Se eu pudesse me sentar hoje com um jovem produtor e dar apenas um conselho, ele seria direto: viaje com os olhos e o coração abertos. A agricultura é uma das poucas atividades em que tradição e inovação caminham lado a lado — e saber dosar essas duas forças pode ser a diferença entre sobreviver e prosperar.
Vivemos uma era em que o mundo está mais acessível do que nunca. Participar de uma missão técnica, visitar fazendas em outros estados ou países, conhecer modelos de produção distintos do seu pode poupar anos de tentativa e erro. Já vi isso acontecer inúmeras vezes. Jovens que estavam perdidos quanto ao futuro da propriedade da família, e que após uma experiência fora — seja na Califórnia, na Argentina ou no Cerrado nordestino — voltaram com a cabeça fervilhando de ideias e com uma clareza impressionante sobre o próximo passo a dar.
Não se trata apenas de copiar modelos de fora, mas de observar, refletir e adaptar. Isso é o que chamo de acelerar a curva de aprendizado.
Outro ponto que repito muito — e que levo como regra para mim — é: não tenha medo de mudar de ideia. O agro muda o tempo todo. O clima muda, o mercado muda, o consumidor muda. E os produtores, também precisam mudar. Quem entra no campo achando que já sabe tudo, geralmente para no tempo. Quem entra disposto a ouvir, testar, errar e corrigir, tende a crescer mais rápido. Já conheci produtores que mudaram completamente a cultura que plantavam após uma conversa com um agricultor em outro país. E deram certo. Porque não estavam apegados ao plano, e sim ao propósito.
Por fim, um aprendizado que considero o mais valioso de todos: invista em pessoas. Os melhores negócios que já vi nascer não foram fruto de grandes aportes financeiros ou de máquinas de última geração. Eles nasceram de conexões humanas sinceras. De histórias trocadas em um ônibus, de cafés em aeroportos, de visitas em que mais se escutou do que se falou.
Quem está começando agora no agro tem um desafio enorme — mas também uma vantagem: pode construir um novo jeito de fazer agricultura desde o início. Mais conectado, mais sustentável, mais aberto. E isso não se aprende apenas nos livros ou nas redes sociais. Isso se vive, se observa, se compartilha.
Você, jovem produtor, está apenas começando a escrever sua história. Que ela seja feita de passos firmes, mas também de olhos curiosos. Porque no agro, crescer de verdade é também saber aprender sempre.
*Fábio Torquato
Economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel Viagens Técnicas
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