Com a confirmação de um caso de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial em Montenegro (RS), órgãos de Mato Grosso do Sul intensificam as estratégias de prevenção com foco na educação sanitária e biossegurança no campo. A mobilização é liderada pela Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), com apoio da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) e parceria estratégica da Embrapa Pantanal.
As ações envolvem capacitações, oficinas, visitas técnicas e vigilância participativa, com foco especial em agricultores familiares, comunidades tradicionais e indígenas. A proposta é levar informação acessível sobre biosseguridade e biossegurança às propriedades, principalmente em regiões de fronteira e onde há criação de aves de subsistência.
“A saúde é um processo complexo. A gripe aviária ameaça não apenas os animais, mas também a segurança alimentar de comunidades que dependem desses animais”, afirma a pesquisadora Raquel Juliano, da Embrapa Pantanal. A instituição atua com base nos princípios da Saúde Única (One Health), que integra saúde animal, humana, vegetal e ambiental.
Com as pesquisadoras Adriana Araújo, Aiesca Pellegrin e Raquel Juliano à frente, a Embrapa desenvolve o projeto “Aves de quintais para uso alimentar e artesanal”, financiado pela Fundect. A iniciativa inclui a implantação de módulos de criação protegida e ações em escolas e comunidades, visando o fortalecimento do conhecimento técnico de base.
“Estamos desenvolvendo, em parceria com a Agraer e a Iagro, um material técnico voltado à orientação de profissionais que atuam junto a agricultores familiares, comunidades tradicionais e indígenas”, explica Raquel. A estratégia também prevê diálogo com grêmios estudantis, Escolas Famílias Agrícolas (EFA) e parcerias com instituições locais para construir um plano de comunicação colaborativo. “Os grupos de mulheres também são aliados fundamentais nesse processo, já que, em muitas comunidades, o cuidado diário com as aves de quintal está sob responsabilidade delas”, destaca.
A Agraer, por sua vez, tem reforçado a capacitação dos técnicos que atuam em campo. “Em março, nossos técnicos já haviam sido treinados em práticas de biossegurança para criações de pequeno porte. Em junho, realizaremos uma nova capacitação focada exclusivamente na gripe aviária”, afirma a zootecnista Thainara Rocha.
Segundo ela, muitas propriedades ainda mantêm aves soltas, sem cercas ou proteção contra animais silvestres, o que amplia o risco de contaminação. “Uma vez confirmado o foco, a medida de contenção é o sacrifício dos animais, o que gera prejuízos que atingem toda a cadeia”, alerta.
Janine Ferra, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Animal da Iagro, reforça a importância da estrutura física (biosseguridade) e dos cuidados com o operador (biossegurança). “Ambas são indispensáveis para evitar a entrada e a disseminação de doenças”, explica.
Ela também orienta os produtores a ficarem atentos a sinais como andar cambaleante, inchaço na cabeça, olhos vermelhos, coriza, espirros, tosse, dificuldade respiratória, diarreia, manchas nas pernas e mudança na coloração da crista. “A mortalidade repentina também é um alerta importante. Ao notar qualquer anormalidade, é essencial notificar imediatamente a Iagro, que deve atuar em até 12 horas”, reforça.
Para garantir agilidade na resposta, os órgãos envolvem também a formação de multiplicadores entre técnicos e lideranças rurais. “Todos precisam se sentir parte do processo de vigilância, para prevenção e controle de doenças, independentemente do tamanho do plantel. Quando o produtor sabe reconhecer os sinais de uma doença e como agir, ele se torna uma peça-chave na proteção da saúde”, conclui Raquel Juliano.
Com essa articulação interinstitucional, a meta é manter Mato Grosso do Sul livre da influenza aviária e com capacidade de resposta rápida, protegendo não só a saúde das aves, mas também das famílias e do abastecimento alimentar de todo o Estado.