Campo Grande Quinta-feira, 02 de Maio de 2024


Política Quinta-feira, 08 de Outubro de 2009, 08:30 - A | A

Quinta-feira, 08 de Outubro de 2009, 08h:30 - A | A

Artigo Marisa Serrano: Crime e castigo...

Redação Capital News (www.capitalnews.com.br)

O roubo das provas do Enem traz várias questões à tona. Em primeiro lugar, demonstra a completa fragilidade no sistema de segurança do sistema. Em segundo, mostra que o País está conturbado moralmente. E em terceiro, fica mais uma vez evidente que está se fortalecendo a cultura do “eu não sabia” e do “ todo o mundo faz igual”.

Pergunta-se: de que adianta proteger as provas num cofre e deixar, na gráfica, inúmeras pessoas manusearem o material sem que haja controle e fiscalização? De quem é a culpa dessa trapalhada? O Consórcio Nacional de Avaliação e Seleção (Connasel), contratado para produzir e aplicar o exame, já se isentou de qualquer responsabilidade. A gráfica Plural – contratada para imprimir o material - também.

É a famosa história: ninguém é culpado e ninguém sabe de nada. E a dúvida persiste: quem pagará o prejuízo financeiro de R$ 34 milhões pela suspensão das provas do ENEM? Quem ressarcirá os danos provocados aos milhares de estudantes que durante meses estavam se preparando para os exames?

Vamos ouvir agora o Ministro Fernando Haddad na Comissão de Educação do Senado. Ele certamente falará das medidas que serão tomadas para fortalecer a segurança do sistema e muitos vão pensar que tudo vai se resolver. O problema é que não vai. E o ENEM viverá sob o signo da desconfiança durante muito tempo.

Concordo com o secretário da Educação de São Paulo, Paulo Renato, de que a inexperiência do consórcio que aplicaria a prova deste ano permitiu a falha de segurança e o roubo dos originais das provas.

O ex-ministro, que criou o ENEM, tem toda a razão quando afirmou que a segurança foi mais do que uma falha grave em todo este processo. O roubo das provas gerou uma reação em cadeia. Mais de 4,1 milhões de jovens brasileiros tiveram suas expectativas frustradas e o custo pessoal desta confusão é incomensurável. Além disso, os concursos públicos da Receita Federal e do IBGE terão que ser realizados em out ras datas.

Ou seja, uma ação de “amadores”, de acordo com a Polícia Federal, está provocando mudanças do planejamento em instituições de ensino e mexendo com a vida de estudantes e concursandos de maneira determinante. Quanto vai custar tudo isso?

Este episódio não só demonstra falhas no processo de elaboração e produção da prova como também revela defeitos dos nossos valores éticos e morais.

O Datafolha divulgou recente pesquisa em que revela que os brasileiros se sentem cada vez mais cercados por corrupção. Sabemos – conforme o levantamento mostrou - o que é certo e o que é errado, mas aceitamos a agir fora da lei porque vivemos uma longa tradição da impunidade.

O mais grave é que no próximo ano vamos ter eleições sabendo, previamente, que a venda de votos atingirá quase 20% do eleitorado. Pior: 79% estão convencidos que as eleições serão compradas e isso não parece ser escândalo nenhum. Não há democracia que se sustente por longo tempo com índices como estes.

Insisto na tese de que somente com educação de qualidade é poderemos apostar na possibilidade de fortalecimento de valores. Sem qualificação educacional não mudaremos a atitude de quem sabe o que é certo, mas age de maneira errada. Sem punição e supressão da cultura da impunidade vamos seguir de mal a pior. Não conseguiremos evitar a perda de tempo, dinheiro e esperança ao nos depararmos com fraudes em avaliações públicas, como a do ENEM. Mesmo que haja uma imensa propaganda a inebriar nossas consciências, dificilmente o Brasil será verdadeiramente respeitado enquanto perdurar esta triste realidade.

*Marisa Serrano: Senadora e vice-presidente nacional do PSDB

Obs: Artigo divulgado na integra, a responsabilidade total é da autora.
 

Comente esta notícia


Reportagem Especial LEIA MAIS