Campo Grande Quarta-feira, 22 de Maio de 2024



Cotidiano Terça-feira, 10 de Novembro de 2009, 13:21 - A | A

Terça-feira, 10 de Novembro de 2009, 13h:21 - A | A

Beira-Mar: promotoria mostra vídeo e fala sobre ligações a advogados criminalistas como provas

Marcelo Eduardo e Jefferson Gonçalves - Redação Capital News

Três promotores fazem a acusação no julgamento do narcotraficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, realizado nesta terça-feira, 10 de novembro, no Fórum da Capital. Vídeos de reportagens da imprensa nacional e registro de ligações para advogados criminais são algumas das provas apresentadas pela promotoria.

Cada um fez sua apresentação sozinho. Antes de começarem a discursar apresentaram vídeo da matéria veiculada no programa Domingo Espetacular, da Rede Record de Televisão, em que Beira-Mar é entrevistado dentro de sua cela no presídio federal de Campo Grande.

Antes da apresentação do vídeo, os defensores solicitaram aparte para que possam explicar os equívocos presentes, segundo eles. O juiz Carlos Alberto Garcete Almeida aceitou o pedido. Os advogados devem fazê-lo após o recesso do almoço.

Acusação

A promotoria está representada pelos promotores Luciana Rabello, Bianca Barros e Paulo Passos, que se apresentaram aos jurados e ao plenário nesta ordem.

Do vídeo, os promotores enfatizaram algumas partes, dentre elas: trecho em que Beira-Mar diz que “o doutor Odilon [de Oliveira, juiz federal de Mato Grosso do Sul] está com a caneta pesada”; e a parte em que o juiz Odilon responde ao repórter sobre as chances de Beira-Mar comandar o tráfico no Rio de Janeiro ainda, Odilon diz que “a lei permite que o preso tenha contato com o advogado, que acaba servindo como pombo correio”.

Depoimentos

Além disso, os promotores citaram mais exemplos do que, para eles, são provas inequívocas de que Beira-Mar é o mandante da morte de João Morel.

Eles citaram cinco depoimentos de Ivanésio de Souza, preso que teria feito a vigilância na cela de Morel durante o assassinato. Os depoimentos foram em março, abril, 3 de maio, 11 de maio e setembro de 2001.

Conforme a promotoria, no primeiro depoimento, ele negou, nos demais (sendo que, no último, com detalhes) afirmou que Beira-Mar foi quem orquestrou a execução.

Antes de Morel ser morto, seis pessoas ligadas diretamente a ele (sendo duas seus filhos) foram executadas por pistoleiros em Capitan Bado, cidade Paraguai fronteiriça ao Brasil.

Além disso, os acusadores falaram sobre ligações presentes nas memórias de alguns dos diversos celulares apreendidos após pente-fino feito pela Polícia no estabelecimento penal após o assassinato de Morel.

Em um dos aparelhos fora encontrados registros de ligações para o tio de Odair Moreira da Silva (conhecido como Marreta), que assumiu a autoria dos golpes que mataram Morel – está inclusive preso por essa condenação.

Nas conversas que teriam sido feitas com o tio de Odair, era pedido dinheiro para livrá-lo da prisão, através de pagamento de advogados.

Nas ligações, constariam também ligações para quatro advogados criminais. Uma advogada, inclusive, segundo a promotoria, teria saído de Dourados rumo à Capital pouco tempo antes do crime.

O crime foi cometido entre 8h20 e 8h40, conforme a promotoria, às 9h já haviam registro de ligações, ou seja, afirmam que tratava-se de ligações a respeito do assassinato.

Rixa

A rixa entre os dois traficantes teria nascido de um depoimento de João Morel durante a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Narcotráfico, deflagradas em 2001, época em que fora preso.

Morel teria delatado Jaime Anato, braço direito de Beira-Mar em seus crimes. Não foi dado detalhes de como Beira-Mar ficou sabendo da conversa.

Beira-Mar, conforme a promotoria, teria então entrado em contato com Odair e mandado ele matar Morel.

Segundo a promotoria, em um dos telefonemas que fez a Odair, Beira-Mar teria dito: “Então você faz isso [matar Morel, segundo a promotoria] e eu te dou um presente. Pega a língua dele e prega na testa porque ele ‘tá’ me prejudicando muito [referindo-se à delação feita à CPI, ainda de acordo com a promotoria].”

Conforme o promotor Paulo Passos, nem o fato de ambos serem íntimos – já que teria sido Morel quem abrira as portas a Beira-Mar para o tráfico no Paraguai e Bolívia – teria feito ele desistir da execução.

Clique na imagem para acessar a galeria

São 116 pessoas assistindo ao julgamento no plenário
Foto: Jefferson Gonçalves/Capital News

Crime

Conforme a promotoria, o preso Ivanésio de Souza disse que, na cela 38, João Morel estava de costas para a porta e fervendo água e foi pego de surpresa. Ele foi virado de frente para a entrada da cela e tão logo o detento Marcos Rogério Lima efetuou o primeiro golpe.

Agonizando, Morel teria dito, segundo Ivanésio: “Eu não mereço isso. Foram meus filhos que fizeram isso.” Outro preso teria retrucado: “Não merece o ‘caguete’.”

Então, Morel foi vítima de onze golpes de chuço (tipo de faca artesanal), teve o pescoço pisoteado e a garganta cortada.

Como a perícia, segundo a promotoria, não encontrou marcas de sangue na cama e nem na solas dos pés de Morel, acredita-se que não tenha havido luta corporal e nem tentativa de fuga da vítima, o que daria a entender que houve vários autores.

Conforme a promotoria, Odair, receberia R$ 60 mil em dinheiro pela execução e Welverson Lopes (outro preso envolvido no crime), R$ 20 mil em armas.

Desde 2001, três pessoas que atuaram diretamente no crime foram assassinadas: José Ivanilson (o James, ou Trinta e Sete), Luiz Marcos da Silva Santos (o Francês) e Welverson Lopes. Luiz Carlos da Silva está foragido e Marcos Rogério Lima e Marcos Sérgio de Souza aguardam julgamento.

Por: Marcelo Eduardo e Jefferson Gonçalves – (www.capitalnews.com.br)

 

 Veja também:

   Baira-Mar: júri condena traficante à 15 anos de reclusão

   Beira-Mar: júri começa votação

   Beira-Mar: acusação trata defesa de advogados com irônia

   Beira-Mar: defesa diz que provas como vídeos e ligações telefônicas são inconsistentes

   Beira-Mar diz que presídio federal é "casa de criação de louco"

   Beira-Mar: várias testemunhas foram assassinadas

   Beira-Mar diz que é perseguido pela imprensa e nega ter matado Morel

   Beira-Mar: segurança do júri é feita por 250 policiais

   Beira-Mar: começa julgamento com réu de colete e algemas

   Defesa acredita que julgamento de Baira-Mar pode ser ifícil caso júri leve em consideração antecedentes

   Beira-Mar: defesa diz que não existe prova de que réu tenha mandado matar Morel

   Enquanto Beira-Mar é julgadona Capital, advogados tentam no STJ fazer com que ele volte ao Rio

   Beira-Mar: 70 vagas para assistir ao júri foram destinadas à OAB

   Beira-Mar já está no Fórum da Capital

   Fórum recebe segurança reforçada para júri de Beira-Mar

 

   STJ nega pedido de suspensão de julgamento de Fernandinho Beira-Mar

   Julgamento de Fernandinho Beira-Mar deve mobilizar Força Nacional e Polícias Federal e Militar

   Imprensa deve se credenciar para julgamento do traficante Fernandinho Beira-Mar

   Preso em MS, Beira-Mar teria comandado ataques no RJ

   Beira Mar acompanhará júri em julgamento na Capital

Comente esta notícia


Reportagem Especial LEIA MAIS