Pesquisa de Harvard estima que algoritmos impedem 27 milhões de pessoas de conseguir emprego
É cada vez mais comum a seleção de candidatos na hora da contratação contar com um auxílio da inteligência artificial (IA), que vai desde uma simples análise de currículo até a aplicação de testes online. Com os avanços tecnológicos, o processo que antes era demorado agora pode levar segundos. No entanto, um estudo recente da Harvard Business School revelou um lado negativo desta automação.
De acordo com a pesquisa, esse tipo de tecnologia pode estar impedindo cerca de 27 milhões de norte-americanos de encontrar um emprego em tempo integral, os transformando em "trabalhadores ocultos". São pessoas que se encaixam em uma das três categorias: trabalha em um ou mais empregos de meio período, mas está disposto a trabalhar em tempo integral; há muito tempo desempregado, mas à procura de emprego; ou não está trabalhando e não está procurando emprego, mas disposto e capaz de trabalhar, mediante as circunstâncias certas.
Ao explicar o motivo pelo qual esses profissionais são descartados na seleção, os acadêmicos dizem que o recrutamento automatizado atua com o propósito de minimizar o número de candidatos aptos a vaga. "Por exemplo, a maioria usa filtros (como diploma universitário ou posse de habilidades descritas com precisão) para atributos como ética de trabalho e autoeficácia. A maioria também usa o não cumprimento de certos critérios (como uma lacuna de tempo sem emprego de tempo integral) como base para excluir um candidato a se considerar, independentemente de suas outras qualificações”, diz o texto.
Dessa maneira, o software classifica os candidatos de acordo com o que falta em seus currículos, e não no que eles podem agregar para aquela determinada função, e por isso acabam rejeitando candidatos que poderiam obter um bom desempenho, caso fossem devidamente treinados, ao seguir os comandos automatizados. Segundo o documento, até 75% das empresas contratantes dos Estados Unidos estão usando essas tecnologias; Alemanha e Reino Unido também têm proporções semelhantes, com o índice de 54% e 58%, respectivamente.
Entre os grupos mais afetados pelo algoritmo das empresas, estão: cuidadores, veteranos, imigrantes, ex-detentos, pessoas com deficiência, pessoas com dificuldades de saúde mental, pessoas com histórico de abuso de substâncias ou álcool e pessoas cujo cônjuge mudou-se para uma nova cidade ou país. Idosos e pessoas sem qualificação, diploma, experiência profissional ou desempregados há longo tempo também foram afetados pela IA.
O relatório traz ainda algumas recomendações para as empresas que buscam preencher as vagas de emprego da instituição com mais diversidade, como: mudança de filtros “negativos” para “afirmativos”, enfatizando as habilidades e experiências específicas associadas ao cumprimento dos requisitos essenciais da função; e tornar o processo de candidatura mais acessível, visto que 84% dos entrevistados afirmaram possuir dificuldade em se candidatar.
Os pesquisadores conversaram com oito mil “trabalhadores ocultos” e 2.250 executivos do Reino Unido, dos Estados Unidos e da Alemanha.