A edição 2024 do Latin America Blockchain Report, produzida pela Sherlock Communications com 3.438 entrevistados em seis países, chamou atenção para o salto do Brasil, onde a fatia de adultos que já possui algum criptoativo saltou de 14% em 2023 para 24% em 2024, o maior avanço entre as grandes economias da região.
Em números absolutos, isso equivale a cerca de 37 milhões de pessoas, mais habitantes do que toda Minas Gerais. O dado dialoga com os números divulgados pela Receita Federal, que registrou R$247,8 bilhões em operações com cripto entre janeiro e setembro de 2024.
Isso é 24% acima do mesmo período do ano anterior, numa trajetória que projeta fechar 2025 perto dos R$400 bilhões. A popularidade não dispensa prudência, já que 78% dos brasileiros defendem a criação de normas mais robustas, embora 68% rejeitem leis que inviabilizem a inovação.
Esse consenso em torno de “regras, mas não amarras” que se vê nas notícias sobre Solana diferencia o mercado local, onde investidores buscam proteção contra fraudes sem abrir mão da liberdade de experimentar novas aplicações.
Blockchains de alta performance entram no vocabulário do investidor
Com o público amadurecendo, a atenção cresce sobre redes capazes de processar milhares de transações por segundo com taxas reduzidas. A procura por conteúdos sobre isso disparou após o anúncio de integração dos tokens SPL ao ecossistema do Drex, previstos para a segunda fase do piloto do Banco Central.
Os entrevistados apontaram “guardar dinheiro para o futuro” como principal motivação (45%), seguido de “complementar renda” (35%). Mais de 60% têm entre 25 e 44 anos, renda familiar de até R$8.000 e concentram seus primeiros aportes em “blue chips” digitais, Bitcoin, Ethereum e stablecoins pareadas ao dólar.
Um relatório da Chainalysis mostra que stablecoins já respondem por cerca de 70% do fluxo que sai das exchanges locais e vai para plataformas de outros países, sinal de que o brasileiro usa ativos digitais, sobretudo, para preservar poder de compra num ambiente de juros ainda altos e câmbio volátil.
A adesão das classes C e D cresce em ritmo firme desde a popularização do Pix. Na visão de André Portilho, head de digital assets do BTG Pactual, a familiaridade com pagamentos instantâneos reduziu a barreira psicológica para baixar uma wallet e experimentar criptoativos.
Marco Legal das Criptomoedas e Drex: Do papel à prática
A Lei 14.478/2022 colocou o Brasil na lista de países com legislação específica, mas depende de regulamentação infralegal, em elaboração pelo Banco Central e pela CVM, para disciplinar temas como segregação patrimonial de exchanges, requisitos de custódia e prevenção à lavagem de dinheiro.
Enquanto isso, decisões judiciais começam a preencher lacunas. Em março de 2025, o STJ confirmou a possibilidade de penhorar criptoativos para saldar dívidas, estabelecendo precedentes sobre rastreio de carteiras on-chain.
Nas audiências públicas realizadas na Câmara, entidades de fintech e bancos convergiram sobre a importância de isolar contas dos clientes dos balanços das corretoras, exigência considerada central por quem teme repetir no Brasil colapsos como o da FTX.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, defende equiparar obrigações fiscais de exchanges estrangeiras às nacionais, mas enfrenta contestação das big techs sobre o alcance extra-territorial da cobrança. A promessa de uma moeda digital emitida pelo Estado ocupa um lugar importante nesse debate.
Segundo o Banco Central do Brasil, o piloto do Drex entrou em sua segunda fase no fim de 2024, testando contratos inteligentes para emissão de títulos públicos tokenizados e garantias imobiliárias. O cronograma oficial mantém o lançamento para 2025, com 16 instituições financeiras autorizadas a rodar provas de conceito em produção controlada.
Pesquisadores do Bank for International Settlements apontam o Drex como um raro exemplo de CBDC híbrida, ancorada em tokenização de ativos do mundo real, capaz de reduzir custos de liquidação em até 93% em operações de atacado. A pesquisa da Sherlock mostra que 59% dos brasileiros acreditam que a tecnologia blockchain pode transformar a gestão de prontuários de saúde.
E 58% veem potencial para impulsionar doações a comunidades subdesenvolvidas. Já o Drex é visto por 74% como instrumento para reduzir burocracia e por 59% como ferramenta anticorrupção. No entanto, 65% admitem não compreender bem o funcionamento da CBDC, o que reforça a urgência de campanhas de alfabetização digital no setor público.
Além do volume recorde de negociações relatado à Receita Federal, o Brasil movimentou $90,3 bilhões de dólares em cripto entre julho de 2023 e junho de 2024, segundo a Chainalysis, ficando pouco atrás da Argentina no ranking regional. Essa soma equivale a 9,1% de todo o valor transacionado no mundo.