Estamos nos aproximando novamente daquele período em que as luzes brilham um pouco mais, as cidades parecem suspirar um alívio momentâneo, e as pessoas, até as mais duras, se permitem um sorriso mais leve. O Natal e o fim do ano trazem consigo uma sensação diferente, que se repete todos os anos, uma sensação que, por incrível que pareça, parece englobar e afetar a todos. O Natal carrega consigo essa atmosfera de encanto, como se, por alguns dias, a humanidade inteira desejasse, ao menos simbolicamente, recuperar uma paz que há muito tempo perdemos. Mas, para a grande maioria, o Natal não passa disso: um rito de passagem que marca o fim do ano, uma tradição cultural misturada ao consumo, às vitrines coloridas e às mesas fartas. Essa compreensão popular tem o mérito de, pelo menos, unir as famílias em torno de uma mesa - isso, quando não surge uma confusão para macular essa união familiar. A visão popular do nascimento de Jesus se limita a uma cena comum, limitada, e, para a grande maioria, completamente esvaziada de seu sentido: um bebê na manjedoura, rodeado por animais, pastores e um brilho suave vindo do céu. Tudo belo, tudo poético, tudo profundamente esvaziado de propósito.
Mas, quando olhamos para esse evento pelo prisma da cosmovisão cristã, percebemos que o Natal não é apenas uma celebração, mas uma declaração teológica. Jesus não nasceu para ser simplesmente o personagem principal de uma história bonita: Ele nasceu porque a humanidade estava perdida. Ele nasceu para o personagem principal da história da redenção da humanidade. É impossível compreender o significado do Natal e do nascimento de Jesus sem reconhecer primeiro a profundidade da queda. A Escritura afirma que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23). Não importava, e ainda não importa, o quão boas e altruístas as pessoas eram/são, nenhum de seus atos poderiam, ou podem, aproximá-las mais de Deus, por mais religiosas que as mesmas pudessem ser. Havia uma parede de separação entre Deus e o homem, erguida pelo pecado, sustentada pela rebelião humana e ampliada pela corrupção moral que consumia, e consome, cada aspecto de nossas vidas. Antes do nascimento de Cristo, a humanidade vivia em um estado de afastamento, incapaz de reconciliar-se com o Criador.
Foi por isso que Ele precisou nascer. Foi por isso que o Verbo se fez carne e habitou entre nós, como diz o apóstolo João (João 1:14). O Natal não celebra apenas o nascimento de um menino; celebra a chegada do Redentor que atravessou a eternidade para restaurar aquilo que a humanidade havia perdido. Sua missão era clara: reconciliar o homem com Deus, derrubando a parede que nos separava do Pai. O apóstolo Paulo, com precisão teológica, escreve que Cristo “é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um… e derrubou a parede de separação” (Efésios 2:14). Ele nasceu para restaurar aquilo que jamais poderíamos recuperar sozinhos. Nasceu para fazer aquilo que somente Ele poderia fazer.
Seu nascimento aponta para sua cruz. E sua cruz aponta para nossa reconciliação. Ele nasceu para tomar sobre si o peso dos nossos pecados, para que “nele tivéssemos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados” (Efésios 1:7). Não é exagero dizer que Jesus veio ao mundo para morrer. Na verdade, esse foi exatamente o motivo de Ele ter nascido — não porque sua vida não tivesse valor, mas porque sua morte seria o caminho para nos tornar novamente aceitáveis diante de Deus. Ele nos fez propícios ao Pai, não por merecimento, mas pela graça que flui do sacrifício perfeito do Cordeiro.
Se o Natal tem algum sentido, é este: Deus entrou na história para reconstruir aquilo que o pecado destruiu. Ele veio restaurar a comunhão quebrada, reerguer o homem caído, trazer paz onde havia conflito e devolver luz onde a escuridão governava. Celebrar o Natal é lembrar que o Criador, desde o início, tinha um plano para redimir a sua criação. Ele tomou a iniciativa, desceu ao nível da nossa miséria, vestiu-se de humanidade e assumiu nossa dor.
Por isso, enquanto o mundo se contenta com o brilho das luzes passageiras, nós lembramos da luz que jamais se apaga. A verdadeira beleza do Natal não está nas cores, mas na cruz que ele anuncia. Ele nasceu para que tivéssemos vida. Ele nasceu porque precisávamos de redenção. Ele nasceu para restaurar a nossa união e comunhão com Deus. E é por isso que devemos celebrar.
Devemos celebrar porque Ele, ao nascer, entrou na História, porque a História havia chegado ao seu limite. Ele entrou quando já não havia caminho humano possível, quando a Lei já havia mostrado a sua incapacidade de salvar, quando os rituais já denunciavam que nenhum sacrifício oferecido pelo homem era suficiente. Ele entrou na História para cumprir aquilo que o homem não podia, para assumir sobre si a culpa que não conseguíamos remover, para ser, Ele mesmo, o Cordeiro que tira o pecado do mundo. Ao nascer, Deus declarou que a salvação não viria de dentro da humanidade, mas de fora dela; não do esforço humano, mas da graça divina; não da subida do homem até Deus, mas da descida de Deus até o homem. Ele entrou na História para fazer da cruz o centro do tempo, da encarnação o início da redenção e da graça o único caminho de retorno. É por isso que Ele nasceu. É por isso que a História jamais foi a mesma depois d’Ele.
*Wanderson R. Monteiro
Autor de São Sebastião do Anta - MG.
Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia.
Psicanalista em formação
Autor dos livros “Cosmovisão em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”, “Crônicas de Uma Sociedade em Crise”, “Atormentai os Meus Filhos”, e da série “Meditações de Um Lavrador”, composta por 7 livros.
Acadêmico correspondente da FEBACLA. Acadêmico fundador da AHBLA. Acadêmico imortal da AINTE.
Autor de 10 livros.
Vencedor de 4 prêmios literários. Coautor de 15 livros e 4 revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)
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