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ENTREVISTA Domingo, 04 de Fevereiro de 2024, 08:31 - A | A

Domingo, 04 de Fevereiro de 2024, 08h:31 - A | A

Entrevista

Raios e trovões: Quais cuidados é preciso ter

Professor e Especialista em Eletricidade atmosférica explica o que são, como se formam e quais os riscos desse fenômeno da natureza

Renata Portela
Especial para o Capital News

Acervo Pessoal

Raios e trovões: Quais cuidados é preciso ter

Widinei Alves Fernandes

Você sabia que o Brasil é um dos líderes em incidência de raios? Um dos motivos é a sua localização, a extensão territorial e as mudanças climáticas. Estas descargas elétricas são perigosas e causam prejuízos tanto para as pessoas que vivem na cidade, mas principalmente no campo.

Para se ter uma ideia, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,o INPE, por ano, são registradas mais de 70 milhões de descargas elétricas no país. Em Campo Grande, o número dessas ocorrências tem aumentado nos últimos anos, em 2023 mais de 115 mil raios caíram na Capital, 12% a mais que em 2022, em janeiro de 2023 foram 20 mil.

Para saber o que fazer para evitar acidentes, o Capital News conversou com o professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) lotado no Instituto de Física (INFI) Widinei Alves Fernandes. O especialista em Eletricidade atmosférica e estudos relacionados a qualidade do ar, possui graduação em bacharelado em física mestrado em Geofísica Espacial e doutorado em Geofísica Espacial

 1. Capital News: Para gente começar, o que são os raios e como eles se formam?

Widinei Alves Fernandes: Os raios são descargas elétricas que ocorrem entre a nuvem e o solo, é um tipo de relâmpago. Existem relâmpagos que envolvem o solo, relâmpagos dentro da nuvem e relâmpagos para a atmosfera, os que envolvem o solo, são os raios.

Eles podem ser positivos ou negativos, no entanto o ser humano observando na natureza não consegue identificar, isso porque tal situação é possível apenas com instrumentação. Os raios têm um pico de corrente de uma média de 30 mil amperes e são resultado do processo de eletrização dentro da nuvem.

2. Capital News: No que diferencia dos relâmpagos e trovões?

Widinei Alves Fernandes: Os relâmpagos, como eu comentei, são descargas elétricas que ocorrem na atmosfera, elas ocorrem para o solo, dentro da nuvem e para a atmosfera.

Quando essas descargas elétricas ocorrem, elas provocam de forma bem abrupta, uma expansão do ar onde está ocorrendo, essa expansão do ar provoca uma onda de choque que chega aos nossos ouvidos como trovões. Então, o trovão é o resultado dessa expansão de forma abrupta, dessa descarga elétrica que ocorre na atmosfera.

Normalmente a gente ouve um trovão no máximo a 20 quilômetros do lugar onde ele ocorreu. Isso significa que, se estiver mais distante que isso, você não vai ouvir essa descarga elétrica.

3. Capital News: As estações contribuem para a formação dos raios?

As estações do ano que mais ocorrem, as descargas, são a primavera e o verão, ou seja, épocas do ano em que nós temos bastante abundância de radiação solar

Widinei Alves Fernandes: Sim, as estações do ano que mais ocorrem, as descargas, são a primavera e o verão, ou seja, épocas do ano em que nós temos bastante abundância de radiação solar, consequentemente, que aquece o solo e tendo umidade, ou seja, umidade e calor são os dois ingredientes para a formação das tempestades que vão dar origem aos raios e aos relâmpagos.

4. Capital News: Ano passado fez muito calor, o senhor teria um quantitativo de quantos raios atingiram MS e Campo Grande em 2023?

Widinei Alves Fernandes: Nos últimos três anos foi observado um aumento na incidência de raios em Campo Grande. Em 2023 mais de 115 mil raios caíram na Capital, 12% a mais que em 2022. Só em janeiro de 2023 foram 20 mil.

5. Capital News: O raio pode atingir locais diferentes no solo?

Widinei Alves Fernandes: Sim, isso porque o raio é formado por mais de uma descarga em geral. Então quando ocorre um raio, em média, ele teve três descargas e normalmente elas atingem dois pontos próximos ali do local. No entanto, o intervalo de tempo entre eles é muito pequeno e aí não é possível perceber.
As descargas tendem a ocorrer em pontos mais elevados, por isso não se deve ficar embaixo de árvores, próximo de grandes estruturas, que podem ser atingidas.

6. Capital News: Qual a duração de um raio?

Widinei Alves Fernandes: A duração de um raio normalmente é da ordem de até dois segundos. Há casos, muito raros, que excedem isso aí, mas em média dois segundos.

7. Capital News: É verdade que a chance de uma pessoa ser atingida por um raio é baixa, sendo em média menor do que 1 para 1 milhão. Apesar disso, esse número pode ser aumentado em mil vezes, caso uma pessoa esteja em uma área descampada? Explique o porquê?

Widinei Alves Fernandes: Exatamente, então essa relação entre a chance de ser atingido vai depender principalmente de quão exposto essa pessoa fica. Em casa, é necessário que a pessoa evite ficar em contato com os equipamentos elétricos, próximo das janelas, não ficar próximo das portas, não tomar banho, nesses casos, as chances dela ser atingida é próxima de zero.

Em campo aberto, ela deve procurar o abrigo, tentar evitar fazer atividades externas no período da tarde e quando estiver ouvindo o trovão, já se proteger, isso porque, significa que as descargas já estão a menos de 20 km. Sendo assim, se ela tomar esses cuidados as chances da pessoa ser atingida é bem pequena.

Agliberto Lima/Fotos públicas

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8. Capital News: A corrente do raio pode causar queimaduras e outros danos a diversas regiões do corpo? Se sim, quais?

Widinei Alves Fernandes: Se for atingida indiretamente por um raio, ou seja, parte dessa corrente passa por dentro do corpo e outra numa árvore, por exemplo, na grande maioria dos casos, elas sobrevivem. E já diretamente, quando a pessoa é atingida num campo aberto, por exemplo, a chance de sobrevivência é muito pequena.

9. Capital News: Quais os cuidados que as pessoas devem ter em dias de chuvas?

Widinei Alves Fernandes: As pessoas tendem a ter medo da chuva e não das descargas que matam. No entanto, é importante destacar que, mesmo não tendo chuva, é importante tomar os cuidados, isso porque uma descarga elétrica pode caminhar dezenas de quilômetros e atingir uma região fora da onde está chovendo.
Então, às vezes para chuva, mas as descargas não param e as pessoas saem do abrigo. Portanto, se você começou a ouvir o trovão, que significa que essas descargas já estão ocorrendo a um raio de 20 quilômetros de você, significa que você está próximo desse centro de carga, então você está correndo perigo.

Quais os cuidados que você tem que ter? Vai depender de se você estiver na parte externa ou na parte interna de um edifício. Se você estiver no lugar externo, não existe lugar seguro, significa que realmente você está correndo o risco e esse risco vai ser maior ainda se você ficar embaixo de árvore, próximo de caminhão, próximo de grandes estruturas.

Então, o que você deve fazer quando você estiver num lugar aberto? Evitar ficar perto dessas árvores. Se não tiver jeito, o correto é se ajoelhar e não deitar, ficar numa posição como se fosse de oração para você diminuir a área do seu corpo e diminuir a sua altura. E o melhor seria você procurar um abrigo.

Ao chegar no abrigo, você não deve ter então contato com equipamentos elétricos que estejam ligados à rede elétrica nesse momento, porque assim você estaria dando um caminho com a descarga que eventualmente possa cair na parte externa e vir a te atingir. E aí você também evitar ficar perto da janela, perto da porta. Sendo assim, você vai estar protegido.

10. Capital News: Quais os principais mitos em torno do assunto?

Widinei Alves Fernandes: Vou citar alguns dos principais mitos a respeito dos raios:

1. O primeiro é que ele não cai duas vezes no mesmo lugar: Isso é um mito. Quando ele cai num dado ponto, dado às mesmas condições, ele vai se repetir. Por exemplo, o Empire State nos Estados Unidos é atingido várias vezes pelo Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, cerca de seis vezes por ano. Então quando ocorre num local, provavelmente ele vai ser atingido de novo.

2. Outro mito, é que espelho, a tesoura ou a árvore atrai os raios, isso não é verdade.

3. Outro mito é que na ponta do raio vem uma pedra e isso se deve pelo fato de que algumas vezes quando atinge uma árvore ele causa uma explosão nessa árvore, dependendo de como ela é e depois de um tempo a pessoa encontra uma pedra na parte debaixo da árvore.

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