“Qual sua preocupação?” Perguntou se aproximando, mansa e sorrateiramente enquanto ele esperava na esquina, olhando para o céu, assoviando uma canção antiga, tão antiga quanto os sonhos de menino que ficaram na meninice! O sinal fechado e os motoristas esbaforidos davam conta de que aquela era mais uma segunda-feira dos afoitos.
“Preocupação? Quem? Eu?”, indagou com as mãos no bolso, despretensioso. “Preocupação alguma habita em mim, minha querida. Apenas a busca da felicidade me consome!”
“Felicidade? Eu não sei o que é isso!”, respondeu, ironicamente.
Aquela menina de franja e tênis no pé, não tinha certeza alguma na vida. Trazia na bolsa tantas histórias, trazia no bolso do jeans desbotado alguns trocados, trazia nos ombros o peso de sonhos esmagados e algumas sacolas recém saídas do mercado.
Sonhos. Vai ver que era isso que eles tinham em comum. Ele e os sonhos de menino adormecidos. Ela e os sonhos de moça, esmagados pelo tempo, pelos ponteiros que a atropelaram em seus vinte e poucos anos de idade.
A felicidade que ele tanto buscava, sem saber ao certo onde encontrar, acabara de se confundir com a incredulidade dela. Já tinha muito tempo que ela achava tristeza normal enquanto ele, enganado com as artimanhas da vida, a procurava sem cessar.
Quando os olhares se toparam naquele cruzamento, era dia de muito sol e céu azul. O vento soprava o ar quente daquela terra. Ele sentiu vontade de saber mais sobre os olhos de menina escondidos por trás do cabelo liso que escorria na testa.
O sinal abriu. Haviam poucos minutos para atravessar de um lado para o outro do cruzamento. Ele escolheu ir pela esquerda, ela continuou em frente pela rua. Talvez precisasse pensar mais.
Ele escondeu no bolso a vontade que sentiu de convidá-la para uma bebida. Quem sabe outro dia, em outro cruzamento, ela possa me contar mais sobre aquele andar apressado e as sacolas de supermercado penduradas. Quem sabe …