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ENTREVISTA Segunda-feira, 22 de Março de 2010, 16:00 - A | A

Segunda-feira, 22 de Março de 2010, 16h:00 - A | A

Secretário de Habitação fala sobre aliança PMDB/BDR, polêmica sobre terreno em Corumbá, desafios que ficarão para o próximo governo e candidatura à reeleição na ALMS

Marcelo Eduardo - Capital News

Às vésperas do prazo final dado pelo Superior Tribunal Eleitoral (STE) deu aos ocupantes de cargos deixarem suas posições para se candidatarem nas eleições deste ano – começo de abril –, o secretariado do governador André Puccinelli (PMDB) deve esvaziar-se já este mês.

O Capital News conversou com o secretário de Estado de Habitação e das Cidades, Carlos Eduardo Xavier Marun (PMDB). Ele é um dos nomes do primeiro escalão que deixa o governo. Disputa sua reeleição na Assembleia Legislativa, que deixou para ocupar a atual função.

Engenheiro civil diplomado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1982, e advogado pela Unaes, formado em 1999, Marun fala sobre o que considera avanço e o que acredita que sejam os desafios ainda a serem ultrapassados com relação à área habitacional de Mato Grosso do Sul.

Fala também sobre política, enfatizando a parceria possível entre PMDB e Bloco Democrático Reformista (BDR) – formado por PSDB, DEM e PPS.

Marun fala também sobre a polêmica envolvendo o terreno para construção de 1,2 mil casas em Corumbá (cidade distante 417 quilômetros a noroeste da Capital), em que a Prefeitura mandou embargar obras do Estado (confira em notícias relacionadas).

Confira a entrevista

Capital News: Quais os resultados satisfatórios durante sua gestão na Secretaria de Estado de Habitação e quais as dificuldades que ainda ficam?

Carlos Marun: Primeiro, permanece, depois de toda essa ação nossa, uma questão de déficit habitacional a ser resolvida no estado de Mato Grosso do Sul. Isso, obviamente, é trabalho para mais alguns governos. Mato Grosso do Sul é um estado em crescimento. Ao mesmo tempo em que nós proporcionamos o atendimento habitacional, o Estado cresce. Mais gente chega. Mais gente nasce. Mais gente casa. Então, isso tudo faz com que o número do déficit habitacional não seja um número estanque.

A felicidade é que, pelo fato de conseguirmos empreender em Mato Grosso do Sul o maior programa habitacional já desenvolvido em um estado, em termos proporcionais, na história deste país fez com que muita gente tenha tornado realidade o seu sonho da casa própria e fez com que o déficit habitacional diminuísse.

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Secretário diz que déficit habitacional deve ficar entre 50 mil e 60 mil ao fim da atual gestão e que problema fica para outros governos
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: Qual o déficit hoje o montante das construções?

Marun: Nós temos hoje, entre casas em construção e entregues, 40,6 mil moradias. Nós assumimos o governo com um déficit de 80 mil moradias. Considerando o crescimento, a que me referi, acredito que devemos chegar ao final deste governo com um déficit em Mato Grosso do Sul na faixa de 50 mil a 60 mil. Ainda, isso ficando como trabalho para outros governos.

Nós trabalhamos com parcerias e reconhecemos as parcerias. Tudo que nós fazemos, é reconhecido nos centavos. Estadual ou Federal, é no centavo. Agora, posso com toda tranquilidade dizer que, o que aconteceu em Mato Grosso do Sul em termos habitacionais não aconteceu por acaso.

Capital News: O projeto Construindo Liberdade, desenvolvido pelo governo do Estado, recebeu dia (11), no 57º Fórum Nacional de Habitação de Interesse Social realizado em Belo Horizonte (MG), o prêmio Selo do Mérito 2009. Explique um pouco sobre isso?

Marun: Quero só voltar ao assunto anterior. Dinheiro federal existe. Diria que ele existe. Existe na classe política, existe na imprensa, existe na subimprensa, alguns segmentos desinformados que acham que o dinheiro vem caminhando sozinho. Não, você tem que buscar. E, para trazer, tem que ter competência, credibilidade, capacidade de ser eleito e reeleito pelos secretários de habitação de todo o país como presidente do Fórum Nacional dos Secretários de Habitação. Tudo isso tem um conjunto de fatores que faz com que a gente possa chegar nesse momento escrevendo, comemorando a marca de 40,6 mil moradias.

Quanto ao Programa Construindo Liberdade, é um programa singelo. Singelo, mas significativo. Nós aproveitamos esse grande programa habitacional para, num programa que envolve diversas secretarias oferecer a ex-apenados a oportunidade de conquistarem a condição de viver com dignidade. Nós oferecemos nossas obras para que lá eles recebessem aulas práticas. E acertamos com as empresas, a primeira oportunidade e fico feliz em dizer que a maioria desse programa que teve num primeiro momento 409 pessoas. E temos 275 pessoas trabalhando nas empresas. São 275 pessoas que poderiam reincidir, mas, hoje, estão inseridas na sociedade.

Capital News: A questão do embargo da obra de 1,2 mil casas em Corumbá? Como está esta situação? A Prefeitura foi ouvida durante o processo de formulação do projeto? A documentação apresentada foi a correta?

Marun: O prefeito não quer que o governador trabalhe em Corumbá. Isso é evidente. Ele não quer. Então, se comprometeu em nos oferecer terreno, não ofereceu. Não cumpriu o compromisso. Isso fez com que nós fossemos obrigados a atuar de uma forma rápida, no sentido de que o intento do prefeito não se concretizasse. Ou seja, no sentido de que fosse desmoralizado o governo por não cumprir nenhum compromisso. Se ele não cumpre compromissos, nós cumprimos.

Então, isso fez com que nós ingressássemos com projetos e começássemos a obra. Assim que tivéssemos licença ambiental, que era o que mais nos preocupava.

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"O prefeito não quer que o governador trabalhe em Corumbá"
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: O senhor chegou a conversar com ele?

Marun: Não, com o prefeito faz muito tempo que eu não converso. A última vez que eu estive em Corumbá com este objetivo, me foi informado que ele não estava.

Então, ao mesmo tempo em que estamos atendendo às exigências que nos são feitas pela Prefeitura de Corumbá, tocando a obra. Porque o problema social de Corumbá é gravíssimo nessa área habitacional. São milhares de famílias que vivem em condição absoluta de indignidade. Então, é um problema inadiável. Certamente, com a documentação que nós apresentamos, se houvesse boa vontade da Prefeitura, essa obra já poderia estará aprovada. Com má vontade da Prefeitura, essa aprovação vai demorar dez anos.

Não podemos esperar. Eu tenho um dever. Não “to” aqui para brincar. Existia recurso, existia a área, existia licenciamento ambiental, nós iniciamos a obra. Com a convicção de que, um dia, esta questão política que impede a aprovação venha a ser solucionada e que as famílias possam morar com absoluta tranquilidade.

Mais uma coisa. A lei permite. Estão buscando legislação de 40 anos atrás onde um plano diretor já é ultrapassado. A partir do momento em que foi aprovado um plano diretor que estabelece a possibilidade de construção naquele local.

Capital News: Com relação à conjuntura política atual. Como o senhor vê a questão envolvendo o PMDB e o BDR? O grupo ainda espera a confirmação da decisão do governador. O senhor acredita que ele toma qual decisão: apoia Dilma ou Serra; une-se ao BDR ou praticamente provoca uma candidatura própria do blocão?

Marun: Vejo como uma questão complicada. Mas, que vai ser solucionada. Está aí para ser solucionada. É uma questão que precisa ser solucionada. Mas vai ser solucionada a seu tempo. Nós não precisamos antecipar. É uma decisão difícil que tem que ser tomada no momento que tiver que ser tomada. E esse momento ainda não aconteceu.

Capital News: O senhor acredita que a tendência maior é continuar com o PSDB, e o BDR?

Marun: Eu diria que nós temos motivos de sobra para estarmos em qualquer uma das duas posições. Nós temos com o governo Federal uma aliança. O PMDB tem uma aliança de sustentação ao atual governo que está evoluindo em torno de uma aliança para a eleição da candidata do governo.

Isso, nos aproxima da candidata Dilma. Temos um tradicional companheirismo com o PSDB, DEM e PPS. Que hoje, apóiam o candidato Serra. Eu diria a você que, numa balança, as duas coisas tem peso muito forte.

Qualquer decisão que nós tomarmos é coerente. Única coisa que nós não corremos o risco neste momento é de sermos incoerentes. Qualquer decisão que nós tomarmos é alicerçada de fatores importantes, sérios e significativos.

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Marun diz que ele não fará campanha casada com político de outra coligação
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: O que o senhor pensa deste quadro apresentado pelo governador André sobre a vaga de vice para a prefeita de Três Lagoas, Simone Tebet, e a de Senado para o Murilo Zauith? Não seria uma mostra de que estaria novamente firmando a parceria com o BDR?

Marun: Diante da intransigência do PT de Mato Grosso do Sul em nos apoiar, começa, mesmo que não de forma oficial, mas, começam a surgir conversas em torno da composição da chapa. E nesse diapasão, a política é conversar. Começa a surgir assim a possibilidade muito concreta de nós termos juntamente conosco o BDR. A vaga que está reservada é a do Senado. Foi o que foi pleiteado. Nós não inventamos isso. O BDR pediu isso. Colocou isso como sua reivindicação. Foi colocada por uma reivindicação, inclusive de Dourados. E nós, reservamos esta vaga hoje, para o senador Murilo.

Claro que, isso tudo ainda é um quebra-cabeças que começa a se montar. Mas, é uma coisa real e concreta. Eu não vejo possibilidade de recuarmos a ponto de mudarmos o que foi estabelecido. Acho que a vaga é do Senado. E o que nós entendemos que no BDR o candidato natural é o Murilo. Que vai ter o nosso apoio.

Capital News: Com relação à campanha. Muito se tem falado sobre as campanhas casadas. Ou seja, políticos montando agendas juntas. Só que, muito se tem falado é sobre essa possibilidade, mas com políticos de partidos e até mesmo de coligações diferentes unindo forças. Um exemplo que é cogitado, até em decorrência de conclusões acima de declarações de ambos, é quanto ao Delcídio do Amarral (PT) e o Waldemir Moka (PMDB), podendo fazer isso na disputa ao Senado. Lembrando que Delcído já fez isso com Ramez Tebet, também do PMDB, na disputa em que o ex-governador Pedro Pedrossian era um dos nomes dados como certo. Como o senhor vê isso tudo? O senhor pensa em fazer algo assim?

Marun: A minha agenda política vai ser com candidatos que estiverem ao nosso lado. Nós ainda estamos administrando. Ainda existe uma agenda administrativa. Nós sempre colocamos: Administração é administração e eleição é eleição. Nós estamos em administração. Por exemplo, certo dia fizemos uma assinatura apara entrega de casa e lá estiveram o senador Delcídio e o deputado Biffi [Antônio Carlos Biffi, deputado federal pelo PT].

Agora, quando começar a campanha, você tenha certeza de que a minha agenda, a agenda do PMDB, é a agenda da aliança que nós formalizarmos aqui.

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Marun diz que é provável que PMDB se una novamente aos partidos que compõem BDR, mas, que não considera incoerência se André preferir apoiar Dilma Rousseff (PT)
Foto: Deurico/Capital News

Capital News: O senhor que viaja pelo Estado tanto para conversas políticas quanto para eventos da secretaria, como os peemedebistas do interior estão acompanhando esses rumores de eleições casadas? E, são realmente rumores, ou, no interior isto pode estar sendo proposto?

Marun: Olha, existe uma realidade: a aproximação nossa com o governo Lula – nossa aproximação – fez com que, da parte do PMDB, diminuísse a rejeição aos contatos com o PT. Nós podemos ver em alguns municípios, candidato do PMDB com vice do PT, em outros, candidato do PT com vice do PMDB – inclusive, em Corumbá, onde o vice é do PMDB. Então, isso gerou um estreitamento de relações em alguns lugares. E faz com que eu pense que, no caso se o PT tivesse decidido nos apoiar para governo do Estado, esta aliança teria condições muito concretas de se dar de forma bem eficiente.

Capital News: Então, o senhor também não acha que seria incoerente o PT apoiar o PMDB?

Marun: Não. Isso, obviamente, fez com que alguns prefeitos do PMDB tivessem apoio administrativo. Espero que isso contribua para que, na disputa, o nível seja elevado, como nós queremos.

Mas, isso não quer dizer que, iniciada a eleição, nós tenhamos qualquer dúvida sobre quem é o candidato que nós vamos apoiar.

Capital News: E como está a candidatura do senhor?

Marun: Eu vou avaliar isso a partir do momento em que eu sair da secretaria. Pretendo deixar em 31 de março.

O trabalho é muito forte. O que que a gente quer? Que haja um reconhecimento da sociedade a este trabalho.

Capital News: Com relação à sua campanha. O senhor acredita que o fato de ter deixado a Assembleia o favorece ou prejudica na tentativa de reeleição?

Marun: Eu entendo que o político cumpre e precisa ter serviço prestado. Ou seja, penso que se eu tivesse permanecido na Assembleia também teria prestado serviço de outra forma que me credenciariam a voltar para a população para pedir voto. Então, não diria nem que isso ajudou, nem que atrapalhou. Simplesmente, em função do momento em que estávamos vivendo, o governador entendeu que eu era a pessoa mais adequada [para ocupar a secretaria]. E, vou dizer para você uma coisa... sem falsa modéstia, eu entendo que a nossa participação, que a minha participação, foi fundamental. Porque, pela experiência acumulada que eu tinha, não por ser melhor ou pior que ninguém, mas, pela experiência que tenho, dificilmente, um outro teria conseguido corresponder à vontade do governador André Puccinelli.

Capital News: Já que o senhor cita esta “experiência”... fica aí uma pontinha de um desejo que já manifestou... de ser, em 2012, o candidato do PMDB à disputa pela Prefeitura de Campo Grande?

Marun: Cada eleição diz a história da outra. Agora, eu sinceramente só vou pensar nisso dia 4 de outubro de 2010. Até o dia 3 de outubro eu quero me eleger deputado estadual. “Tá”. Cada eleição diz a história da outra. Agora, se eu vier a pensar em Prefeitura, isso vai acontecer dia 4 de outubro. Até dia 3 de outubro de 2010 eu sou candidato a deputado estadual.

Capital News: Secretário, deixamos o espaço aberto para as considerações finais.

Marun: Eu penso que o homem público tem que servir naquele lugar que ele pode ser mais útil à população no momento em que se vive. Eu fui eleito deputado estadual, o governador me chamou para ser secretário de habitação e, eu aceitei, e estou convencido de que fiz a coisa certa. Como secretário de habitação, eu pude ser bastante útil para a população de Mato Grosso do Sul.

Volto para a Assembleia, vou terminar o meu mandato e, espero ter o reconhecimento da população de Mato Grosso do Sul, ao trabalho feito. Político não precisa de agradecimento, precisa de reconhecimento. E eu espero que este reconhecimento pelo trabalho que, gerenciando para o governador André Puccinelli, nós conseguimos fazer na área de habitação.

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Conversa foi no gabinete do secretário
Foto: Deurico/Capital News


Por: Marcelo Eduardo – (www.capitalnews.com.br)

 

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