Apesar de 22% dos alunos de colégios particulares do País terem perdido a virgindade antes dos 15 anos, segundo pesquisa feita com 6.308 estudantes brasileiros e divulgada na semana passada, as escolas ainda não chegaram a um consenso sobre a EDUCAÇÃO SEXUAL que deve ser oferecida e menos ainda, a partir de qual faixa etária.
Pela recomendação do Ministério da Educação (MEC), o tema deveria estar presente no contexto das demais disciplinas do currículo escolar. Já a Secretaria Estadual de São Paulo, por exemplo, recomenda as classes a partir da 7ªsérie. Escolas particulares começam com orientações e conversas aos 10 anos.
"O Brasil tem muitas diferenças. Não dá para usar a mesma receita", afirma o psicólogo Antonio Carlos Egypto, do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (Gtpos), que participou da elaboração dos parâmetros curriculares relacionados à orientação sexual. Para ele, a sexualidade deveria ser abordada desde a educação infantil.
"Nessa fase, a criança descobre as diferenças entre sexos e questiona seu surgimento no mundo", diz. Um dos problemas, no entanto, é a falta de professores qualificados. "A maioria das faculdades de Pedagogia não prepara os professores para a tarefa", diz a diretor a executiva do Instituto Kaplan, Maria Helena Vilela.
No Colégio Santa Maria, em São Paulo, as professoras do ensino infantil permanecem atentas para manifestações de curiosidade. E explicam dúvidas dos alunos usando bonecos sexuados que ilustram as diferenças entre meninos e meninas. A orientadora pedagógica do colégio, Sueli Gonçalves, afirma que os sinais de curiosidade nas crianças têm surgido mais cedo.
A professora de Ciências, Fátima Solange Riego Lavorente, da Escola Estadual Paul Hugon,em São Paulo, até por estar dentro da rede, segue a recomendação da secretaria.
"Mas, se considero necessário, converso com eles antes", explica ela, que estimula a organização de teatros e concursos de paródias. No Santo Américo, a sexualidade é abordada aos 10 anos, no conteúdo das aulas de ciências.
Todos assumiram compromisso de tratar o tema com "naturalidade e seriedade ". Na Escola Suíço Brasileira, o tema entra um ano antes na grade. "É necessário levar os jovens à reflexão", afirma Birgit Mobus, psicopedagoga do colégio.
Estratégias para jovens usam teatro e oficinas Há quatro anos, um trabalho de conclusão de curso da Faculdade de Artes do Paraná tornou-se um bem sucedido projeto de orientação sexual e afetiva. O advogado Pierre Andrey Ruthes resolveu abordar o tema da gravidez na adolescência usando teatro. Foi se inspirar na linguagem de Bertold Brecht.
A peça O que eu vou dizer lá em casa?já foi encenada para 15 mil adolescentes em escolas da rede pública na região metropolitana de Curitiba, no interior do Paraná, e em Blumenau (SC).
O roteiro contrapõe um casal de gêmeos, cada um representando uma forma diferente de vivenciar a sexualidade. "A peça pretende mostrar a importância do diálogo em casa e a seriedade das nossas escolhas", afirma Ruthes. No fim das apresentações, os atores conversam com os adolescentes.
VALE SONHAR Cerca de 600 mil adolescentes em São Paulo participarão de três oficinas sobre gravidez na adolescência no próximo mês em São Paulo.
A iniciativa é uma continuação do programa Vale Sonhar, uma parceria da Secretaria de Estado da Educação com o Instituto Kaplan. Aplicado pela primeira vez em 14 cidades do Vale do Ribeira, em dois anos, o projeto diminuiu em 90% o número de jovens gestantes na região.
A diretora executiva do instituto, Maria Helena Vilela, explica que o Vale Sonhar não é um programa de orientação sexual. "Ele aborda um único tema: a gravidez na adolescência." No primeiro encontro, os adolescentes são estimulados a "sonhar", a dizer o que esperam do futuro. No segundo, discute-se os impactos que uma gravidez na adolescência pode ter na realização dos projetos pessoais. No último, explicam-se métodos contraceptivos.
(Fonte: Agência de Notícias da Aids)