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Opinião Sábado, 25 de Outubro de 2025, 10:57 - A | A

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Opinião

Para que serve uma escola?

Por Daniel Medeiros*

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Há uma diferença clara entre ordem e violência. Aliás, o uso da violência é fruto da impossibilidade da ordem. Na escola é necessária a ordem, que é o controle da entropia. O caminho para a ordem é a atenção, a escuta e a conversa. Além disso, ou antes disso, a construção de regras claras sobre o funcionamento do que é essencial na escola, com penas para a violação das regras, porque quem contribui deliberadamente para a entropia causa dor para todos e quem provoca dor precisa entender que a dor é ruim sentindo-a, embora seja preciso sempre permitir que quem causa dor possua uma instância de apelação.

A dor a que me refiro aqui nunca, jamais deve ser a dor física, porque isso seria confundir ordem e violência. A violência é o apelo do incompetente, do incapaz. A dor a que me refiro é a da frustração de ser impedido de algo, de ser contrariado em suas vontades ou de ser exigido a dar uma resposta a uma ação mesmo quando não queira se explicar. A dor é o preço do crescimento para todos os seres vivos. A escola precisa entender isso de uma vez por todas.

Outra coisa fundamental: se se busca a ordem na escola, é preciso que todos conheçam como tudo funciona. É preciso, portanto, ensinar como é a escola, como ela se sustenta, sob todos os aspectos. Isso deveria ser um conteúdo obrigatório a todos os alunos, e os alunos mais velhos (Fundamental II e Médio) deveriam ter representantes, pelo menos sob a função de observadores, nas tomadas de decisão da escola que os envolvessem. Para ter ordem, é preciso respeito, que é a capacidade de olhar constantemente em torno de si, no ambiente onde estão todos os personagens do universo escolar, e além, para as famílias que precisam estar conectadas com todas as medidas tomadas pela escola.

Muitos gostam de usar o dístico da nossa bandeira para dizer que sem ordem não há progresso. Esquecem que a frase, dita pelo filósofo francês Augusto Comte, dizia que é preciso ter AMOR por base, ordem como meio, para que haja progresso no fim. Ou seja, a ordem é instrumental, não propósito. Imaginar que uma escola é boa por que há ordem é um engano. Principalmente quando imaginam ordem como silenciamento. Ao contrário, a ordem só gera progresso quando é construída à partir das relações amorosas entre pais e escola, escola e alunos.

Os problemas da entropia, que é a tendência natural para a desordem, devem ser trabalhados à partir de acordos sempre coletivos e solidários, compreendendo que a escola não é capaz de equalizar todas as manifestações individuais que ocorrem no seu espaço, fruto de diversas narrativas de criação e de orientação de comportamento. Mas a escola precisa ter clareza sobre qual o ambiente que quer oferecer e como vai organizá-la. Ou seja, pô-lo em ordem.

A base, desde sempre, não é o discurso negativo ou reativo, mas propositivo e otimista, de que é possível que a escola seja hospitaleira e não hostil, por sinal duas palavras que têm a mesma origem, que é estrangeiro, isto é, o outro. Esse outro chega na escola e precisa ser acolhido, isto é, conhecer o lugar onde vai conviver e ser conhecido pelos que lá vivem. O outro é quem diz quem nós somos. A maneira como procedemos esse acolhimento define a visão que ele terá de nós. A maneira como ele recebe e aceita as regras de funcionamento da escola definem a visão que a escola terá dele.

Por isso, essa tessitura deve ser feita com cuidado e com muita clareza. Por isso, ele deve participar de tudo, ouvindo, falando, aprendendo e também ensinando sobre quem ele era antes daquele encontro que redefiniu a vida de todo mundo e que marcará o progresso de todos.

Uma escola sem amor por base, sem ordem como meio e sem a esperança e a crença de nos tornar pessoas melhores como fim, para que serve? Por que deveria existir?


*Daniel Medeiros
Doutor em Educação Histórica e professor de Humanidades no Curso Positivo. @profdanielmedeiros

 

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