A revolução digital já não é mais algo distante: ela está aqui, no nosso dia a dia, transformando silenciosamente (e às vezes, ruidosamente) a forma como trabalhamos, nos relacionamos com as empresas e até como enxergamos o que é “ter um emprego”. Mais do que uma era de mudanças, estamos vivendo uma verdadeira mudança de era.
A tecnologia está redesenhando as carreiras, os modelos de trabalho e até os caminhos para se construir uma trajetória profissional. Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2025, 85 milhões de empregos devem ser substituídos por máquinas. Por outro lado, 97 milhões de novas funções devem surgir — muitas delas ainda nem existem. Já o LinkedIn Learning aponta um dado ainda mais impactante: até 2030, 1 bilhão de pessoas no mundo precisarão ser requalificadas.
É o começo de um novo jogo. A automação e a inteligência artificial estão evoluindo numa velocidade três vezes maior do que a criação de empregos tradicionais. Mas é importante entender: a tecnologia não elimina pessoas — ela substitui tarefas. Isso muda tudo. Bancos, por exemplo, adotaram caixas eletrônicos inteligentes, liberando os atendentes para atuar como consultores. Indústrias passaram a usar robôs para soldagem e inspeção, enquanto os operadores se transformam em supervisores tecnológicos. No marketing, a IA ajuda a gerar conteúdo, mas o olhar estratégico — que interpreta os dados e entende o comportamento do consumidor — continua sendo humano.
Outro fenômeno dessa nova economia é a ascensão da "gig economy", ou economia sob demanda. Plataformas como Uber, iFood, 99Freelas e outras abriram portas para trabalhos mais flexíveis, mas também mais instáveis. O vínculo tradicional com uma única empresa está dando lugar a relações de trabalho mais fluidas, em que a segurança profissional vem, principalmente, da capacidade de se adaptar e aprender rápido.
E é justamente aí que entram as novas habilidades. No lado técnico, dominar ferramentas digitais, entender o básico de análise de dados, conhecer plataformas como CRMs ou recursos com inteligência artificial deixou de ser “um diferencial” — virou necessidade. Mesmo quem não é programador precisa compreender lógica de programação, pelo menos para se comunicar com a tecnologia.
Mas as soft skills (habilidades humanas) continuam sendo o trunfo. Pensamento crítico, criatividade, inteligência emocional, comunicação clara e vontade de aprender são características que nenhuma máquina consegue replicar. E são essas qualidades que as empresas estão procurando cada vez mais — profissionais adaptáveis, curiosos e com sede de evolução.
Hoje, o portfólio fala mais alto que o currículo tradicional. Experiências práticas, projetos entregues, aprendizados adquiridos — tudo isso conta (muito!) na hora de se destacar no mercado.
Só que essa transformação também traz um alerta: a inclusão digital ainda é um desafio enorme. No Brasil, mais de 20 milhões de pessoas não têm acesso regular à internet. As barreiras digitais afetam, principalmente, quem tem menos escolaridade, mulheres e trabalhadores mais velhos. Enquanto novas profissões surgem, muitas pessoas ainda não têm acesso às ferramentas básicas para acompanhar essa mudança.
Para quem está no mercado — ou quer entrar —, o caminho é investir em aprendizado contínuo. Plataformas como Coursera, Alura, Senai, Sebrae, YouTube e LinkedIn Learning oferecem cursos gratuitos ou acessíveis para todos os níveis. Aprender Excel, Power BI, ferramentas colaborativas e noções de dados é um excelente começo. Além disso, manter um perfil atualizado no LinkedIn, participar de comunidades, eventos e desenvolver uma mentalidade empreendedora são passos essenciais, mesmo para quem está em empregos formais.
Do lado das empresas, o momento exige ação. É hora de criar programas internos de reskilling (requalificação) e upskilling (atualização de competências), com foco no que os colaboradores podem aprender e não só no que já sabem. Redesenhar cargos, criar trilhas de aprendizado e promover inclusão digital são iniciativas que ajudam a preparar equipes para o futuro que já chegou. E o mais importante: usar dados para entender as lacunas de capacitação e agir de forma estratégica.
No final das contas, a nova regra do jogo é clara: não importa mais apenas o que você sabe, mas o quanto você é capaz de aprender e se reinventar. O trabalho mudou — e vai continuar mudando. Mas com acesso, preparo e uma dose de coragem, essa revolução pode ser uma das maiores oportunidades do nosso tempo.
*Bárbara Nogueira
Diretora, Career Advisor & Headhunter da Prime Talent, empresa presente em 27 países pela Agilium Group. Ao longo de sua carreira já avaliou mais de 15 mil executivos de alta gestão. É Conselheira de Administração pela Fundação Dom Cabra | FDC e do ChildFund Brasil. Ela possui certificação de Executive Coach pela International Association of Coaching, é especialista em Microexpressões e Programação Neuro-linguística e possui vivência Internacional na Inglaterra e USA.
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