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Cotidiano Terça-feira, 06 de Outubro de 2009, 09:17 - A | A

Terça-feira, 06 de Outubro de 2009, 09h:17 - A | A

Índios Terena param trânsito em BRs e pedem retomada de terras que consideram suas

Marcelo Eduardo, Jefferson Gonçalves e Nadia Nadalon – estagiária – Capital News

Aproximadamente 300 indígenas da etnia Terena bloqueia a BR-163 em Campo Grande (saída para Cuiabá). Eles reivindicam demarcações de terras que consideram como suas na região da divisa entre Sidrolândia e Dois Irmão do Buriti (a sudoeste da Capital).

Os índios são da aldeia Córrego do Meio, em Sidrolândia, de onde saíram por volta das 10h da noite de ontem. Na Capital, chegaram por volta das 5h30 de hoje, quando começaram o manifesto, no quilômetro 498.

A estrada está bloqueada com galhos e pneus em chama.

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Manifesto bloqueia BR-163 com troncos e pneus em chama
Foto: Deurico/Capital News

“Queremos que o presidente Lula tome conhecimento da nossa luta. Em São Paulo [refere-se ao Tribunal Regional Federal da 3ª Região, responsável por julgar processos também em Mato Grosso do Sul] já deu uma andada grande, mas, não sai de lá”, diz o cacique Basílio Jorge.

Conforme o líder indígena, não há previsão para que os manifestantes saiam. Basílio Jorge explica que atualmente cerca de 4,6 mil pessoas moram na área indígena onde fica a Córrego do Meio atualmente, em um espaço de 2,4 mil hectares. Os índios querem que a área aumente para cerca de 15 mil hectares. “Temos dois estudos antropológicos feitos sobre as fazendas [que circundam a aldeia]. Os dois mostram que são terras de nossos antepassados, que são terras indígenas”, explica Basílio.

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Basílio Jorge, cacique, diz que até cemitério indígena tem onde hoje é fazenda de nõa-índio
Foto: Deurico/Capital News

Em uma das fazendas próximas, existe, conforme estudo antropológico – explica Jorge – um cemitério indígena.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) acompanha o manifesto. Por enquanto, são aproximadamente 15 quilômetros de congestionamento no sentido Cuiabá (MT)/Campo Grande. A Polícia solicita que quem estiver no trafego e ainda não chegou no engarrafamento, que aguarde. Manifesto identico é feito na rodovia BR-262, em Miranda. Lá, seriam entre 500 e 600 Terena na estrada.

Conforme assessoria de imprensa da Governadoria, o Estado não se manifestará sobre o assunto, por dois motivos: “Porque é uma rodovia federal e porque é uma ação de indígenas [da alçada federal].”

A PF (Polícia Federal) diz que aguarda determinação da Funai (Fundação Nacional do Índio) para tomar atitudes. Através de sua assessoria de imprensa, informou que tomou conhecimento do fato pela mídia e que, geralmente, aguarda retorno da Funai para começar suas atividades com relação a questões indígenas.

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Índios são Terena da aldeia Córrego do meio, em Sidrolândia
Foto: Deurico/Capital News

Estudos comprovam que terra é indígena

A aldeia Córrego do Meio é uma das oito que forma a área indígena Buriti (na divisa entre os municípios de Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia). Os indígenas já entraram com recursos por diversas vezes para conseguir o direito de retomada das terras consideradas indígenas, hoje, ocupadas por fazendeiros. Estudos antropológicos mostrariam que as atuais fazendas fazem parte do antigo território índio.

Um dos estudos é o do professor com pós-doutorado em Antropologia Levi Marques Pereira, que atua na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados).

Finalizado em 2003, a pesquisa “Perícia arqueológica, antropológica e histórica da área reivindicada pelos Terena para ampliação de limites da Terra Indígena Buriti, município de Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, Mato Grosso do Sul, Brasil” foi desenvolvida para a Justiça Federal em Mato Grosso do Sul e constituiu-se em um trabalho de peritagem com o objetivo de avaliar se a área reivindicada pelos Terena para ampliação de limites da Terra Indígena Buriti era, de fato, de ocupação tradicional indígena, conforme estabelecido no Art. 231 da Carta Constitucional de 1988.

A conclusão da pesquisa, feita com todo rigor cientifico, é de que “as pesquisas arqueológicas, antropológicas e históricas atestaram tratar-se de uma terra de ocupação tradicional terena”.

MPF não vai a manifesto

Os indígenas, após acordo com PRF (Polícia Rodoviária Federal) e Funai (Fundação Nacional do Índio) decidiram abrir as estradas em Campo grande e Miranda por 45 minutos e depois retornar a fechá-la. A decisão foi cumprida.

Para deixar o local, segundo o cacique Jorge, eles solicitam a presença do procurador do MPF (Ministério Público Federal) Emerson Kalif Siqueira.

O Capital News entrou em contato com o MPF. Conforme assessoria de imprensa da instituição, o procurador “está em uma reunião inadiável”, segundo assessoria, e muito provavelmente, não poderá ir ao manifesto. A assessoria informa que, se fosse algo agendado, ele provavelmente seguiria ao local, mas o manifesto foi “inesperado”. A assessoria não informou onde é a reunião do procurador, mas disse que, possivelmente, não terá como efetuar ligações. Ele cuida de questões relacionadas a “onze tribos”, diz assessoria.(matéria editada às 10:16 para acréscimo de informações)

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Após acordo, estrada deve ser liberada a cada duas horas
Foto: Deurico/Capital News

 

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