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Fronteira do Negócio Sábado, 12 de Julho de 2025, 13:47 - A | A

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Coluna Fronteira do Negócio

IA no RH: quais os limites legais e éticos do uso?

Por Luisa Pereira

Da coluna Fronteira do Negócio
Artigo de responsabilidade do autor

Garantir justiça algorítmica e proteção de dados se tornou essencial na gestão de pessoa

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A adoção de ferramentas baseadas em inteligência artificial por departamentos de Recursos Humanos tem ganhado força no Brasil, mas o uso dessas tecnologias exige atenção especial a dois pontos centrais: privacidade dos dados e a prevenção de vieses algorítmicos. Com a vigência da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), organizações precisam revisar processos e garantir conformidade legal ao utilizar soluções automatizadas para recrutamento, avaliação de desempenho e gestão de pessoas.

O crescimento no uso de automações nesse setor também levanta questões sobre justiça nas decisões e responsabilidade por possíveis distorções. Uma abordagem ética e transparente passou a ser essencial para preservar a integridade dos processos seletivos e proteger tanto os dados quanto os direitos dos profissionais envolvidos.

Privacidade de dados e exigências legais

O tratamento de dados pessoais em processos de RH precisa estar respaldado por bases legais, conforme determina a LGPD. Isso inclui o armazenamento e a análise de informações como nome, endereço, raça, escolaridade e histórico profissional. Toda coleta de dados deve estar claramente comunicada aos titulares, que precisam saber como suas informações serão utilizadas, por quanto tempo e com qual finalidade.

No contexto do RH digital, isso impacta diretamente a adoção de sistemas automatizados. Empresas que usam IA para triagem de currículos ou avaliação de produtividade devem aplicar protocolos de segurança da informação e estabelecer controles internos que reduzam riscos de vazamento, acesso indevido ou uso fora da finalidade original.

Outro ponto relevante é a realização de relatórios de impacto à proteção de dados, recomendada para operações que envolvem decisões automatizadas. Esses relatórios ajudam a documentar riscos e justificativas técnicas para o uso de determinadas ferramentas, fornecendo respaldo em caso de questionamentos por parte de autoridades reguladoras.

Vieses algorítmicos e riscos na tomada de decisão

Além da privacidade, outro desafio comum no uso de inteligência artificial no RH é a reprodução de vieses. Como os sistemas são treinados a partir de dados históricos, podem repetir padrões discriminatórios já presentes em decisões humanas. Isso pode resultar na exclusão automática de candidatos com base em características como nome, local de moradia ou universidade frequentada, sem justificativa técnica válida.

Evitar esse tipo de distorção exige revisão contínua dos algoritmos e acompanhamento de indicadores de diversidade. Ferramentas de explicabilidade e fairness permitem analisar os critérios que levaram à escolha ou descarte de um candidato, favorecendo uma abordagem mais equilibrada.

As auditorias algorítmicas devem ser conduzidas por equipes multidisciplinares que envolvam profissionais de tecnologia, compliance, jurídico e diversidade. Essa integração é essencial para que as decisões automatizadas não comprometam políticas internas ou prejudiquem a imagem da empresa perante os colaboradores e o mercado.

Práticas de governança e responsabilidade institucional

A implantação de IA no RH deve vir acompanhada de políticas de governança claras. Isso inclui registro de acessos, revisão humana de decisões automatizadas e criação de comitês responsáveis por supervisionar o uso das tecnologias. Esses mecanismos reforçam a transparência e criam um ambiente mais seguro para a tomada de decisões com base em dados.

Além disso, informar aos candidatos e colaboradores sobre o uso de tecnologias na gestão de pessoas contribui para um relacionamento mais claro e equilibrado. Iniciativas como treinamentos internos, elaboração de termos de consentimento e políticas públicas de privacidade ajudam a institucionalizar o cuidado com os dados dentro da cultura organizacional.

A adoção responsável de novas tecnologias depende da capacidade das empresas de equilibrar inovação com conformidade. Com a expansão do uso da IA na gestão de pessoas, manter alinhamento com a LGPD e reduzir riscos de discriminação são fatores essenciais para garantir a continuidade e a legitimidade dos processos.

A Inteligência Artificial no RH, se aplicada com responsabilidade, pode aumentar a eficiência das equipes e agilizar processos, mas é a governança que define se esses avanços serão sustentáveis no longo prazo.

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