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ENTREVISTA Terça-feira, 12 de Maio de 2015, 07:11 - A | A

Terça-feira, 12 de Maio de 2015, 07h:11 - A | A

Entrevista

Professor classifica como sofrível gestão de Olarte

Para Paulo Cabral o prefeito Gilmar Olarte está enfraquecido politicamente e na esfera judicial

Alberto Gonçalves
Capital News

Deurico/Capital News

Paulo Cabral

Professor de Ciências Sociais Paulo Cabral comenta a situação política de Campo Grande

Campo Grande e também o país vivem uma situação política muitas vezes tumultuada e até complicada. Para entendermos um pouco melhor ouvimos o professor Paulo Cabral, formado em Ciências Sociais pela UNESP de Rio Claro, que é um estudioso sobre o assunto.


Segundo o professor hoje Campo Grande toda vive uma situação tumultuada, desde a cassação do ex-prefeito Alcides Bernal, trouxe maiores problemas à população. Gilmar Olarte é um prefeito sem respaldo político e até jurídico. Ele classifica a atual gestão como sofrível, mas lembra que os tributos são cobrados normalmente.


O professor ainda acredita num crescimento do PSDB em todo o Estado de Mato grosso do Sul e em contrapartida, prevê uma diminuição do PMDB.

Capital News - Qual análise o senhor faz hoje sobre a atual situação política de Campo Grande?


Paulo Cabral - Não dá para analisarmos esse quadro, sem nos remetermos ao ano anterior com a cassação de Bernal. De certa maneira, Olarte vendeu a ‘sua alma ao diabo’. E agora paga o preço dessa transação e por quê? Porque a legitimidade dele é discutível. Segundo a sentença de primeiro grau, do juiz de Direitos Difusos, do Tribunal de Justiça, que permitiu o retorno de Bernal à prefeitura em maio do ano passado, ela é muito clara ao dizer que os julgadores tinham interesse no julgamento. Haja vista que alguns vereadores assumiram diretamente secretarias e outros indicaram quem deveria entrar. Então, eles tinham interesse no resultado e isso, consequentemente, segundo o juiz, caracterizaria a improbidade administrativa, o que traria a nulidade daquela decisão de cassação.


Além disso, com o loteamento feito por Olarte do poder, de alguma maneira ele próprio se fragilizou. Não estava preparado para o exercício do cargo. Os nobres ‘edis’ constroem a tal da governabilidade, em troca de seus interesses pessoais e não em razão de um projeto político mais amplo, ou de um projeto de governo. E para o prefeito, como adicional disso tudo, tem a investigação do Gaeco, onde o Procurador Geral de Justiça mandou ao judiciário para que seja oferecida denúncia contra o prefeito. Então ele (Olarte) está enfraquecido em uma frente política e em uma frente judicial.


Capital News - O que toda essa situação provoca na sociedade?


Paulo Cabral – Agora todos acham que é fácil ser prefeito. As pessoas não conseguem perceber que na eleição do Bernal, uma candidatura sem recurso, chapa pura, etc, que essa vitória se deu em circunstâncias muito peculiares. Foi a recusa do eleitorado para o projeto, quase autoritário, do governador (André Puccinelli), que como um trator de esteira tirou da frente todo candidato com alguma viabilidade.

 

André Fez um arco de alianças com 19 partidos, enfim não deixou espaço para nada, só esqueceu-se de combinar com o eleitorado. E o eleitorado disse não pra esse projeto de poder do Puccinelli. Que aí é resolvido de que forma? Por meio da cassação de Bernal. Então agora todo mundo imagina que seja muito fácil ser prefeito de Campo Grande e se eleger prefeito. E as forças políticas locais estão bagunçadas sim. Haja vista que há muitos postulantes e todos imaginando que têm viabilidade de se tornarem vitoriosos.


Capital News – Caso haja, com toda essa situação política de Campo Grande, uma cassação do prefeito Olarte, como fica a administração da cidade?


Paulo Cabral - Aí quem assume é o presidente da Câmara. É o sucessor natural, isso se não acontecer nada com ele também, porque segundo os boatos poderia ocorrer. Aí nessa hipótese imagino que deveria ter uma nova eleição para a presidência da Casa (Câmara), o que seria uma briga de foice absoluta, porque não estaria sendo eleito o presidente da Câmara, mas sim o futuro prefeito de Campo Grande e, ainda com cerca de pouco mais de um ano de mandato.


Abstraindo essa questão, me parece que, calculadamente o vereador Mario César foi reconduzido à presidência da Câmara antecipadamente, porque a eleição foi antes da hora devida. A Casa antecipou a recondução do presidente, porque havia um boato de que Olarte deveria dançar já no princípio de janeiro de 2015.

Deurico/Capital News

Paulo Cabral

Professor de Ciências Sociais Paulo Cabral comenta a situação política de Campo Grande


Diferentemente do que aconteceu em Dourados, onde Artuzi foi cassado em uma situação inequívoca, a presidente da Câmara, a única remanescente, era Délia Razuk, do PMDB. Naquele caso, o Puccinelli não tinha interesse que Délia se tornasse prefeita, então houve uma composição, Artuzi renunciou e foi preciso fazer uma eleição. Uma candidatura tinha o apoio do governador, a de Murilo Zauit. No caso de Campo Grande, a condução do processo foi exatamente o inverso. Havia o interesse em garantir que o presidente da Câmara assumisse.


Então, o grupo que apeou o Bernal do poder, se apear também o Olarte, não vai mudar muita coisa, porque é o mesmo grupo que está no poder. Muito provavelmente tudo continuará como está: uma gestão complicada há problemas muito sérios de parcerias que o município historicamente apoia e não estão regularizadas.

A Saúde está complicada, a Educação com a saída da secretária, se complica também. Mesmo porque o que não se compreende é que um prefeito e uma Câmara que alegam não ter dinheiro, por exemplo, têm feito isenções de ISS pra atividades econômicas até discutíveis, que não reverteriam em ganho para o município. Como por exemplo, o grupo Kroton, que longe de criar trabalho, está fechando postos de trabalho em Campo Grande, e que tendo ou não isenção, os alunos vão estudar lá. A isenção caiu de 5% para 2%, como é que fica uma prefeitura que diz não ter dinheiro.


O investimento e custeio estão mantidos e o corte é de pessoal. Educação, Saúde e agora Guarda Municipal são serviços que se prestam com gente pra trabalhar.


Capital News – Nessa confusão toda, qual foi a perda do município e do cidadão campo-grandense?


Paulo Cabral – Nós estamos muito lesados. Pagamos um IPTU escorchante, é o terceiro maior das capitais brasileiras. Vimos uma administração municipal meio que paralisada, nada tem sido realizado no que se refere a uma melhoria estrutural para a expansão urbana, por exemplo. Justiça seja feita, a gestão do Puccinelli foi extremamente avançada e definiu os eixos de expansão urbana da cidade. Nelsinho já foi muito mais tímido, concluiu os projetos que havia sido pensado pelo Puccinelli com recursos do Fonplata, mas não houve nada de impactante.

 

A partir de Bernal, por conta de todos esses vieses, você tem quase que uma asfixia da gestão municipal. As únicas coisas que continuam funcionando são as que dizem respeito a arrecadação dos tributos. Agora o resto, está sofrível e com o apoio dessa Câmara. Agora eles dizem que são oposição, querem cassar o prefeito. Oras quem botou e afiançou o Olarte lá foram os nobres vereadores. E o mantiveram até 31 de dezembro do ano passado, justamente para que não houvesse uma nova eleição e que a Casa pudesse estender plenamente os seus tentáculos no Executivo.


Capital News – Em relação ao Estado com a vitória do PSDB, houve uma estagnação em termos de discussão política?


Paulo Cabral – Acho que não se trata disso. É uma gestão que está no início de mandato. Há um pseudo celeuma entre as forças anteriores e o atual governo. Mas isso me parece muito menos uma questão política real e, muito mais um pano de fundo pra disputa da sucessão municipal em 2016, já que todos querem a Prefeitura de Campo Grande e, todos acham que já conquistaram.

 

Então, essa divergência do Azambuja com o Puccinelli, no que diz respeito a obras inacabadas, e as prioridades que a gestão anterior teria definido, me parece muito mais um jogo eleitoral do que uma questão política de fundo, mesmo porque o PSDB durante todo o período de poder do PMDB foi sua linha auxiliar. O PSDB topou indicar a senadora Marisa Serrano para o Tribunal de Contas, para facilitar o projeto de poder do Puccinelli. Porque se isso não tivesse acontecido, seguramente Marisa Serrano seria prefeita de Campo Grande, caso tivesse disputado.


O Azambuja só veio para a disputa do poder municipal, porque o PSDB, por conta do seu projeto federal definiu que todas as capitais deveriam ter candidatura própria. E o mesmo ocorreu com o governo do Estado, onde a disputa a princípio era profundamente desigual. Já que o senador Delcídio estava praticamente eleito, com todo número de prefeituras que havia conseguido dois anos antes e a pavimentação de seu projeto que vinha sendo construído desde 2006.

Deurico/Capital News

Paulo Cabral

Professor de Ciências Sociais Paulo Cabral comenta a situação política de Campo Grande

 

O Azambuja entra nessa disputa pra marcar e consolidar um território do PSDB aqui em Mato Grosso do Sul, que sempre foi uma força partidária importante, tanto que o Serra ganhou aqui na eleição passada e agora o Aécio. Mas sem a garantia de uma vitória, e foi uma surpresa para o próprio Azambuja.

A despeito das forças que o PSDB tem, com importantes setores da sociedade, garantindo essa presença orgânica do partido no Estado, mas a quase vitória, já no primeiro turno, foi uma surpresa e se deveu basicamente aos elementares da campanha do senador, que da mesma forma que dinheiro não aceita desaforo, política não aceita salto alto. Parece que esse teria sido o grande problema e quando se percebeu e se constatou, já não tinha mais tempo de reverter.


Ele (Azambuja) vence, faz um secretariado sem surpresas maiores. Talvez o secretário de Segurança dos quadros do Ministério Público. O Riedel, embora sem atuação partidária, mas vinha de uma política setorial de produtores rurais. Ele faz uma gestão muito distinta em relação ao André, porque ele delegada ao secretariado efetivamente.


Como se trata de algo ainda muito novo, início de gestão, me parece que as forças políticas estão no âmbito estadual acomodadas. Embora o partido que está no poder deverá fazer maioria nas próximas eleições. Assim deveremos ter um crescimento do PSDB e com isso, muito provavelmente o partido que poderá encolher será o PMDB.


Capital News – No quadro nacional, após uma eleição acirrada, algumas pessoas não conseguem admitir a derrota, como senhor vê essa situação?


Paulo Cabral – Há importantíssimos setores do PSDB, Fernando Henrique e Serra, que são líderes incontestes, que descartam a hipótese de impeachment nesse momento, pois não há elementos para isso.
A Classe Média de uma maneira geral é que foi para a rua protestar em junho/julho de 2013, e também no 15 de março deste ano. Mas já no 12 de abril esse número foi menor, e se tiver outro será ainda menor. Uma amiga, por exemplo, foi no primeiro e no de abril não foi, argumentando que outras quatro amigas também não iriam e não queria ir sozinha. Este é o comportamento típico da Classe Média.


Então é complicado você pensar uma ação política contando com a Classe Média. Ela atua, até bem, como maioria silenciosa, que tende quase sempre a reforçar o poder estabelecido. Mas quando ela diverge do poder estabelecido, ela padece de um pecado original: A Classe Média é individualista e imediatista. ‘Eu quero isso pra mim, se for pro meu filho, irmão, vizinho, neto, amigo, parente, eles que corram atrás. Eu luto por mim, pelo meu interesse pessoal. E quero de preferência pra ontem, mas se não deu quero pra hoje, pra amanhã não serve’


A luta política a gente sabe que pode levar décadas, às vezes há um fato político que pode acelerar esse processo, mas de uma maneira geral, os processos de luta são longos.

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Paulo Cabral

Professor Paulo Cabral exemplifica a diferença das classes, destacando a elite e o proletariado


Historicamente, no mundo, a classe alta, a elite, dá conta de tocar um projeto. Ela tem clareza daquilo que quer, até perde aqui pra ganhar lá na frente, faz um jogo de concessões imperioso e sabe lidar com ele.


Da mesma forma que o operariado, o campesinato também dão conta de ter um projeto de longo prazo. Se não for pra mim será pro meu filho, pro meu neto ou bisneto. Estou lutando hoje por algo que talvez não testemunhe as conquistas, mas sei que minha luta presente poderá alterar alguma coisa no futuro. Assim pensa.


A Classe Média não da conta de fazer isso. Porque a Classe Média se define pelo ‘não ser’. O que é a Classe Média? Ela nem é rica o suficiente pra se legitimar com o dinheiro, e nem é pobre o suficiente pra buscar da aspiração de subir. Então ela é aquele grupo espremido sem um projeto próprio de classe, porque a grande aspiração da Classe Média é subir.

 

Eu defino a Classe Média com a seguinte comparação: Ela fica desesperada pra subir e desesperada de medo de cair. Ela se alterna entre duas forças que são os definidores da sua identidade. Mas ela tem uma identidade negativa. Essa sua natureza tende a torná-la uma importante aliada da burguesia, historicamente tende a ser conservadora. Mas existem os progressistas da Classe Média que podem se engajar no projeto político do proletariado, mas enquanto classe, ela não tem um projeto político próprio. Aí essa manifestação destituída de projeto.

Na história pegamos o movimento do tenentismo. Os tenentes encarnavam toda insatisfação das camadas médias urbanas de então. Do tenentismo derivam tanto os militares que dão sustentação pra Vargas e depois promovem o Golpe de 64, como as forças que derivam para o Partido Comunista, ou seja, sai tudo do movimento identificado com as classes médias, mas sem clareza ideológica, exatamente porque a Classe Média não tem núcleo que permita o seu próprio projeto político.

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Jane 10/06/2015

Muito esclarecedor! Permite uma reflexão sobre o assunto, dessa forma se posicionar. Obrigada! Deus o abencoe.

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Rosana Santos 19/05/2015

Professor Paulo Cabral, como sempre com suas análises sensatas.

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2 comentários

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