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Violência Sexual Online e Cyberbullying: um alerta urgente às famílias e educadores

Por Viviane Vaz*

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A violência sexual contra crianças e adolescentes, antes limitada a ambientes físicos, agora ganha proporções ainda mais preocupantes com o avanço da tecnologia e da Inteligência Artificial (IA). A internet, embora repleta de possibilidades, tornou-se também terreno fértil para aliciadores e abusadores. Com recursos como deepfake — que permite a criação de vídeos e áudios falsos altamente convincentes —, criminosos têm manipulado imagens de menores para extorsão e aliciamento.

Dados atualizados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, por meio do Disque 100, revelam que em 2023 foram registradas mais de 94 mil denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes no Brasil, com aumento expressivo nas denúncias relacionadas ao ambiente virtual. Casos de abuso envolvendo a manipulação de imagens íntimas e sextorsão (extorsão sexual via internet) cresceram 30% em comparação ao ano anterior.

Em junho de 2024, um caso de repercussão nacional escancarou essa realidade: uma adolescente brasileira de 16 anos foi vítima de chantagem sexual via Instagram, após ter suas imagens íntimas manipuladas e divulgadas. Sob pressão, a jovem tirou a própria vida. A mãe da vítima denunciou a falta de colaboração da empresa Meta (dona do Instagram) nas investigações, fato que gerou comoção pública e abriu um novo debate sobre a responsabilidade das plataformas digitais. “Minha filha não foi protegida nem depois da morte”, disse a mãe em entrevista ao G1, apontando a urgência de ações efetivas por parte das grandes corporações tecnológicas (G1, 2024).

Outro fator alarmante é o cyberbullying, que, segundo a última edição da pesquisa PENSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar), realizada pelo IBGE, afeta 1 em cada 10 adolescentes brasileiros entre 13 e 17 anos. As agressões mais comuns incluem humilhações públicas, disseminação de boatos e ameaças por mensagens privadas, que impactam diretamente a saúde mental das vítimas. O sofrimento emocional decorrente desses episódios pode levar a transtornos graves, como depressão, ansiedade, automutilação e ideação suicida.

As marcas da sextorção e crimes sexuais virtuais são profundas, mesmo que invisíveis aos olhos. Crianças e adolescentes vítimas de violência digital frequentemente apresentam queda no rendimento escolar, isolamento social, insegurança, baixa autoestima e dificuldade de se relacionar. Muitas vezes, esses sinais passam despercebidos por responsáveis e educadores.

Desde 2011, o Projeto Nova Transforma atua no atendimento psicossocial de sobreviventes de violência sexual e tem observado um aumento expressivo nos casos envolvendo ambientes virtuais. O perfil mais comum das vítimas inclui adolescentes emocionalmente vulneráveis, com pouco ou nenhum monitoramento por parte de cuidadores, muitas vezes entregues ao uso excessivo da internet sem supervisão ou orientação.

O psicanalista Donald Winnicott já alertava que a criança precisa de um “ambiente suficientemente bom” para se desenvolver com saúde emocional. Quando esse ambiente falha — seja pela ausência do cuidado direto, seja pela exposição a violências simbólicas ou concretas —, o impacto na formação subjetiva pode ser devastador e duradouro. Em contextos digitais, o papel dos adultos cuidadores permanece essencial: não apenas como vigilantes, mas como referências afetivas e fontes de escuta segura.

Diante dessa realidade, o projeto tem se dedicado à prevenção por meio da educação. Foi nesse contexto que surgiu o livro e caderno de atividades "Vida, Corpo e Sexualidade", recursos pedagógicos voltados a adolescentes, educadores e profissionais da saúde e assistência. O material propõe dinâmicas e reflexões acessíveis sobre temas como: Prevenção ao abuso sexual e crimes digitais; Privacidade e segurança na internet; Relacionamentos abusivos, Autocuidado e valorização da autoestima.

Levar esse tipo de conteúdo para escolas, comunidades e grupos de jovens é fundamental para construir um ambiente de confiança e proteção, onde adolescentes se sintam acolhidos e empoderados para enfrentar os desafios do mundo digital.

A proteção da infância começa com informação.
Pais, mães, educadores e líderes comunitários têm papel essencial na criação de uma cultura de prevenção. Monitorar o uso de dispositivos, estabelecer diálogo constante e ensinar limites digitais são atitudes urgentes para proteger nossas crianças e adolescentes.

Sejamos agentes de transformação.
Falar sobre o assunto é o primeiro passo para quebrar o silêncio e combater a impunidade. Quanto mais visibilidade dermos à causa, mais chances temos de salvar vidas.


*Viviane Vaz
Psicanalista, Escritora e
Coordenadora do Projeto Nova Transforma
[email protected]
@vivismvaz

 • Saiba mais sobre o Projeto Nova Transforma

Referências Bibliográficas
• G1. (2024, 6 de junho). A tragédia após chantagem sexual no Instagram que levou mãe a acusar Meta de não colaborar com investigações. Disponível em: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2024/06/06/a-tragedia-apos-chantagem-sexual-no-instagram-que-levou-mae-a-acusar-meta-de-nao-colaborar-com-investigacoes.ghtml
• IBGE. (2023). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – PENSE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
• Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. (2024). Relatório Anual Disque 100.
• Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed.
• Projeto Nova Transforma. (2025). Relatórios internos de atendimento psicossocial a vítimas de violência sexual.
https://vivisvaz.blogspot.com/

 

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