O 20 de novembro não é apenas um ponto no calendário. Para milhões de brasileiros, especialmente a população negra que estrutura culturalmente, movimenta economicamente e resiste historicamente neste país, a data representa memória, reparação e, sobretudo, urgência. É o dia em que o Brasil é convocado a encarar o próprio espelho — um reflexo que nem sempre deseja ver.
O Dia da Consciência Negra nasceu do reconhecimento da luta de Zumbi dos Palmares, líder quilombola executado em 1695. É também símbolo de um Brasil que insiste em sobreviver apesar das desigualdades. Quase quatro séculos depois, a cor ainda determina oportunidades, tratamento, renda e até longevidade. Dados recentes mostram que negros são maioria entre as vítimas de violência, entre os desempregados e entre os que vivem em situação de pobreza. A desigualdade não é acidental; é estrutural.
Mas a data também é celebração. Em várias cidades, manifestações culturais ultrapassam o simbolismo e reafirmam identidades: rodas de capoeira, maracatus, sarais, desfiles, oficinas e apresentações que resgatam raízes apagadas por séculos. A comemoração é também uma forma de resistência. Como disse certa vez uma ativista: “Falar de negritude não é sobre dor, é sobre existência”. Essa existência pulsa nas comunidades, nas escolas, nos centros culturais, nos quilombos e nos movimentos que fazem do 20 de novembro um lembrete de que o país não avança sem enfrentar sua própria história.
O debate, porém, exige algo além das celebrações. Requer compromisso. Ações efetivas contra o racismo, políticas públicas que gerem igualdade real e não apenas discursos protocolares. O Brasil deu passos importantes, sobretudo no acesso à educação, mas ainda tropeça quando se trata de garantir vida digna, mobilidade social e reconhecimento pleno para a população negra.
O Dia da Consciência Negra não é sobre o passado — é sobre o futuro. Sobre o país que o Brasil ainda precisa ser. Um país onde não seja necessário lembrar, todos os anos, que vidas negras importam; onde história, cultura e direitos sejam repartidos com equidade; onde a palavra “consciência” não seja apenas um conceito, mas uma prática coletiva. Até lá, 20 de novembro seguirá sendo mais que uma data: será uma convocação. Todos os anos. Todos os dias.
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