A secretária de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo (Seprotur), Tereza Cristina Corrêa da Costa, admitiu na segunda-feira (27/10) que parte dos 43 projetos de usinas de álcool e açúcar a serem instalados em Mato Grosso do Sul deve ser mesmo afetada pela crise internacional.
Segundo ela, algumas empresas já paralisaram as obras e permanecem em “stand-by”, aguardando o desenrolar dos fatos econômicos.
Tereza Cristina disse que a crise pegou em cheio o setor. Alguns projetos que já estão em execução devem sofrer atrasos. “A gente espera que os projetos que trabalham com ativos próprios sejam mantidos”, ressalta.
Ela também disse, corroborando com a opinião de especialistas, que o setor deve passar por uma série de fusões para continuar operando. Com a crise internacional dos bancos, os grandes fundos, que financiam projetos de grande porte, como o das usinas, fecharam as torneiras. Uma usina de porte médio/grande custa em torno de R$ 400 milhões.
Na edição de sexta-feira o Diário MS abordou em primeira mão que a crise afetaria a indústria de álcool e açúcar no Estado. O empresário Celso Dal Lago confirmou ao jornal que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está com a liberação de recursos para a construção de uma usina de sua propriedade, em Itahum, atrasada.
O empresário tem outros dois projetos, um em Ponta Porã e outro em Fátima do Sul, que podem estar ameaçados pela crise. O três projetos de Dal Lago fazem parte da lista de 43 usinas que o Estado esperava fossem inauguradas até 2018.
Amanhã, representantes de cinco entidades do setor sucroalcooleiro devem entregar uma carta reivindicando crédito à ministra Dilma Roussef. Eles vão pedir que o BNDES retome a liberação de recursos para o setor. Mas não faltam apenas recursos para novas plantas. Indústrias instaladas no interior de São Paulo estão com problemas de inadimplência por causa de contratos assinados com o BNDES.
Lideranças do setor no país já falam que a metade das usinas de álcool e açúcar que estavam previstas para entrar em funcionamento nesta safra no centro-sul do país teve seus projetos adiados ou o ritmo das obras desacelerado em razão da crise de crédito que atinge a economia.
Um dos defensores desta tese é o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento de São Paulo, João Sampaio. Da mesma forma que Tereza Cristina, ele acredita numa onda de fusões e aquisições entre usinas. Ao todo, 35 usinas deveriam entrar em operação na safra 2008/9 no centro-sul.
Parte das novas usinas tem como origem grupos sucroalcooleiros já instalados em São Paulo que, por causa da saturação do Estado, buscam a expansão principalmente em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A Unialco, por exemplo, do interior de São Paulo, é sócia no projeto de Dourados de Celso Dal Lago. Lá em São Paulo, os empresários reclamam também da queda no lucro, devido aos baixos preços recebidos pelo álcool.
Na Usina São Francisco, em Sertãozinho, região de Ribeirão Preto, todos os investimentos já foram adiados. “Suspendemos todos os projetos até que a gente possa saber até onde vai a crise”, disse Jairo Balbo, diretor industrial da usina, à Folha Online. Entre os projetos suspensos está a ampliação da Usina Uberaba, cuja previsão era ter início neste ano.
“A terceira fase está parada. A idéia era iniciar a nova fase para ampliar a moagem da cana. Agora, estamos sem previsão para isso”, afirmou. Em relação a novas usinas, ele diz: “Nem pensar”.
O usineiro Maurilio Biagi Filho, presidente da Usina Moema, afirmou à Folha Online que a crise só não vai jogar para os anos seguintes os projetos cujos estágios eram considerados “irreversíveis”.
“A crise está aí. Ela demora um pouco para aparecer, mas vai empurrar uma série de investimentos para os próximos anos, vai empurrar um pouco as decisões do setor. A não ser alguns locais em que [as obras] estavam em ponto irreversível”, afirma. (Notícias MS)