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ENTREVISTA Quarta-feira, 27 de Julho de 2011, 08:00 - A | A

Quarta-feira, 27 de Julho de 2011, 08h:00 - A | A

Eleições na Acrissul 2011: Entrevista com Francisco Maia

Wendell Reis - Capital News (www.capitalnews.com.br)

As vésperas da eleição para a presidência da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), que acontece no próximo dia 8 de agosto, o Capital News foi conhecer as propostas dos dois candidatos ao cargo: Francisco Maia e José Lemos Monteiro.

A Acrissul foi criada no dia 15 de janeiro de 1931 pelo Tenente César Bacchi de Araújo. Porém, a primeira feira foi realizada no dia 26 de agosto de 1933, com exposição de bebidas de Corumbá, artefatos de couro, redes e artesanatos de Cuiabá, Campo Grande e Três Lagoas. Da criação para os dias de hoje, a Acrissul passou por diversas mudanças e além da importância por representar o setor pecuário, que movimenta a economia do Estado, destaca-se pelo Parque de Exposições Laucídio Coelho, considerado o mais antigo de Campo Grande.

Nos últimos meses, o Parque foi proibido de realizar os tradicionais shows, criando uma polêmica no município, que ficou sem o local mais utilizado para a realização de eventos. Assim, a manutenção e destino do Parque é um dos temas de grande interesse e que será levado em conta na escolha do novo presidente da instituição.

Os dois candidatos responderam as mesmas perguntas, sendo questionados sobre temas importantes como o Fundersul, problemas com licenciamentos do Parque de Exposições Laucídio Coelho e propostas para os dois anos de mandato a frente da instituição.

Capital News: Nós gostaríamos que o senhor falasse sobre a sua experiência profissional e como ela pode contribuir para o mandato na presidência da Acrissul.

Francisco Maia: Sou produtor rural. Sou de família de produtores rurais. Não fiz outra coisa na vida a não ser como produtor rural. Eu conheço o dia a dia, lutas e dificuldades na vida do homem do campo. Como empresário no setor de comunicação, tenho um pouco de conhecimento em marketing e acho que estas coisas ajudam de uma forma geral. Mas, acredito que em nenhuma profissão, para ser bom, tem que ser formado em alguma coisa. Acho que o que manda é o bom senso e comprometimento de quem se propõe a defender uma entidade. Por isso, acho que a nossa diretoria tem as melhores intenções. É comprometida com o produtor rural e tem independência.

Capital News: O que o senhor acredita que pode fazer para melhorar o setor. Qual a medida mais urgente a ser tomada daqui para frente?

Francisco Maia: A nossa administração tem cerca de 90% de aprovação entre os associados. Acho que isso demonstra o grau de satisfação da nossa associação com relação a nossa gestão. Significa que estamos no caminho certo ou não teria este nível de aprovação. Agora, o fazendeiro, pela sua própria atividade, que é um homem que vive na fazenda e não tão agrupado, precisa se agrupar mais e participar mais. Mas, isso é uma coisa cultural, que pouco a pouco a gente vem trabalhando. O agronegócio é muito forte. Nós somos o segmento que mais emprega no país, que mais gera empregos e divisa. Se for pegar toda a sua cadeia, é a maior força da economia brasileira. E são várias coisas divididas: tem o produtor, indústria... É uma cadeia muito ampla. Quando o produtor rural se conscientizar, assim como os trabalhadores brasileiros, através dos seus sindicatos... que eles participem mais, nós certamente teremos muito mais força. Acho que o grande problema hoje é a falta de mobilização dos produtores nas suas entidades. Mas, isso é um processo que vai amadurecendo. Não depende muito ou só de quem preside a entidade, mas daqueles que se dispõe a participar.

Capital News: Uma das polêmicas que envolvem o agronegócio no momento é o Fundersul. O senhor é contra ou a favor?

Francisco Maia: Sou contra. Primeiro que a gente tem provas... Está vendo o que está acontecendo no Dnit? O partido que lidera o Dnit é o que cuida do Fundersul aqui no Estado. A administração do Fundersul deveria ser mais transparente e participativa. Os associados deveriam, através de seus sindicatos e associações, opinar mais e serem ouvidos. Quais as estradas? Quais as pontes onde deveriam ser aplicados nossos recursos? Como membro do conselho que participa do fundo posso dizer que nunca se reunimos para tanto. É um fundo como se a nossa função fosse apenas contribuir. Claro que alguma coisa é feita. Mas, também é injusto, porque o comerciante não paga. As pessoas que cruzam o país com mercadoria, de um lado para o outro, não pagam. Só quem paga é o produtor. Uma estrada que todos usam e só um paga. Dinheiro na mão do produtor é melhor do que na mão do Estado. Votei contra a última prestação de contas porque não é transparente. Ela não é participativa, não diz os critérios onde foram e porque foram aplicados os recursos. Já nos propusemos que ouvissem melhor os seus sindicatos. Este imposto também é indevido porque depois que se criaram eles, se criou imposto que todos nós brasileiros pagamos na gasolina, que é bitributação. Quando acabarem as eleições, caso nossa chapa seja vitoriosa, vamos convocar uma assembleia na Acrissul para discutir este assunto, assim como fizemos com o Funrural. Fizemos uma assembleia, discutimos, entramos na justiça e ganhamos. E nós vamos, através desta assembleia, saber o que é o melhor caminho. O que o produtor acha? Entra no Supremo [Tribunal Federal] para acabar? Se esta for a decisão nós vamos entrar com algum tipo de ação para que possamos participar mais. Discutir com o governo a regionalização destes recursos. Acredito que seja qual for a medida adotada, vamos ouvir o produtor para não ser uma decisão que seja tida como política ou do presidente da Acrissul. O que os associados decidirem nós vamos seguir. Mas, eu, pessoalmente, tenho que este fundo deveria ser extinto.

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.Candidato se diz contra o Fundersul.
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: O Estado tem um dos maiores rebanhos do Brasil e a carne chega bem cara para o consumidor. Como mudar isso? Como a Acrissul pode ajudar a economia de Mato Grosso do Sul, atendendo os anseios da sua classe e o desejo de industrialização dos governantes?

Francisco Maia: Tudo é custo e produção. A carne chega a um ponto que o produtor soma todos os custos e da o preço da arroba. A margem do produtor na produção da carne é muito pequena. Aí tem que ver a cadeia da indústria, que já foge de nós. Entregamos uma arroba a R$ 90. O frigorífico processa e as grandes redes colocam no mercado. Então, foge do produtor esta questão do preço da carne. Nós produzimos o que produzimos e recebemos por uma margem muito pequena do nosso custo de produção. O preço da carne não é discutido regionalmente. O que determina é uma fórmula nacional, de mercado. Enquanto eu tiver vendendo e você comprando, as coisas estão indo. Se tivesse que remunerar o produtor pelo justo valor da carne, nós teríamos que vender a carne por um valor mais alto. Mas, o preço da carne não é uma coisa que depende só do produtor. Ele com certeza é o menos remunerado nesta cadeia. Se a Acrissul pudesse puxar alguma coisa seria para o boi ser vendido mais caro, porque defendo o interesse dos produtores. É a mesma coisa de chegar no sindicato rural e levantar que a mão de obra seja mais barata. Mas, espero que a carne chegue em um preço justo, porque o mercado interno é importante para nós. Quanto mais consumidores melhor.

Capital News: A Acrissul enfrentou problemas com a questão dos shows no Parque de Exposições Laucídio Coelho. Como fazer para resolver este problema com licenciamentos. É possível fazer os shows voltarem para o Parque?

Francisco Maia: Nós já entramos com o projeto de licenciamento ambiental. Este negócio de show é briga desnecessária por parte de outros segmentos com a Acrissul. É o melhor local de Campo Grande para fazer shows. Você nunca vê na mídia que depois de um grande show morreu alguém, teve um acidente de carro. Porque o Parque é bem localizado. Pensa se fosse perto de uma rodovia, com a moçada enchendo a cara. Veio o Luan Santana, mas deixou 5 mil mortos em acidentes. Quando for ver um local, tem que ver vários aspectos. Manda o show para o Morenão e detona o gramado. Acharam uma licença ambiental de última hora. Tira o show de lá por uma questão política, manda para a Área do Papa e causa problema com a comunidade de uma forma geral. A Acrissul é um local próprio para isso, com infraestrutura, estacionamento e com muitas empresas a noite. Não tem tanto incomodo. Então, é o melhor local que se tem para show. Não cabe a mim dizer. É uma decisão da prefeitura e do Ministério Público. É uma decisão política. Acho que é um crime e falta de sensibilidade tirar os shows da Acrissul, que é uma entidade que não tem fins lucrativos, como se fosse o salão de festas da cidade... E por causa de interesses empresariais ou outros, tirar dali. Como é que fica no Carnaval? Vão isolar a cidade? Porque é uma semana de barulho. Não incomoda a cidade? Natal, rojão? Não tem forma de se promover um desenvolvimento artístico que não se possa incomodar alguém. Só que em todas as decisões tem que ver a maioria. Tem que preservar os direitos individuais, mas tem que ver os interesses coletivos. Será que esta cidade, que é a capital da música sertaneja, não pode durante uma semana ter uma exposição que venda R$ 140 milhões, que tem o maior impacto na nossa economia, que aquela semana seja tida como uma semana onde esta questão de barulho possa ser contemplada. Lógico. É só ter bom senso. O que falta é bom senso.

Capital News: Para encerrar gostaríamos de saber as propostas do senhor para o mandato.

Francisco Maia: Primeiro, continuar procurando inspiração e disposição. Se tivermos as motivações e intenções que nos moveram até agora, continuaremos fazendo bons projetos. Temos dois projetos. Primeiro transformar o Parque em um grande shopping do agronegócio. Já temos 40% dos espaços com empresas interessadas em se instalar. Com isso, vamos criar uma cidade onde os fazendeiros se encontrem e comprem seus produtos, troquem informações e a gente possa realizar muitas coisas nesta dinâmica do agronegócio. É o nosso campo, onde tudo o que se procurar no agronegócio se encontra com fácil acesso. Este é um projeto que dará sustentabilidade financeira para o parque, que precisa disso. O parque não pode viver com uma exposição por ano. Tem que ter vida própria para a sua independência política. Ninguém tem independência política se não tiver independência financeira. Por isso que às vezes a Acrissul incomoda quem está no poder. Com a nossa administração ela se reencontrou como entidade que tem administração financeira e isso nos dá independência. Às vezes contrariamos politicamente os nossos poderes, mas a entidade tem que ser independente. O outro projeto é o parque tecnológico da pecuária sustentável junto com a Embrapa. Onde todos os experimentos, todos os bens científicos que a Embrapa desenvolve, a gente joga para o produtor em uma área como se fosse uma fazenda modelo. Já que temos aqui a principal fonte de conhecimento da pecuária nacional, que é a Embrapa, nós teremos neste parque a aplicação deste conhecimento, que será um parque nacional. Este parque da Embrapa, com a comunidade científica e universidades, será um novo parque nesta questão de parques, porque também poderemos fazer feiras dinâmicas em um espaço bem moderno e dentro das práticas de sustentabilidade. No mais, acho que cabe ao sócio da Acrissul, que frequenta a Acrissul e gosta, fazer uma análise de como era a Acrissul e como ficou. Procuramos dar o melhor de nós. Se achar que os nossos trabalhos foram bons, precisamos de uma oportunidade de mais dois anos, porque os primeiros foram só para pagar conta e mesmo assim tivemos uma dinâmica... E garantir que entregaremos uma nova Acrissul. Daqui a dois anos, a Acrissul vai viver um novo momento, uma nova Acrissul, com um parque novo, motivado e totalmente dinâmico e moderno. Sem, naturalmente, ligações com políticos de A, B ou C, que isso é tudo conversa fiada da oposição. O sócio é que sabe como foram os dez últimos anos da Acrissul e os dois últimos anos. Aí vai saber se deve fazer a opção entre o Chico Maia e o Zeito.

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.Chico quer transformar o Parque em um shopping.
Foto: Deurico/Capital News


Por Wendell Reis - Capital News (www.capitalnews.com.br)

 

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José Lemos MonteiroJosé Lemos Monteiro é produtor rural e já foi presidente do Sindicato Rural de Campo Grande. Caso seja eleito, ele pretende lutar pela aprovação do Código Florestal no Senado Federal, pela garantira do direito a propriedade do produtor rural e garantir cursos para melhorar o nível da mão de obra rural no Mato Grosso do Sul. 

 

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