Acredito que quase todas as pessoas em nosso país já ouviram falar das “profecias” que ocorrem no meio evangélico atual. No imaginário cristão contemporâneo, principalmente no meio evangélico, o conceito de profecia foi em grande parte esvaziado de seu sentido e de seu peso original. Para muitos, profetizar tornou-se sinônimo de anunciar bênçãos, sucesso profissional, curas e conquistas pessoais. A figura do profeta, que outrora era associada à denúncia do erro e ao chamado ao arrependimento, hoje é frequentemente vista como um mensageiro de promessas agradáveis. No entanto, na tradição bíblica, o papel profético nunca foi o de agradar ou entreter, mas de confrontar, alertar e apontar o caminho da verdade — ainda que isso significasse ser rejeitado, silenciado ou perseguido.
Vivemos dias em que as pessoas se recusam a ouvir aquilo que não agrada a seus ouvidos. O homem moderno se afastou tanto do padrão moral revelado por Deus que já não suporta mais ser exortado. Querem profecias que massageiem o seu ego, que tragam promessas de abundância, e que garantam bênçãos incondicionais, como se a vontade de Deus se moldasse aos caprichos humanos. Contudo, ao olharmos para os profetas do Antigo Testamento, vemos outra realidade: suas palavras eram proferidas ao povo com o propósito de correção, de alerta, de denúncia contra os desvios morais do povo. Eram palavras que não buscavam agradar, mas transformar. Eram profecias que poucos queriam ouvir, mas que todos precisavam escutar.
O problema é que, em nossa sociedade atual, adoecida pelo relativismo e pelo egoísmo extremo, muitos não suportam mais ouvir que há uma maneira correta de viver, que há mandamentos a serem obedecidos, que há consequências para os erros cometidos. Preferem se apegar a promessas descontextualizadas e a palavras doces, esquecendo-se de que, conforme ensina Deuteronômio 28, a bênção é consequência natural da obediência. É como se o povo tivesse trocado a aliança por amuletos, e a responsabilidade pela superstição. Hoje, profetizar bênção para quem vive no erro é o mesmo que dar alta a um enfermo que ainda nem começou o tratamento.
Não é necessário profetizar bênção para quem vive de acordo com a vontade de Deus. Essa frase, simples, mas profunda, resume o espírito do que os profetas antigos tentavam comunicar. O justo não precisa de promessas extras — sua vida é, por si só, um testemunho de que a obediência conduz à paz. Mas o ímpio, que se recusa a ouvir o chamado ao conserto, deseja tapar os ouvidos com palavras que anestesiem a consciência. É por isso que os verdadeiros profetas eram apedrejados, presos e escarnecidos. Porque diziam o que era preciso, e não o que o povo queria. Jeremias foi lançado numa cisterna por anunciar a destruição de Jerusalém; Amós foi expulso por confrontar os pecados de Israel. Hoje, fazem o mesmo — apenas trocaram as pedras por desprezo e as prisões pela cultura do cancelamento.
O curioso é que, mesmo com tanta resistência, Deus continua levantando vozes. Ainda que em meio a um povo que ama o engano e se alimenta de ilusões, sempre haverá aqueles que, como um lavrador fiel, semeiam a verdade com lágrimas. E essas verdades continuam desconfortáveis. Continuam sendo aquelas profecias que ninguém quer ouvir. Falar de juízo, de santidade, de renúncia, de integridade, tornou-se um escândalo numa época em que tudo é permitido e nada é exigido. Mas a Palavra de Deus permanece firme. E ela continua sendo lâmpada para os pés de quem a ama, e pedra de tropeço para quem a rejeita.
Não há como edificar sobre areia e esperar que a casa permaneça. Não há como viver de qualquer maneira e cobrar de Deus bênçãos que foram prometidas àqueles que guardam seus estatutos. A espiritualidade pós-moderna quer milagres sem obediência, céu sem cruz, glória sem santidade. É por isso que, ao invés de se submeterem ao Deus das Escrituras, fabricam deuses à sua imagem. Mas os verdadeiros profetas sempre nos lembrarão: o Senhor não é servo dos nossos desejos, Ele é Rei sobre todas as coisas. E sua Palavra não muda. Antes de prometer bênçãos, Ele nos chama ao arrependimento. Antes de conceder vitórias, Ele exige fidelidade. Essa é a profecia que ninguém quer ouvir — e justamente por isso, é a mais urgente.
Que cada um de nós, ao invés de fugir das palavras duras que nos confrontam, possamos acolhê-las como sinais de amor e de cuidado. Que voltemos os ouvidos para os avisos que nos chamam ao caminho estreito. E que tenhamos coragem de viver de tal modo que já não precisemos de profecias para nos consolar, mas que sejamos nós mesmos testemunhos vivos de que a bênção é o resultado natural de uma vida alinhada à vontade de Deus. Em tempos de palavras fáceis, que sejamos defensores da verdade difícil. Pois somente a verdade tem poder para libertar, mesmo quando ela dói.
*Wanderson R. Monteiro
Autor de São Sebastião do Anta – MG.
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.
Acadêmico correspondente da FEBACLA. Acadêmico fundador da AHBLA. Acadêmico imortal da AINTE.
Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros.
Autor de 10 livros.
Vencedor de 4 prêmios literários. Coautor de 15 livros e 4 revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)
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