A integração entre produção agrícola e preservação ambiental, vista em práticas como plantar milho sob a sombra de uma castanheira-do-pará, tem ganhado destaque entre pesquisadores, gestores públicos e ativistas ambientais. O modelo, conhecido como agrofloresta, reúne cultivo de alimentos e manutenção de árvores em um mesmo espaço, promovendo equilíbrio ecológico e contribuindo para reduzir os efeitos das mudanças climáticas.
Especialistas apontam que o sistema otimiza áreas degradadas, substitui técnicas de monocultivo e amplia a biodiversidade. A lógica é produzir sem depender de agrotóxicos, mas da própria ecologia, combinando plantas de diferentes portes para favorecer sombra, infiltração de água e resiliência climática. “Quando eu estou diminuindo a emissão de carbono, eu estou mitigando”, explica Moisés Savian, engenheiro agrônomo e secretário do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Ele lembra que a combinação entre lavoura e árvores pode beneficiar cultivos sensíveis à estiagem, como o milho.
O tema ganhou espaço durante as discussões da COP 30, realizada em Belém (PA), que colocou em evidência a importância das chamadas “florestas produtivas”. O climatologista Carlos Nobre reforça que povos indígenas aplicam esse conhecimento há milhares de anos. “Eles aprenderam a conviver muito bem com a floresta”, afirma, destacando o uso de mais de duas mil espécies da biodiversidade.
Intercâmbio internacional estimula jovens e agricultores
Em Botuporã (BA), projetos de cooperação com comunidades da Alsácia do Norte, na França, têm capacitado agricultores para técnicas sustentáveis e incentivado jovens a aprenderem práticas agroecológicas. O estudante Yago Fagundes, que participou de imersão no país europeu, afirma que a experiência foi transformadora. “A agroecologia é fundamental para combater as mudanças climáticas. Ela atua tornando o solo um sumidouro de carbono”, destaca.
O prefeito da cidade francesa de Eschbach, Hervé Tritschberger, responsável pela iniciativa, reforça que o intercâmbio busca valorizar trabalhadores rurais e repensar modelos produtivos. O projeto resultou na publicação de um livro com as principais experiências, apresentado no Festival Nosso Futuro, em Salvador.
Saberes que atravessam gerações
A adoção da agroecologia também se fortalece em iniciativas individuais. O jornalista socioambiental William Torres, morador do Rio de Janeiro, cultiva alimentos no quintal de casa e relaciona a prática às memórias familiares. Ele destaca que a postura ambiental envolve consciência coletiva e justiça socioambiental. “Cada atitude que visa contrapor a lógica exploratória do agronegócio é um ato revolucionário”, afirma.
Brasil aposta na expansão de florestas produtivas
Savian avalia que a COP 30 foi determinante para ampliar a visibilidade das iniciativas brasileiras. “Além de manter, vamos ampliar a área de cobertura florestal com geração de renda e alimentos”, diz, ao defender incentivos financeiros, crédito agrícola e ações voltadas a pequenos produtores. Segundo ele, integrar o mercado consumidor ao processo — com iniciativas como a prateleira internacional “produtos da floresta” — é essencial.
Para o secretário, a agrofloresta pode ser um dos caminhos mais sólidos para enfrentar a emergência climática. “Não é um remédio que vai resolver num dia para o outro, mas uma dose contínua, que começa pequena e vai crescendo com o tempo”, conclui.
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