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Cultura e Entretenimento Terça-feira, 08 de Janeiro de 2008, 14:25 - A | A

Terça-feira, 08 de Janeiro de 2008, 14h:25 - A | A

Masp errou sobre autoria de quadro, dizem especialistas

G1

O quadro "Índios atravessando um riacho (O caçador de escravos)", que faz parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo (Masp), abalado há menos de um mês com o furto de duas de suas mais valiosas obras, não é de autoria do pintor francês Jean-Baptiste Debret, e sim do italiano Augustin Brunias, segundo uma comissão formada por seis especialistas, entre eles o historiador Pedro Corrêa do Lago.

De acordo com a conclusão do grupo, que está em um catálogo sobre Debret (1768-1848) recentemente lançado, as características não condizem com o cenário brasileiro pintado pelo francês em suas outras obras e sim com telas de Brunias (1730-1796). Os cestos e objetos indígenas e as roupas do europeu são elementos destoantes apontados pela comissão, formada por Jean Boghici, João Hermes Pereira de Araújo, Claudine Lebrun Jouve, Zuzana Peternostro, Julio Bandeira e Côrrêa do Lago, os dois últimos autores do livro sobre os quadros do francês.

Ao G1, Corrêa do Lago disse que é bastante comum em todos os museus do mundo e aceito com naturalidade por curadores e diretores de museu a revisão da autoria de quadros - o que não significa que a obra seja falsa, como se acredita muitas vezes. Mas ele não deixou de apontar uma falha no trabalho de especialistas que analisaram o conjunto do Masp - um catálogo de 1998 do museu chegava a ressaltar dados que indicavam a autoria de Debret para "Índios atravessando um riacho (O caçador de escravos)".

"Os historiadores encarregados do trabalho de se debruçar sobre o acervo do Masp não foram até o final, não fizeram o dever de casa. Se tivessem feito isso, teriam percebido as semelhanças óbvias do que achavam ser o quadro de Debret com o trabalho de [Augustin] Brunias. Houve aqui um caso específico de equívoco, mas eu tenho o maior respeito sobre o trabalho de vários profissionais da área no Brasil", declarou.

"Os profissionais que estudaram 'Índios atravessando' até tinham a intuição de que algo não estava no lugar, dizendo que o suposto Debret carregava elementos do século 18, mas não buscaram candidatos alternativos para a autoria da pintura."

O Masp, por meio de sua assessoria de imprensa, concorda que a revisão é um processo natural dentro da arte e diz que vai analisar a possibilidade de "Índios atravessando um riacho (O caçador de escravos)" não ser de Debret.



O museu tem marcada para esta sexta-feira (8) a sua reabertura, adiada por duas vezes desde que foi alvo da ação de um grupo que levou a tela "Retrato de Suzanne Bloch", do espanhol Pablo Picasso, de 1904, e "O lavrador de café", pintado pelo brasileiro Cândido Portinari em 1939 no último dia 20 de dezembro.

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