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Educação e Carreira Domingo, 20 de Março de 2022, 11:58 - A | A

Domingo, 20 de Março de 2022, 11h:58 - A | A

Coluna Educação e Carreira

Como incentivar o prazer da leitura desde a infância?

Por Débora Ramos

Da coluna Educação e Carreira
Artigo de responsabilidade do autor

O hábito deve ser inserido de forma lúdica e incorporado à existência da criança

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ColunaEducaçãoECarreira

No livro “O menino que aprendeu a ver'', Ruth Rocha conta a história de João, uma criança que aprende a ler. Viajamos com ele na descoberta que as letras formam palavras, e como mágica, um novo mundo se revela nas placas dos ônibus, nos outdoors, no quadro da escola. Nascemos com genes para enxergar, andar, falar, mas nosso cérebro não foi programado para ler. Parece estranho? A escrita e, consequentemente, a leitura são invenções humanas, habilidades adquiridas, uma conquista evolutiva. A criação do hábito abre possibilidades e muda destinos. Promove o desenvolvimento intelectual e emocional, estimula a imaginação e a formação de cidadãos mais conscientes. Mas em uma época hiperconectada, com tantas distrações que capturam a atenção, como incentivar o prazer da leitura desde a infância?

É um desafio que os pais e a escola necessitam enfrentar juntos. O educador Roberto Freire dizia que “é preciso que a leitura seja um ato de amor”. O ato envolve comprometimento e presença, não é algo mecânico. A leitura deve ser inserida de forma lúdica e incorporada à existência da criança, não ser imposta como uma obrigação escolar enfadonha. Os nativos digitais se relacionam de forma mais orgânica com a internet, com a concentração pulverizada pela diversidade de opções. Para concorrer com “o canto da sereia” da tecnologia, a leitura também deve encantar, ser apresentada como algo vivo, uma potente ferramenta criativa. A criança como agente do processo, e não uma caixa receptora de conteúdo, mas como produtora de sentidos e saberes. A leitura da palavra vem precedida da leitura do mundo, que em cada um é singular.

A falta de vínculo emocional com a leitura começa na infância. Essa realidade é refletida nos números: o brasileiro lê em média dois livros inteiros por ano; na França, a média é de 21 livros. Conforme a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo IBOPE, 48% da população brasileira não lê, e 67% relataram que não tiveram alguém que as incentivasse durante a vida. Os entrevistados destacaram como razões a escassez de tempo, não ter paciência, dificuldade com a leitura, não gostar de ler e cansaço. O tempo livre é dedicado com frequência ao tráfego nas mídias sociais. Nesse cenário, como construir uma relação prazerosa com a leitura desde os primeiros anos? Elencamos algumas dicas que vão ajudar a fomentar futuros leitores.

Comece pelo exemplo
Como convencer a criança a deixar de lado os joguinhos, se afastar dos aparelhos eletrônicos, se os pais estão hipnotizados pela tela do celular? Como dizer que ler é importante se o exemplo não é visto em casa? A responsabilidade da educação é terceirizada para a escola, mas é algo inerente à família. A apresentação da leitura vem antes da alfabetização, e 20 minutos por dia dedicados a contar histórias fazem a diferença. Aguça a imaginação, melhora a memória, desenvolve a concentração, amplia o vocabulário e cria laços afetivos. Faça do momento algo precioso. Exercite a criatividade, dramatize, experimente diferentes entonações, cante. Se a criança já conseguir verbalizar o que sente, pergunte sobre as opiniões, a envolva no enredo. Estimule uma aproximação genuína com a história.

Ler é uma aventura: associe a passeios e filmes
Caso o livro fale de animais, faça um passeio ao zoológico da sua cidade. Se mencionar algum país, mostre imagens na internet ou veja filmes. As diferentes linguagens dialogam e contribuem para a formação do repertório. A leitura é uma jornada que pode começar em um livro, mas não se encerra nele. A criança que é fisgada pelo prazer da leitura percebe que é um mecanismo de recriação da realidade.  

Observe os interesses
Escolha livros apropriados à idade da criança. Identifique também os interesses, que gêneros ela gosta mais e os assuntos compartilhados com os colegas. A leitura orientada pelos interesses torna a prática mais convidativa. Respeite as preferências, mas estimule também outros títulos, para ampliar a percepção. Os quadrinhos podem ser um meio de apresentar conteúdos complexos de maneira mais leve e formar leitores menos passivos. Além de promoverem o senso crítico e o desenvolvimento cognitivo, amadurecem os vínculos emocionais com a leitura.

Colabore com a escola
Acompanhe as atividades e leituras recomendadas pela escola. A confiança e a parceria entre a escola e a família é a base para a formação integral. Na realização da lição de casa, na apostila de educação infantil, incentive a leitura, a compreensão do texto e provoque a imaginação. A criança que tem um ambiente familiar favorável à troca de experiências, com os livros inseridos no cotidiano, tem mais facilidade de compartilhar o conhecimento.

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