico/Capital News




 

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