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Justiça Terça-feira, 17 de Junho de 2025, 16:02 - A | A

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Arquivamento provisório

Juiz suspende delação que revelou esquema de corrupção em Sidrolândia

Decisão coloca em risco denúncias contra ex-vereador Claudinho Serra, apontado como chefe do grupo investigado

Elaine Oliveira
Capital News

A delação premiada do ex-chefe de compras da Prefeitura de Sidrolândia, Thiago Basso da Silva, foi suspensa pelo juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva, que determinou o arquivamento provisório do acordo por 90 dias. A decisão judicial joga dúvidas sobre o futuro das investigações da Operação Tromper, que revelou um amplo esquema de corrupção no município sul-mato-grossense.

“Considerando, contudo, a pendência de cumprimento das demais cláusulas pactuadas, determino o encaminhamento dos autos ao arquivo provisório pelo prazo de 90 (noventa) dias, com posterior reavaliação quanto ao adimplemento integral das obrigações assumidas no instrumento de colaboração”, afirmou o magistrado em seu despacho.

Com a suspensão, a delação perde, temporariamente, sua validade como prova nas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Estadual (MPMS). Caso o colaborador não cumpra integralmente os termos estabelecidos, o acordo poderá ser definitivamente anulado.

Delação expôs suposto esquema de propina

Wesley Ortiz/CMCG

Claudinho Serra

Claudinho Serra

No acordo de colaboração, Thiago Basso detalhou a estrutura de um esquema de desvio de dinheiro público, que, segundo ele, teria sido liderado pelo ex-secretário de Fazenda de Sidrolândia e ex-vereador de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB), genro da atual prefeita do município, Vanda Camilo.

De acordo com o delator, Claudinho exigia 10% de propina sobre todos os contratos firmados pela prefeitura, utilizando empresas como Coptec, Marcondes, 3M e Rocamora para viabilizar o desvio. “Se precisasse de dinheiro ou um item, pagava com nota da Prefeitura”, relatou Basso, explicando que os empenhos eram emitidos com valores inflados para possibilitar o desvio. Ele calcula que cerca de R$ 100 mil por mês eram movimentados em notas frias.

Ainda segundo o delator, a Rocamora era obrigada a atender até 60% dos contratos, com o restante dividido entre Marcondes (30%) e 3M. O esquema, segundo ele, funcionava desde 2019, mas ganhou força com a gestão da prefeita Vanda Camilo, que nomeou Claudinho como secretário de Fazenda.

Basso também afirmou que Ueverton da Silva Macedo, conhecido como Frescura, fazia a entrega das propinas diretamente a Claudinho até ser substituído por ele próprio. “Ou você atesta esta nota, ou vou colocar alguém no seu lugar que atesta”, afirmou Basso, relatando a pressão sofrida por fiscais de contrato.

Direcionamento de licitações e favorecimento político

Segundo o colaborador, as cartas-convite da Prefeitura eram direcionadas, com empresas escolhidas previamente e imposição de ordens de cima para baixo. “Os responsáveis pelos setores de compra eram proibidos de fazerem o que era certo”, denunciou, afirmando que todo o processo de contratação pública era manipulado.

Novas prisões reacendem a investigação

Apesar da suspensão da delação, novas prisões no início de junho colocaram de volta atrás das grades Claudinho Serra, seu assessor Carmo Name Júnior e o empreiteiro Cleiton Nonato Correia, da GC Obras. A nova ofensiva do Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) mantém viva a apuração dos crimes.

Nos bastidores, a decisão do juiz foi comemorada por investigados e abriu espaço para questionamentos sobre o rumo do processo. Defesas apontam que a suspensão pode servir como brecha para enfraquecer a acusação, embora o MP ainda conte com outras provas reunidas pela Operação Tromper.

Caso o delator não consiga comprovar o cumprimento das cláusulas do acordo nos próximos 90 dias, a colaboração pode ser anulada em definitivo, impactando diretamente a sustentação das denúncias em curso.

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