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Governo cava pacote sem solução e agro continua enterrado em juros e tarifas

Por Wolney Arruda*

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O pacote de R$30 bilhões anunciado pelo governo federal como resposta emergencial ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos acendeu o alerta no setor produtivo. Nos capítulos vivos da história, os autores insistem em histórias que já têm um desfecho trágico, e nada cômico aos personagens.

Quem acompanha os artigos, percebeu que passamos por Hollywood às lágrimas dos dramalhões mexicanos, aquecidos pelo inferno de Dante na “Divina Comédia”, até chegarmos ao palco tropical do “Bem Amado”. Por meio da arte, vemos a realidade imitar a ficção. A obra-prima de Dias Gomes, que satiriza a política brasileira com pactos, favores e improvisos, serve como espelho perfeito do momento que o agronegócio vive diante do “Plano Brasil Soberano”.

Tal qual o prefeito Odorico Paraguaçu, o governo anuncia medidas grandiosas em tom triunfal, mas que no fundo escondem a fragilidade de uma estratégia construída mais para produzir manchetes do que soluções. O crédito bilionário soa como promessa de inaugurar o cemitério da cidade: resolve no discurso, mas deixa o problema real intocado. Afinal, de que adianta anunciar bilhões se o custo desse dinheiro, com os juros mais altos do planeta, pode transformar alívio em armadilha?

Enquanto isso, na vida real do campo, o roteiro é bem menos cômico - trágico e muito mais dramático. Os produtores já sentem o peso da queda da arroba desde o primeiro dia do tarifaço. A Associação dos Criadores de Mato Grosso lembra que o pecuarista vem amargando perdas de quase R$400 por animal abatido, o que significa uma sangria de 12 milhões de dólares diários. Nesse enredo, não há vilões caricatos ou discursos engraçados: há famílias vendo sua renda evaporar e investimentos pararem. Enquanto isso, empregos ficam à mercê da sorte.

A Federação de Agricultura do Estado de São Paulo, em nota, também reforça a preocupação com a falta de diplomacia. O protecionismo americano não pode ser tratado como fatalidade, como se fosse destino traçado por fado trágico. É preciso separar política de economia, retomar negociações bilaterais e construir caminhos que protejam o produtor rural, pilar da nossa economia. Caso contrário, o Brasil corre o risco de ficar encurralado em promessas de pacotes emergenciais que não resolvem o enredo principal.

O grande perigo é que essa novela, se prolongada, transforme-se em tragédia anunciada: margens cada vez mais apertadas, endividamento crescente e um agro incapaz de investir em tecnologia e sustentabilidade. A ficção de Dias Gomes, que ironizava a política, agora encontra paralelo assustador na realidade de quem produz alimentos.

E assim seguimos: de Hollywood ao sertão de Sucupira, de Dante a Odorico, em uma narrativa que parece escrita para lembrar que o Brasil insiste em improvisar onde deveria planejar. Mas ao contrário da ficção, o desfecho aqui não é opcional. O futuro do agro depende de escolhas firmes e urgentes — e não de mais um capítulo de promessas bem ensaiadas.

A sátira sempre foi um recurso literário para rir da própria realidade. No teatro, no cinema ou nas páginas de um romance, ela nos permite encarar os absurdos com ironia, fechar o livro e colocá-lo de volta na estante. O problema é que, no Brasil, as histórias parecem se repetir, como se a memória nacional fosse curta demais para evitar o retorno dos mesmos enredos. E o custo de reler páginas já folheadas transforma a gargalhada em um esboço de sorriso — às vezes acompanhado de uma lágrima. Em Sucupira, tudo não passava de ficção. Aqui, o palco é a vida real.


*Wolney Arruda
Administrador de empresas e Presidente da Plantae Agrocrédito, que está no mercado há mais de 20 anos com atuação financeira. Com sede em Presidente Prudente/SP, a empresa está presente em vários segmentos do agro e tem parcerias com grandes companhias do ramo de pecuária, como MFG, Marfrig e Minerva, setor sucroenergético, com Tereos, Cofco, Adecoagro, Cocal, Grupo CMAA, CMNP, Usina Jacarezinho, Energética Santa Helena, Viterra Bioenergia, ATVOS, setor de citrus, com a Citrosuco, além do segmento de grãos com COFCO, ADM, Cargill, entre outras.

 

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