A Polícia Federal em Ponta Porã conclui uma segunda fase do inquérito e aponta que indiciou 23 pessoas por envolvimento na morte do cacique Nísio Gomes, após ataque ao acampamento indígena Guayviry, de Aral Moreira. Contudo, a federal continua outras investigações, até porque ainda não se encontrou o corpo do indígena. O número e ratificação de que ainda está com o processo em andamento, foi feita nesta sexta-feira (20), em nota oficial da Superintendência Regional da PF em Campo Grande, enviada pela delegacia da fronteira. A PF informou que não vai divulgar os nomes dos indiciados, pois o caso corre em segredo de Justiça.
O delegado federal de Ponta Porã, Jorge Figueiredo disse houve, de fato, um ataque ao acampamento. “Isso já foi comprovado e algumas pessoas identificadas”, garantiu o delegado.
O cacique está desaparecido desde o dia 18 de novembro de 2011 e conforme o Ministério Público Federal (MPF) cerca de 30 indígenas foram surpreendidos pelos atiradores, no acampamento. Segundo depoimentos dos índios à PF, grupo formado por cerca de 20 homens chegou numa caminhonete, atirado com balas de borracha e atingindo três indígenas. Durante o ataque, Nísio desapareceu.
Conforme o delegado, do total de 23 indiciados, 18 estão presos por mandados de prisão preventiva, acusados pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de cadáver, fraude processual e corrupção de testemunhas. Houve ainda o indiciamento de um funcionário da Funai (Fundação Nacional do Índio) pelos crimes de formação de quadrilha e coação no curso do processo, pois se alega que tentou coagir uma importante testemunha a mudar seu depoimento na polícia.
Alguma identificação e novas povas
Entre os presos, dez pessoas são ligados a uma empresa de segurança privada de Dourados, incluindo o proprietário e gerentes. Também foram indiciados um advogado e seis produtores rurais de Ponta Porã e Aral Moreira, além do funcionário da Funai e um advogado com registro do Paraná. Entre os fazendeiros, um é presidente de um Sindicato Rural no Estado.
O delegado Figueiredo lembra que como já havia divulgado, as provas colhidas pela Polícia Federal apontam que efetivamente o cacique Nízio Gomes foi morto no acampamento e seu corpo teria sido levado do local em uma caminhonete. Mas ainda não houve oportunidade de encontrar o corpo.
“O corpo do cacique Nízio Gomes teria sido ocultado pelos fazendeiros que ao que tudo indica, atuaram como ‘mandantes’ do ataque aos índios. O local onde está o corpo do cacique ainda está sob investigação da Polícia Federal. Pelo que consta, alguns dos fazendeiros presos sabem exatamente onde o corpo estaria escondido, no entanto nenhum deles demonstrou interesse em colaborar com as investigações e informar o local em que teriam ocultado o corpo”, apontou.
Comprovação realizada
A PF divulgou que um dos envolvidos viu o momento em que Nísio Gomes foi ferido com um tiro abaixo de uma das axilas. Este homem disse ainda que checou o pulso do índio e constatou que ele estava morto. O suspeito ainda confessou ter participado da retirada do corpo do local, mas não informou com exatidão onde o índio teria sido sepultado. Gomes foi assassinado com tiro de espingarda calibre 12. De acordo com a PF, envolvidos teriam pago a um indígena para espalhar que o cacique Nísio estaria escondido numa aldeia no Paraguai.
Entretanto, após um intenso trabalho de investigação, os policiais conseguiram provar ao indígena que ele estava indicando pistas falsas, momento em que ele resolveu falar a verdade de que Nízio Gomes estava morto e que ele havia sido contratado pelos fazendeiros para tentar ludibriar a polícia. Em troca, de dinheiro e ainda da promessa de que queriam elegê-lo vereador.
Os fazendeiros e o advogado encontram-se presos na Delegacia de Polícia Federal de Ponta Porã/MS, havendo previsão de suas remoções nesta sexta-feira (20) para estabelecimentos prisionais no Estado.