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Marcha, vestiba, cabeça de leitor

Por Rodrigo Wieler*

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Baterias de simulados, batalhões e mais batalhões de apostilas e, para piorar, as fórmulas da Física, da Matemática e até da Química que são como minas no meio do seu caminho. Vencer os vestibulares mais concorridos do país não é missão para qualquer recruta — é entrar, de fato, em um campo de batalha. E eu garanto para você, vestibulando, que, nessa guerra, as obras de leitura obrigatória são as armas que decidirão quem sai vitorioso. Saber explorar cada uma delas é como mapear todos os flancos do terreno de batalha e ampliar o seu arsenal.

Tome como exemplo obras mais antigas, como “Liras de Marília de Dirceu”, “Noite na Taverna” e “A Falência”, presentes na lista da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e de autoria, respectivamente, de Tomás Antônio Gonzaga, Álvares de Azevedo e Júlia Lopes de Almeida. São livros que exigem um duelo corpo a corpo, quase como uma esgrima intelectual, não só com os enredos, mas também com as características dos escritores e das escolas literárias a que pertencem, nesta ordem: Arcadismo, com sua idealização da natureza e harmonia clássica; o Ultrarromantismo, marcado pelo pessimismo e culto à morte; e o Realismo-Naturalismo, que revela a sociedade em sua crueza e determinismo.

Já outros livros da lista da UFPR mais próximos de nós exigem grande conhecimento do contexto nos quais foram produzidos. “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, é uma granada emocional, explodindo a realidade crua da desigualdade e a luta pela sobrevivência. “Poema Sujo”, de Ferreira Gullar, é uma metralhadora de versos cortantes, dissecando um Brasil marcado por política e dor no período militar.

E a UFPR ainda tem armas mais atuais e que, se não passarem por um rigoroso exame seu, vestibulando, esmagarão as suas esperanças como ataques coordenados de drones e caças furtivos, prontos para neutralizar qualquer descuido. É o caso do singelo e belo “O Livro das Semelhanças”, de Ana Martins Marques, dona de versos aparentemente inofensivos, mas que exigem interpretação apurada. Também a situação de “O Drible”, de Sérgio Rodrigues, com estratégias narrativas que precisam estar no seu radar. E ainda “O Sol na Cabeça”, de Geovani Martins, que vai exigir de você, soldado vestibulando, conhecimento da linguagem coloquial e temas das favelas cariocas para não virar uma verdadeira “bomba na cabeça”.

Mas como sobreviver a esse bombardeio de palavras, ideias e autores? A resposta está no plano de leitura. Cada livro deve ser encarado como uma trincheira a ser conquistada, cada capítulo como um território inimigo a ser desbravado. Ler simultaneamente — um romance mais longo intercalado com poemas, por exemplo — pode ser uma boa estratégia para ganhar tempo e oferecer opções mais adequadas ao seu humor do dia. Há também aqueles estudantes que preferem o avanço da leitura cronológica, o que facilita o entendimento e a comparação entre o contexto histórico, social e filosófico das obras.

Seja qual for a estratégia escolhida por você, soldado vestibulando, não basta ler mecanicamente: é necessário munição intelectual — anotações, discussões, releituras — para que cada palavra seja uma arma a mais a seu favor. Por isso, pelotão, atenção! Afie suas armas, fortaleça seu exército mental e avance com disciplina. A vitória no vestibular será daqueles que não apenas leem — mas leem com estratégia, propósito e paixão. Porque, no fim das contas, vencer essa guerra é garantir o território mais valioso de todos: o do seu próprio futuro.


*Rodrigo Wieler
Professor de Literatura e de Arte no Curso e no Colégio Positivo e assessor pedagógico no Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPP) dos colégios da Rede Positivo.

 

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