No início da tarde desta segunda-feira (21), teve início em São Paulo, no Fórum Federal Criminal, o julgamento do assassinato do cacique guarany-kaiwá Marcos Veron, ocorrido em janeiro de 2003, em Juti (MS). Foram escolhidos seis homens e uma mulher para compor o júri.
Devido ao grande número de testemunhas a serem ouvidas, o julgamento deve durar de oito a 15 dias. O caso será julgado pela juíza federal Paula Mantovani Avelino, da 1ª Vara Federal Criminal.
Os 12 indígenas que deveriam embarcar às 4h da manhã de hoje para participar do julgamento não conseguiram embarcar, perderam o vôo e só devem chegar às 18h30. Segundo o Ministério Público Federal, o atraso na chegada das testemunhas, que agora está prevista para às 21h, não deve atrapalhar no andamento do processo.
O Tribunal do Júri foi transferido de MS para SP para garantir a imparcialidade dos jurados e evitar que a decisão sofra influência social e econômica dos envolvidos no crime.
O julgamento é considerado histórico pois é a primeira vez que acusados pela morte de um indígena em Mato Grosso do Sul vão para o banco dos réus.
Protesto
Cerca de quinze indígenas parentes do cacique Marcos Veron protestam em frente ao Fórum pedindo justiça no júri popular que decide o destino de três réus acusados de matar o líder.
Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde já estão no Fórum e foram recebidos com revolta pelos membros da tribo. Eles são acusados de homicídio duplamente qualificado (por motivo torpe e meio cruel), tortura, seis tentativas qualificadas de homicídio, seis crimes de sequestro, fraude processual e formação de quadrilha. Outras 24 pessoas foram denunciadas por envolvimento no crime.
A filha do cacique, Valdelice Veron, filha do cacique assassinado, se deslocou de MS para a Capital paulista e acompanha o júri junto com as três filhas de 15, 13 e dois anos.
O caso
No dia 12 de janeiro de 2003, um veículo dos indígenas, com 2 mulheres, um rapaz de 14 anos e 3 crianças de 6,7 e 11 anos foi perseguido por 8 km sob tiros. Na madrugada do dia 13, os agressores atacaram o acampamento a tiros. Sete índios foram sequestrados, amarrados na carroceria de uma camionete e levados para local distante da fazenda, onde passaram por sessão de tortura. Um dos filhos de Veron, Ládio, quase foi queimado vivo. A filha dele, Geisabel, grávida de sete meses, foi arrastada pelos cabelos e espancada. Marcos Veron, na época com 73 anos, foi agredido com socos, pontapés e coronhadas de espingarda na cabeça. Ele morreu por traumatismo craniano.
O julgamento é considerado histórico por ser a primeira vez que acusados pela morte de um indígena em MS vão para o banco dos réus
Foto: Rogerio Albuquerque/UOL
Por Valquíria Oriqui - Capital News - (www.capitalnews.com.br)
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