Reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil desde 2004, a viola de cocho é um dos maiores símbolos da identidade da região do Pantanal. Feita a partir de um único tronco de madeira, o instrumento é essencial em manifestações culturais como o cururu e o siriri, que resistem ao tempo e atravessam gerações em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A confecção da viola de cocho é um saber artesanal registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), como uma tradição a ser preservada. "Cada viola é única. O artesão molda a peça conforme o formato da mão de quem vai tocá-la", afirmam especialistas. Embora antes fosse feita com cordas de tripa de animais, hoje é usada corda de nylon, mas o som peculiar continua o mesmo.
Um dos maiores guardiões dessa arte é Alcides Ribeiro dos Santos, mestre violeiro e fundador do Museu da Viola de Cocho, em Santo Antônio do Leverger (MT). "Cada instrumento é único. A madeira guarda a alma do Pantanal", diz Alcides, que é reconhecido como Mestre da Cultura Popular de Mato Grosso desde 2012. O processo de criação da viola é artesanal e pode levar até dez dias, desde o entalhe até a finalização.
Alcides explica que a viola de cocho tem suas origens na guitarra portuguesa: "Ela vem da guitarra portuguesa. O formato é diferente, mas a afinação é a mesma. Aqui a madeira era abundante e, com as ferramentas usadas para escavar canoas e cochos, surgiu a viola", detalha o artesão. Para ele, o som do instrumento é uma representação do Pantanal: "O pesquisador Roberto Corrêa classificou o som como de 'veludo', porque é fechado e maravilhoso."
Outro nome importante na preservação dessa tradição é Roberto Corrêa, violeiro e pesquisador, que ajudou a divulgar a viola de cocho em universidades e festivais. "Conheci o Alcides ainda criança, em 1979, quando fui a Mato Grosso pesquisar sobre a viola. A primeira viola que tive foi construída por Manoel Severino, parceiro do pai de Alcides", conta Corrêa. Para ele, o som da viola de cocho é comparado às águas do Pantanal, como expressou o poeta Manoel de Barros: "É o som das águas".