Postura inadequada, excesso de carga e falta de orientação elevam riscos para músculos, articulações e órgãos vitais
Dor muscular após o treino pode parecer algo normal, mas nem sempre é. Um agachamento com joelhos desalinhados, uma corrida com pisada errada ou uma repetição feita com pressa pode se transformar em problemas sérios: distensões, rupturas musculares, lesões articulares, fraturas e até falência renal, em casos extremos.
De acordo com pesquisa publicada na RevistaFT, em maio de 2025, os principais causadores de lesões durante a atividade física são a execução errada dos movimentos, a ausência de acompanhamento profissional, a sobrecarga e o uso inadequado de equipamentos.
Dor no treino pode esconder lesões graves e riscos à saúde
O primeiro sinal de que algo está errado geralmente aparece nos músculos, na forma de distensões, estiramentos e até rompimentos. Estas lesões, muitas vezes, são confundidas com o desconforto normal do treino e acabam sendo ignoradas.
Em publicação no blog Vida Saudável, a médica do esporte Karina Hatano, do Hospital Albert Einstein, alerta que dores persistentes podem indicar uma lesão em estágio inicial, e continuar treinando nessas condições só agrava o problema.
A situação piora quando o movimento errado transfere o esforço para partes do corpo que não deveriam ser acionadas. Agachamentos mal executados, por exemplo, deixam de ativar os músculos das pernas e glúteos e acabam sobrecarregando os joelhos.
Além disso, os tendões (estruturas que conectam os músculos aos ossos) sofrem com movimentos repetitivos feitos com má postura ou carga excessiva, o que pode causar inflamações dolorosas e de difícil recuperação.
Estes problemas não são apenas teóricos. Erros frequentes na execução dos exercícios podem gerar rupturas de tendões que exigem cirurgia. Há ainda riscos menos conhecidos, mas potencialmente fatais, como a rabdomiólise, uma condição grave em que o músculo se rompe por esforço extremo e libera toxinas na corrente sanguínea. A síndrome pode levar a falência renal, arritmias e, em casos raros, morte.
Execução incorreta também compromete articulações
Os danos não se limitam aos músculos e tendões. As articulações também sofrem, e, muitas vezes, os sinais demoram mais a aparecer. Ombros, joelhos, tornozelos e punhos são áreas especialmente vulneráveis a movimentos bruscos ou desalinhados. Uma execução errada repetida ao longo do tempo pode transformar um simples incômodo em um quadro crônico.
O exemplo clássico é o agachamento profundo feito com excesso de carga. Segundo o Dr. Rene Abdalla, do HCor , “quando feito além do ângulo de 45° (descendo muito além do paralelo), aumenta a sobrecarga na articulação patelofemoral, entre a patela e o fêmur, causando desgaste da cartilagem e, em longo prazo, podendo gerar artrose”.
A coluna vertebral também entra na lista de estruturas sensíveis. A postura inadequada e a má distribuição de peso comprometem vértebras e discos intervertebrais, gerando dores lombares, hérnias e, em casos mais severos, a necessidade de cirurgia.
Estes impactos não ocorrem apenas em grandes articulações. Os pés também sentem as consequências da execução incorreta. Um exemplo frequente é a fascite plantar, uma lesão inflamatória que atinge a fáscia, tecido que conecta o calcanhar aos dedos.
O problema é comum entre corredores, caminhantes e dançarinos, e está diretamente relacionado à biomecânica errada durante a atividade física. De acordo com matéria publicada no Jornal da USP, a condição provoca dores intensas na sola do pé, principalmente ao acordar ou após longos períodos em repouso.
Embora a fascite plantar possa surgir com o envelhecimento, ela é agravada por excesso de carga, uso de calçados inadequados e erros técnicos na execução dos exercícios. A pisada incorreta e a falta de amortecimento adequado intensificam o estresse sobre a fáscia, tornando a inflamação mais difícil de tratar. Se negligenciada, a lesão pode se tornar crônica, exigindo meses de fisioterapia e até intervenções mais complexas.
Cuidados essenciais aceleram a recuperação em caso de dor
Para evitar todos estes problemas, o primeiro passo é investir em orientação profissional. Treinar por conta própria, mesmo com vídeos ou aplicativos, pode parecer prático, mas é um atalho para a lesão. Até os exercícios considerados simples devem ser supervisionados por um profissional de educação física, que saberá corrigir a postura, adaptar a carga e ensinar a execução correta de cada movimento.
Além disso, é preciso preparar o corpo com um bom aquecimento, como caminhada leve ou pedalada curta. Isso aumenta a temperatura corporal e reduz o risco de lesões. Ao final, alongamentos ajudam na recuperação e previnem encurtamentos musculares.
Respeitar a progressão de carga também é fundamental. Subir o peso de forma abrupta, só para desafiar os limites, costuma ser um erro caro. O corpo precisa de tempo para se adaptar, e ignorar isso sobrecarrega articulações e músculos.
Mas de nada adianta todo o cuidado se não forem utilizados os equipamentos apropriados. Tênis com bom amortecimento, cintos de proteção, joelheiras e outros acessórios ajudam a manter a biomecânica correta e a proteger as articulações.
E se, mesmo assim, surgir dor persistente, é hora de parar. Se os sintomas persistirem por mais de 48 horas de repouso, então é preciso buscar uma avaliação médica e, claro, não insistir no treino, para não correr o risco de o problema se agravar.
A maioria dos casos se resolve com fisioterapia, exercícios específicos e reabilitação funcional. Em publicação no blog Vida Saudável, o fisioterapeuta da SONAFE, Rodrigo Oliveira, destaca que “a pessoa que está retornando à prática após uma lesão deve ter um reinício com progressão gradual, não devendo retornar aos níveis de treino anteriores imediatamente [...]”.
No caso da fascite plantar, o tratamento envolve repouso das atividades de impacto, aplicação de gelo, alongamentos da panturrilha e da sola do pé, além de medidas para redistribuir a carga durante a caminhada.
Uma solução eficiente é o uso da palmilha para fascite plantar, especialmente aquelas com suporte adequado do arco e bom amortecimento. Este tipo de palmilha ajuda a aliviar a dor, corrigir a pisada e acelerar a recuperação, sendo um recurso valioso tanto na prevenção quanto no tratamento.