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ENTREVISTA Segunda-feira, 15 de Setembro de 2008, 09:27 - A | A

Segunda-feira, 15 de Setembro de 2008, 09h:27 - A | A

Exclusivo: Suél Ferranti é o terceiro candidato à prefeitura entrevistado pelo Capital News

Lucia Morel e Jefferson Gonçalves - Capital News (www.capitalnews.com.br)

O candidato do PSTU, Suél Ferranti é o terceiro candidato à prefeitura de Campo Grande entrevistado pelo Capital News. Ele comenta sobre suas propostas para a Capital e destaca seu ideal socialista de governo.
O candidato diz que pretende construir um hospital municipal e contratar mais médicos.
Para a questão do transporte, Suél diz que, caso seja eleito, fará uma empresa municipal de transporte público, “provando que é possível ter um transporte de qualidade e de baixo custo”, ressalta, dizendo que acabará com as concessões.
Ferranti fala de seu sonho de transformar a cidade em uma “morena socialista” e defende que apenas com uma mobilização social as mudanças que todos precisam podem ser feitas.
Confira agora a entrevista na íntegra:

Capital News: Porque o Sr. quer ser prefeito da nossa Capital?
Suél Ferranti: O PSTU quer administrar Campo Grande porque ele entende que desde que a cidade se tornou Capital ela é administrada por uma minoria e o PSTU entende que pra garantir o que está faltando, hoje, para a maioria dos trabalhadores e dos menos favorecidos, que é a questão da saúde, do transporte, da moradia e quer inverter também a lógica das administrações, que é uma administração voltada para a minoria, para a concentração de renda. E o que nós queremos é levar Campo Grande rumo ao socialismo, com uma maior distribuição de renda que tem que ser administrada para os 95% e não para os 5% que têm ganhado dinheiro das últimas administrações que passam por Campo Grande.

Capital News: Quais os três maiores problemas da Capital e quais são as suas propostas para melhorar essas áreas?
Suél Ferranti:
Nós entendemos que são muito mais do que três os problemas de Campo Grande, mas nós focamos basicamente na questão do transporte coletivo, na questão da saúde e na questão da educação que são as questões que pegam aí a maioria do povo menos favorecido. No transporte coletivo nós entendemos que temos que adaptar todos os ônibus para a questão dos cadeirantes, que hoje são pouquíssimos ônibus que tem. Não à questão da catraca eletrônica, porque catraca eletrônica é desemprego. Quando foram implantados os ônibus articulados nós falávamos que era desemprego porque antes do ônibus articulado, as pessoas andavam de ônibus apertadas com 90 pessoas e agora em 200, como o tamanho aumentou e tirou-se um ônibus que poderia estar lá, empregando mais um motorista e um cobrador. E isso nós faremos instituindo uma empresa pública, porque transporte coletivo é obrigação do município. Hoje o que acontece? Dão as concessões, porque são as concessões que financiam as campanhas deles. Então nós vamos implantar uma empresa pública, que vai baratear o preço da passagem com um passe-de-ônibus a preço de custo, que tem que atender e não dar lucro. Porque a ótica é essa, na saúde na educação, tem que dar lucro e nós estamos dizendo que não. A obrigação do município é garantir a manutenção de um serviço público, de uma saúde decente e de um transporte também decente. Por isso que nós estamos falando, que vamos implementar essa empresa pública que vai cobrar uma taxa a preço de custo e estaremos revendo as concessões. Provar pra população que nós podemos ter um transporte público de qualidade e que cumpra o horário. E isso vai até de encontro com a questão do trânsito de Campo Grande, porque você teria condições de deixar seu carro em casa, contribuindo com a camada de ozônio, com o meio ambiente, com tudo isso aí porque você sabe que o ônibus vai passar na sua casa 7 horas e 7h15 você está no centro. Senão, vamos supor, a pessoa está lá no Tarumã, pega o ônibus, passa o terminal 1, passa o terminal 2, e você vê o tempo que gasta no deslocamento. Então, pra quem que serviu esses terminais? Não é para nós. É para as empreiteiras que construíram. É uma maneira também de manter as construtoras que financiam os nossos concorrentes e é por aí.
Com relação à saúde é a mesma coisa: o que é que tira hoje o dinheiro da saúde, da educação, do transporte, da moradia? É aquela lei de responsabilidade fiscal, que nós temos que rever. Não estão fazendo uma série de reformas aí? Então, por que a gente não pode fazer também um projeto que venha mudar essa LRF? Porque essa lei ela garante, ou seja, o espurgo do trabalho para o pagamento da dívida, ou seja, tem também o déficit primário de 4,6%, que hoje o Lula está se vangloriando de que está acima disso já. De onde é que se tira o dinheiro para se garantir o lucro dos banqueiros, do latifúndio, das multinacionais? É justamente assim, pagando todas essas pessoas. Aí quando se fala em trazer dinheiro para a saúde não tem, mas tem dinheiro pra construir os prédios. Pros prédios tem. Isso pode, porque ficam bonitos, com as cores que interessam a quem interessa, mas aí você vai no posto e não tem lá o médico, o pediatra, não tem oftalmologista, o farmacêutico, não tem lá o pessoal da limpeza, que é terceirizado, provocando mais desemprego, arrocho salarial. Então é isso aí, nós temos que questionar essa lei porque é essa lei que garante tudo isso. E temos também que fazer uma auditoria da dívida pública, porque nós entendemos que essa dívida pública já foi paga. E quando foi fazer a dívida pública, não foram perguntar para o povo. Por exemplo: pediram financiamento pra asfaltar a Vila Jacy, não foram conversar com os trabalhadores de lá pra ver se realmente queriam, mas realizaram o empréstimo, que endividou a gente e então pra nós essa dívida já foi paga. Isso foi feito na década de 50 com Getúlio Vargas. Ele fez uma auditoria e conseguiu reduzir, mas o que nós estamos dizendo é que essa dívida já foi paga. Vamos fazer a auditoria, chamar os conselhos e vamos dizer: olha aqui, auditoria está dizendo que essa dívida já foi paga. Vocês que vão decidir, se querem continuar dando esse dinheiro pros banqueiros ou vamos investir na falta do pediatra que não tem, na falta do psicólogo que não tem, justamente assim.
A educação também: qual que é o grande problema? Por que o trabalhador da educação hoje não é valorizado? Antes de 70 essa classe dos professores era valorizada, porque tinha um interesse do imperialismo em manter essa categoria como formador de opinião. Agora não tem mais. Por isso que os salários estão se achatando, as escolas sendo depredadas, desvalorizada, desmontada. Antigamente o artesão, o filho dele tinha certeza de que ele seria também artesão, porque o capitalismo da época dizia isso. O marceneiro a mesma coisa, porque na época o importante era um armário de madeira bem feito. A mesma coisa o ferreiro, porque na época das espadas o que valia era quem conseguia manipular o aço. De 70 pra cá não há mais interesse, por que os professores não são mais valorizados? Porque havia necessidade de dar ao trabalhador a educação básica até o nível superior e se formar, pra ser útil durante 35 anos de sua vida. Hoje caiu-se para o tecnicismo. Hoje estão pensando em curso superior de dois anos: pasmem né? Como é possível hoje você formar um cidadão para que ele possa sobreviver com apenas dois anos de estudo pra garantir uma vida útil de trabalho se você não tem também a tal da educação continuada? Tem que estar sempre reciclando: você tem que ter uma pós-graduação, mestrado, doutorado, PhD. Nós estamos dizendo porque eles estão naquelas mazelas. Foi aquilo que eu disse ontem no debate (se referindo ao debate realizado na ACP – Associação Campo-grandense de Professores): todos os problemas da educação já foram elencados pelos meus concorrentes, então não tem porque eu repetir aqui tudo aquilo também. E foi exatamente o que eu disse que hoje o capitalismo não valoriza o trabalho do professor. Por isso que há o desmonte, a marginalização dos movimentos sociais, ou seja, professores, MST, com todo mundo assim. É isso.

Capital News: Para administrar uma cidade é preciso ter apoio dos vereadores e para isso é necessária a construção de uma base política na Câmara. Como montar essa base política para dar sustentação na sua administração? E quantos vereadores a sua chapa ou coligação pretende eleger?
Suél Ferranti:
Ótima pergunta. Geralmente todo mundo nos questiona como é que vai ser a nossa relação na Câmara se nós só temos um candidato a vereador. E a nossa relação vai ser de cobrança de compromisso. Nós vamos constituir o conselho da educação e com certeza esse conselho não vai ser tripartite, como funciona hoje também: tem a figura do Estado, os patrões e os usuários. Mas aí na hora de votar, vota-se o Estado e os patrões juntos e os usuários acabam sendo prejudicados. Então, é o que nós estamos falando: vamos ter esses conselhos, serão eleitos dentro da categoria, não vai ter essa figura pelos seus locais de trabalho, com as suas entidades representativas, tipo a ACP, o sindicato das particulares, o nosso projeto vai ser feito assim, por exemplo, acabamos de falar da Lei 11738 que fala sobre a imposição salarial deles. Nós defendemos o salário mínimo do Dieese, que está em torno de R$ 2,073. Vamos mobilizar toda a categoria e apresentar o projeto. Eu quero ver os vereadores falarem que vão votar contra um projeto desse com toda categoria dos professores mobilizados. E outra coisa: a TV Câmara tem que ser um canal aberto para que a população possa realmente acompanhar e hoje não é aberta porque? Porque não querem mostrar os projetos que são votados lá que são contra a maioria. Não querem que isso seja público. Não se fala tanto em transparência? Só é possível essa transparência com o canal da TV Câmara aberto, daí eles vão pensar duas vezes antes de votar contra a maioria.
Temos apenas um candidato a vereador e fizemos o possível para constituir a frente de esquerda que só não saiu por causa do PSol e do PCB que não quiseram. Tanto que temos duas candidaturas hoje ditas de esquerda, uma mais reformista e nós que somos classistas, que pregamos uma reforma nos moldes sociais. Se tivesse se formado a frente de esquerda o PSTU teria dois candidatos a vereador com grandes chances de ser eleito.

Capital News: Como o senhor pretende gerar empregos aqui na Capital?
Suél Ferranti:
Essa questão do desemprego é uma ótica do capitalismo que diz que quanto maior for o desemprego, mas baixo vai ser o piso salarial dos trabalhadores. Por exemplo, se tiver mil jornalistas desempregados os patrões têm como reduzir seu salário porque tem 980 querendo a tua vaga. Então justamente isso, como é que vai ser feito? Com um programa permanente de obras públicas, mapeando pro exemplo as famílias desempregadas. Se tiver lá no Nova Lima 50 famílias desempregadas nós estruturamos um trabalhador de cada uma dessas famílias para que não haja maiôs necessidade de dar o assistencialismo: bolsa-escola, vale-gás e estão falando agora num tal de ticket de bicicleta também. E como tem também concorrente meu falando do bolsa-municipal. Isso é assistencialismo, não é política social. E o que é isso também? É o coronelismo, é o voto de cabresto: eu te dou isso aqui e você fica preso e vai votar em mim nas próximas eleições. E eu digo isso por que? Porque os trabalhadores do Brasil eles são honestos. Eles não querem também ganhar lá a camiseta, o tênis da escola, eles querem ter o direito de comprar porque nos bons tempos da escola pública que eu estudei, a única coisa que tinha era o símbolo do Estado e do município como escola pública. Se o uniforme era camisa branca e calça azul você comprava só o símbolo e colocava ali. E isso tem que ser feito também porque nossos trabalhadores têm brio na cara como diziam nossos pais. Ele quer ter dinheiro pra ir lá na quitanda e comprar seu alimento e não receber uma cesta alimentação porque muitas vezes o verdadeiro necessitado não tem acesso a isso, como foi muitas vezes divulgado também. Por isso que estamos dizendo que é com essa manutenção permanente de obras públicas que vamos garantir isso aí.

Capital News: Na área habitacional, quais seriam suas propostas?
Suél Ferranti:
Acabamos de falar isso aqui, já é uma seqüência da pergunta anterior. Porque esse plano permanente de obras públicas vai estar focado no que? Na construção de escolas, de mais postos de saúde, se possível na construção de um hospital municipal, que você vai depender do que o conselho de educação vai dizer. Um hospital municipal. Por que não, se nós não vamos pagar a dívida externa, vamos questionar a responsabilidade fiscal então vai sobrar mais dinheiro pra fazer isso. Por que não se investe nisso? Porque não é foco isso aí. O que eles visam? O lucro. Saúde, educação tem quem dar lucro. A saúde tem que ser curativa. Então nós vamos trabalhar justamente nessa questão da habitação na construção de casas e estaremos garantindo também essa parte. No caso da habitação, esse plano de obras permanentes será focado na construção de casas para a maioria também e não vai ser uma biboca também. Porque dizer que o trabalhador tem que morar numa casa de 30 metros quadrados. Pelo amor de qualquer coisa! Eu acabei de passar perto de um depósito, a pessoa foi comprar um armário, o armário não coube dentro do quarto. Ou coloca o armário ou coloca a cama. É assim que são feitas essas casas, você não consegue colocar sua família inteira na sala, não cabe. Não entra o sofá e uma mesinha pra colocar a televisão. Essas são as grandes casas que estão construindo pro trabalhador! Isso é uma falácia! Então é com esse plano permanente de obras que vamos estar resolvendo esse problema.

Capital News: Na área da saúde e do transporte eu queria que o senhor sintetizasse as suas principais propostas.
Suél Ferranti:
A área da saúde está carente no sentido de fazer com que ela chegue até a maioria. O programa de um dos meus concorrentes falou do médico da família e aí eu pergunto pra você: vai lá no corredor da Nova Lima e pergunta quando foi que um médico desse programa chegou na casa do trabalhador? Então temos que mudar o foco pra maioria. Vamos resgatar sim o médico da saúde, mas o médico voltado para os mais necessitados. Estaremos abrindo concursos pra ter mais médicos, mais enfermeiros, dentistas, mais farmacêuticos, com plano de carreira pra todo mundo.
Só vai melhorar o transporte público, como nós estamos dizendo, com um projeto socialista, invertendo toda essa discussão. Segundo, é um dever do município. O Suél chegando lá vai fazer o que então? Resgatando essa responsabilidade através da criação da empresa pública de transporte público, até pra provar pra essas concessões que temos aí que é possível ter uma tarifa reduzida e um transporte de qualidade.

Capital News: No seu plano de governo candidato, qual seria um diferencial que pode marcar sua administração?
Suél Ferranti:
O diferencial que vai marcar a administração do PSTU é o diálogo com a maioria. Tem candidato falando do orçamento participativo. E isso aí é uma falácia! Porque se trata somente de 2% quando se chega a 2%. Nós queremos que a sociedade participe não com os 2%, mas com os 98%. Então, esse é o diferencial que muitos não conseguem entender ou até entendem, mas trata como se fosse uma coisa pejorativa para nós. Enquanto projeto classista e socialista queremos um diálogo com a sociedade, porque quem tem que definir o que fazer é a sociedade e não o prefeito. Porque hoje o que acontece é que quem define são os iluminados. Quem é o iluminado hoje? Chama-se Nelson. Quem foi ontem? Chama-se Puccinelli. Então, são os iluminados que sabem ou não o que é melhor pra quem está lá no corredor da Nova Lima, pra quem está lá no São Conrado, ou pra quem está lá no jardim Pacaembu ou coisa parecida assim.

Capital News: Candidato, qual seria a Campo Grande que o senhor sonha?
Suél Ferranti:
Ah! Com certeza uma morena socialista, com melhor distribuição de renda pra todos nós. Essa é a Campo Grande que nós queremos para que você, seus colegas, votem nesse projeto, que é para maioria. Onde quando você vai no posto de saúde você tem um atendimento decente, quando você vai à escola tem uma escola decente. Essa é no caso a Capital, a morena socialista que eu quero pra todo mundo.

Capital News: Sua mensagem final para o eleitor de Campo Grande?
Suél Ferranti:
Nós queremos dizer para a maioria dos trabalhadores que a única maneira que se tem hoje de mudar o que temos aí é contrapormos esse modelo de sociedade que temos hoje. Porque a sociedade capitalista, imperialista também, não vai garantir que o povo mais sofrido aqui em Campo Grande tenha uma saúde decente, uma educação decente, um transporte coletivo decente, consiga ter lazer, ir para teatro, pra cinema. É isso que nós queremos e isso só é possível dentro de uma sociedade socialista. Aí eu peço aos trabalhadores, à sociedade: vamos aprender a socializar. E não precisa muito, seria só um voto entre cinco pessoas de uma família para o prefeito e um voto desses cinco para vereador e nós vamos mostrar que é possível sim ter uma postura socialista para mudar a cara desse município, a cara desse Estado, a cara do Brasil e por que não, do mundo todo? Nós entendemos que o socialismo é possível no mundo todo e não somente em Campo Grande. A mesma coisa que o capitalismo faz, temos que fazer entre nós os socialistas.

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