O Ministério Público de Mato Grosso do Sul classificou como grave o conteúdo dos cânticos entoados por soldados recém-formados da Polícia Militar durante a formatura ocorrida na última quinta-feira (31). No vídeo que circula nas redes sociais, os 427 formandos gritam frases como: “Bate na cara, espanca até matar. Arranca a cabeça dele e joga ela pra cá. [...] A tropa da PM que cancela CPF.” O governador Eduardo Riedel, homenageado pela turma, esteve presente no evento realizado no Comando-Geral da PMMS.
Em nota divulgada neste sábado (2), o MPMS afirmou que o conteúdo do vídeo é “violento e incompatível com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública”. A instituição também ressaltou que acompanha o caso e vai adotar “as medidas compatíveis com a gravidade da situação”. Apesar do tom institucional, a nota deixa claro que o Ministério Público pretende ir até o fim na apuração. “Não se pode permitir comportamentos dessa natureza”, diz o texto.
Até o momento, o Comando da Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública do Estado não se manifestaram. Já a Defensoria Pública publicou uma nota dura: “O conteúdo do grito representa apologia explícita à violência, à tortura e ao extermínio, sendo absolutamente incompatível com a missão constitucional da Polícia Militar.”
O Governo do Estado também repudiou o episódio. Em nota oficial divulgada na sexta-feira (1º), declarou que “manifesta publicamente seu repúdio a quaisquer condutas que incentivem a violência” e determinou a “adoção imediata das providências cabíveis, com rigorosa apuração dos fatos e aplicação das sanções legais previstas”.
O caso ocorre em meio a um cenário preocupante: o número de mortes provocadas por policiais em Mato Grosso do Sul disparou nos últimos anos. Em 2023, primeiro ano da gestão Riedel, 131 pessoas foram mortas por policiais — mais do que nos três anos anteriores somados. Em 2024, o número caiu para 86, ainda o segundo maior da série histórica. Em 2025, até julho, já foram 46 mortes.
Veja a nota do MPMS na íntegra:
“O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) informa à sociedade que está analisando as imagens que circulam na internet e em veículos de imprensa, mostrando conduta registrada em vídeo, no qual policiais militares recém-formados entoam um grito de guerra cujo conteúdo é violento e incompatível com os princípios constitucionais que regem a atuação das forças de segurança pública.
Justamente por entender a importância da corporação para o Estado e para a população sul-mato-grossense, o MPMS defende que não se pode permitir comportamentos dessa natureza, sob pena de comprometer a credibilidade e os valores que devem nortear a atuação da Polícia Militar.
A instituição observa de perto os desdobramentos das apurações já anunciadas e irá analisar detalhadamente o conteúdo exposto no vídeo, para adotar as medidas compatíveis com a gravidade da situação.”