O Foro de São Paulo nasceu como “coletivo” de políticos e organizações partidárias de extrema esquerda cujo objetivo era a conquista do poder ou a manutenção, em caráter permanente, do poder conquistado. Alguns já haviam conseguido esse objetivo de modo pleno, como ocorreu em Cuba, com a revolução sandinista da Nicarágua e viria a ocorrer na Venezuela. Outros foram transitórios, como nos casos da Bolívia, Peru, Honduras, El Salvador, etc.
Essa corrente política nunca faz autocrítica (suas críticas são sempre dirigidas ao adversário). A regra é clara: governo companheiro não critica governo companheiro. É bom lembrar que Lula, seu governo e sua base parlamentar se alinham com qualquer corrente política adversária do Ocidente, vale dizer, dos Estados Unidos, da União Europeia e de Israel. Ao mesmo tempo, Irã, China, Rússia e movimentos terroristas islâmicos têm tratamento privilegiado. Quando não há mais explicações possíveis, atribuem caráter canônico ao “respeito à autonomia dos povos”, quaisquer que sejam os males produzidos por seus líderes aos respectivos povos...
Lembro que em 2010, mais precisamente no dia 24 de fevereiro daquele ano, Lula desembarcou em Cuba para uma visita oficial aos irmãos Castro. Para azar dos azares, na véspera, ao cabo de uma greve de fome que se prolongara por inacreditáveis 85 dias, falecera o preso político Orlando Zapata Tamayo. A greve pela libertação dos presos políticos do regime tivera grande repercussão na imprensa das nações livres e democráticas. Ouvido sobre o episódio, Lula disse: “Temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de deter as pessoas em função da legislação de Cuba”.
No país que ele visitava, Fidel Castro, autonomamente, chegara ao absurdo de criar as UMAPs (Unidades Militares de Apoio à Produção), que eram, na verdade, campos de concentração para submissão dos jovens rebeldes às práticas comunistas. Nem por isso, líderes brasileiros de esquerda deixavam de exaltar as maravilhas do regime ali instalado. Agora, meio século depois, Maduro prende 120 menores de idade venezuelanos inconformados com a fraude eleitoral e os encaminha a um campo desse tipo, sob rigorosa disciplina militar.
Lula se meteu numa encrenca incomum quando, pessoal e publicamente, aqui no Brasil, aconselhou Maduro a “construir sua própria narrativa”. Pois bem, foi o que o venezuelano fez: perdeu a eleição, comemorou a vitória, disse que os inconformados serão presos e quer prender o candidato que o derrotou.
Enrolado na camisa de força de suas bravatas, promessas e más parcerias, Lula não assinou a nota da OEA pedindo auditoria internacional das atas eleitorais. Agora, vem a público dizer que era amigo de Chávez, não de Maduro, e que não reconhece a vitória deste nem a da oposição. Em junho, o Papa pediu a Lula que interviesse junto a Ortega para a libertação dos bispos católicos, mas o ditador nicaraguense sequer o atendeu. Lula lidera o que e a quem, exatamente?
*Percival Puggina (79)
Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
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