Dermatite alérgica à picada de pulga afeta milhares de pets no Brasil e exige tratamento contínuo, controle ambiental rigoroso e atenção redobrada de tutores e veterinários
Coceiras persistentes, feridas na pele, lambedura constante. Queixas comuns nas clínicas veterinárias que, muitas vezes, têm uma causa subestimada: a dermatite alérgica à picada de pulga (DAPP).
Trata-se de uma das dermatopatias mais frequentes em cães e gatos no Brasil, com impacto importante na qualidade de vida dos animais e desafios para o tratamento. A DAPP é uma reação de hipersensibilidade à saliva da pulga, geralmente da espécie Ctenocephalides felis. O curioso (e preocupante) é que uma única picada pode desencadear uma crise intensa em animais sensibilizados.
Segundo a Chemitec, é a dermatopatia alérgica mais prevalente relacionada a ectoparasitas no país, especialmente nas regiões de clima quente e úmido, como Sudeste e Nordeste. Um estudo da UFMS, com 242 cães atendidos entre 2015 e 2020, revelou que mais de 22% apresentavam DAPP – à frente de outras alergias dermatológicas.
Nos cães, os sinais mais comuns são coceira intensa, perda de pelos e inflamações, especialmente na base da cauda e no abdômen. Em gatos, as manifestações costumam ser mais sutis, como alopecia simétrica e dermatite miliar, o que exige atenção redobrada do clínico.
Tutores frequentemente afirmam não ver pulgas nos animais, e com razão: segundo a Elanco, 95% das pulgas estão no ambiente, na forma de ovos, larvas e pupas. Por isso, o controle ambiental é essencial: aspirar, lavar tecidos e, quando necessário, usar reguladores de crescimento de insetos (IGRs).
Antiparasitários são o pilar do tratamento. Um estudo clínico realizado na Alemanha, publicado pela Veterinary Parasitology, mostrou que o fluralaner – princípio ativo do Bravecto – reduziu em 99,8% a carga de pulgas em 12 semanas, com melhora clínica dos sinais de DAPP.
Soluções de longa duração, como comprimidos palatáveis com fluralaner, vêm ganhando espaço por sua eficácia e praticidade, especialmente em casos crônicos ou em gatos que rejeitam tratamentos tópicos.
A adesão ao protocolo terapêutico é um dos maiores desafios, como destaca artigo da Veterinary Dermatology. A reincidência dos sintomas é comum quando há falhas na prevenção ou no controle ambiental.
Além disso, o manejo de lesões secundárias, como infecções bacterianas ou fúngicas, é fundamental. O sucesso no controle da DAPP depende de uma abordagem ampla e contínua: prevenção ambiental, controle antiparasitário eficaz e cuidado com a pele sensibilizada.
A importância da educação do tutor também não pode ser subestimada. Muitos não associam os sintomas dermatológicos à presença de pulgas, especialmente quando não há infestação visível. Explicar que mesmo um contato eventual pode desencadear uma crise é essencial para garantir o comprometimento com o tratamento – e, principalmente, com a prevenção contínua.