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Opinião Sexta-feira, 10 de Janeiro de 2020, 19:15 - A | A

Sexta-feira, 10 de Janeiro de 2020, 19h:15 - A | A

Opinião

A magia da arte de Agnès Varda

Por Oscar D’Ambrosio*

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Quem não conhece as fotografias, instalações artísticas ou filmes da artista belga Agnès Varda (1928 – 2019) nem imagina o que está perdendo. Parece ser uma frase retórica, mas é séria. Ela é uma personalidade marcante, com trabalhos diversificados e uma poética própria, que se expressa de diversas maneiras, que incluem da observação do cotidiano a questões existenciais.

Unesp

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Oscar D'Ambrosio


O documentário “Varda por Agnès”, dirigido por ela mesma, constitui uma excelente introdução ao seu trabalho, porque o viés que a artista adota é o de mergulhar em seu processo de desenvolvimento de uma linguagem diferenciada. Ela explica, nesse sentido, que se apoia, na construção de seu mundo visual, em três pilares: a inspiração, a criação e o ato de compartilhar com o público as suas obras.

Primeira mulher a receber, em 2017, um Oscar pelo conjunto da obra, a diretora, que foi membro do júri do Festival de Veneza, em 1983, e do Festival de Cannes, em 2005, além de ter sido homenageada em 2017 pela 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, desenvolveu um experimentalismo no qual se permite fundir propostas e linguagens.

Talvez uma das obras mais importantes, que rende documentários e instalações, seja a que ela filma e conversa com pessoas que se alimentam de restos de feiras urbanas de alimentos e que recolhem sobras de plantações daquelas batatas que, por serem muito grandes ou muito pequenas, não são encaminhadas para os mercados.

Trata-se de um de seus passos numa pesquisa na área de reciclagem, que inclui, por exemplo, o uso das antigas latas que guardavam filmes de rolo e dos próprios filmes para construir pequenas casas em que mostra suas instalações, algumas vezes em forma de trípticos, numa explícita referência ao modo de representação visual medieval.

Em fotografias plenas de humanidade, nos filmes experimentais e nas instalações em que se vale de recursos digitais e da proximidade com as pessoas que documenta, como ao captar o discurso de viúvas de uma região da França, ela consegue mostrar a densidade do universal no particular, como realiza em seu projeto sobre as praias que frequentou na vida, que inclui a fictícia “construção” de uma delas perto de sua casa na cidade.

O grande ensinamento do documentário está na coragem de Agnès Varda dar vazão às suas ideias. Isso impressiona muito, porque, de uma maneira ou de outra, com muito, pouco ou nenhum apoio, os seus projetos foram sendo realizados, o que inclui desde uma primeira realização cinematográfica praticamente sem experiência a este documentário, que constitui uma autêntica aula de como transformar intuições em criações que possam ser compartilhadas com todos.

 

 

*Oscar D’Ambrosio

Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

 

 

*Daniel Medeiros

Doutor em Educação Histórica e professor de História no Curso Positivo.

 

 



 


 

 

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