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Opinião Terça-feira, 26 de Agosto de 2025, 19:15 - A | A

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Superfãs: os guardiões da música na era digital

Por Mabel Radel*

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Eles viajam milhares de quilômetros, compram todos os produtos oficiais — e alguns não oficiais —, assistem aos mesmos shows repetidas vezes e compartilham cada momento nas redes sociais. Os superfãs não são novidade, mas nunca foram tão valorizados pela indústria musical como agora.

Segundo um relatório da Vinyl Me Please, os superfãs representam menos de 2% da base de ouvintes, mas respondem por mais de 80% do engajamento com conteúdo musical online. São eles que impulsionam lançamentos, lotam shows, viralizam tendências e alimentam comunidades digitais em torno dos artistas. Reconhecendo essa influência, o Spotify lançou em 2024 a categoria Superfan Tier, oferecendo faixas antecipadas, produtos colecionáveis e acesso a experiências VIP.

Logo, é impossível ignorar o impacto que os superfãs têm na performance de uma turnê ou campanha. Eles não apenas compram o ingresso — como transformam o show em uma experiência cultural, geram conteúdo, movimentam comunidades e dão longevidade ao projeto. Em muitos casos, é o superfã que mantém a relevância de um artista entre ciclos de lançamentos, garantindo que seu nome continue em alta mesmo quando não há novidades no ar.

Por isso, a valorização dos superfãs mudou a forma como se planejam eventos e campanhas. Nos dias atuais, o produtor que ignora esse público perde a alma do projeto. É preciso que tudo seja pensado para gerar identificação, desde o conteúdo nas redes até as ativações presenciais. Um bom evento começa muito antes do show — e continua depois, quando vídeos, fotos e relatos passam a circular na internet, multiplicando o alcance da experiência original.

O novo desafio, porém, é perceber que o engajamento não se limita ao universo pop. Por muito tempo se falou de superfãs pensando apenas em artistas como Taylor Swift ou BTS, mas a realidade é que qualquer gênero tem fãs super engajados que estão dispostos a consumir, participar e promover. Bandas de metal, rappers independentes, artistas regionais e até orquestras sinfônicas encontram nesses grupos uma força vital que garante estabilidade e expansão.

Nesse cenário, a relação entre artista e superfã também se reinventa. Já não basta apenas lançar músicas: é necessário criar narrativas, oferecer exclusividades, abrir janelas de diálogo e proporcionar experiências únicas. A personalização se tornou um diferencial poderoso. Desde playlists feitas pelo próprio artista até encontros virtuais, quanto mais próxima e autêntica for a interação, mais forte será a conexão.

Hoje, o futuro da música está nas comunidades. Plataformas e algoritmos mudam. Mas a conexão emocional entre artista e fã é o que sustenta uma carreira. E os superfãs são os guardiões dessa conexão — aqueles que transformam músicas em hinos pessoais, artistas em símbolos culturais e turnês em verdadeiros movimentos coletivos.


*Mabel Radel
Produtora musical formada em Comunicação e Marketing pela Universidade da California, e especialista em Music Business pelo Musicians Institute Hollywood.

 

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