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Reportagem Especial Sábado, 17 de Dezembro de 2022, 13:46 - A | A

Sábado, 17 de Dezembro de 2022, 13h:46 - A | A

Reportagem Especial

103 anos de história, Igrejinha São Benedito é reconhecida como o Patrimônio Histórico Material de Mato Grosso do Sul

Tombamento garante reconhecimento, mas comunidade quer a reforma do local

Renata Silva
Especial para o Capital News

Acervo pessoal

103 anos de história, Igrejinha São Benedito é reconhecida como o Patrimônio Histórico Material de Mato Grosso do Sul

Igrejinha São Benedito Tia Eva é tombada como Patrimônio Histórico de MS

É difícil quem passe pela comunidade quilombola Tia Eva que não fique encantado com as paredes azuis, as duas pequenas torres e o tamanho do prédio. Tão singela e original, a Igreja de São Benedito, que fica no jardim seminário, em Campo Grande chama atenção com seus 103 anos de história.

"A gente sempre foi reconhecido por causa da igreja"

 

“A gente sempre foi reconhecido por causa da igreja. As pessoas costumavam perguntar: Onde vocês moram? E a gente respondia: lá na Igrejinha. Que igrejinha? Na igreja de São Benedito”, é assim que a professora Vania Lucia Baptista Duarte fala ao explicar como os moradores eram lembrados. A igrejinha foi tombada como patrimônio histórico de Mato Grosso do Sul oficial este mês pelo Governo do Estado.

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103 anos de história, Igrejinha São Benedito é reconhecida como o Patrimônio Histórico Material de Mato Grosso do Sul

A comunidade negra Tia Eva é definida como uma comunidade urbana remanescente de quilombo desde 1905 e reconhecida pela Fundação Cultural Palmares. Pela Lei nº 2841, de 22 de dezembro de 2011


O prédio foi inaugurado em 1919, ele está bem no meio da Comunidade Quilombola Tia Eva. No local, moram atualmente cerca de 150 famílias, mas afinal, caro leitor, você sabe quem é a Tia Eva? Eva Maria de Jesus, mais conhecida como Tia Eva, foi uma escrava nascida em Mineiros, em Goiás. Ela veio para Mato Grosso Do Sul em 1905, cinco anos depois fundou a comunidade quilombola onde está a igreja.

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103 anos de história, Igrejinha São Benedito é reconhecida como o Patrimônio Histórico Material de Mato Grosso do Sul

Tataraneta da Tia Eva relembra histórias vividas na Igrejinha


A professora Vânia, de 44 anos é tataraneta da Tia Eva, e conta que a falecida construiu a igreja em forma de agradecimento. Segundo ela, a avó ficou muito debilitada por causa de uma doença na perna e disse que se curasse construiria a igreja por causa da graça alcançada. “Ela foi feita de um fruto de uma devoção de tia Eva a São Benedito a Graça, a compensação. Eu vou fazer a igreja para homenagear o santo que me agraciou com uma benção”, detalha a professora.

A igrejinha já havia sido tombada como patrimônio histórico anteriormente, no dia 5 de maio de 1998. Dez anos depois, a Fundação Cultural Palmares concedeu a Certidão de Autodefinição como Comunidade Remanescente de Quilombos aos descendentes de Tia Eva, no entanto só no dia 8 de dezembro de 2022 o tombamento da “Igreja de São Benedito - Tia Eva”, foi tombada como bem do Patrimônio Histórico Material do Estado de Mato Grosso do Sul.

 

De acordo com o Secretário de Estado, de Cidadania e Cultura Eduardo Romero este decreto regulariza juridicamente o processo de tombamento, os anteriores haviam sido feitos através de resolução, ou seja, eram frágeis sob o ponto de vista jurídico.

Embora o tombamento seja importante para manter viva a história da igreja, os moradores pedem algo mais urgente: a reforma da igreja. Segundo eles, desde 2020 as cerimônias de batismo, casamentos que enterros deixaram de ser feitas no local por causa da estrutura que está comprometida.

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103 anos de história, Igrejinha São Benedito é reconhecida como o Patrimônio Histórico Material de Mato Grosso do Sul

Presidente da Associação dos Descendentes da Tia Eva pede reforma no local


Segundo o secretário de estado, de cidadania e cultura já existe um projeto aprovado feito em conjunto com a comunidade, prefeitura e estado que prevê a reforma do espaço da comunidade, a restauro da igreja e a revitalização. Esse projeto está orçado em cerca de dois milhões de reais, no entanto é necessário regularizar a situação documental da igrejinha e posteriormente abrir a licitação.

Enquanto essa situação não se resolve, o Presidente da Associação dos Descendentes da Tia Eva Ronaldo Jéferson da Silva teme com o tempo que isso tudo possa levar. “Nós precisamos que as autoridades possam agir o quanto antes e nos ajudar a reformar o local, temos medo que isso demore e a nossa história se perca”, finalizou.

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