Campo Grande Segunda-feira, 29 de Abril de 2024


ENTREVISTA Domingo, 10 de Março de 2024, 08:26 - A | A

Domingo, 10 de Março de 2024, 08h:26 - A | A

Entrevista

Obesidade: Precisamos falar sobre isso

Especialista explica as causas e cuidados

Renata Santos Portela
Especial para o Capital News

Divulgação

Obesidade: Precisamos falar sobre isso

A obesidade é uma doença, ela é diagnosticada através de um cálculo matemático do IMC, afirma endocrinologista Samira Oliveira Santos

Nesta semana o Brasil te convidou a parar e pensar sobre a obesidade no país, os desafios e dificuldades que as pessoas enfrentam na luta contra a balança, isso porque o dia 4 de março é lembrado como o Dia Mundial da Obesidade. A data é dedicada a aumentar a conscientização sobre o tema que afeta pessoas de todas as idades e também os mais socialmente vulneráveis.

A obesidade não apenas representa um desafio individual de saúde, mas é também um importante fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças. O Dia Mundial da Obesidade é uma oportunidade para lembrar a importância de se promover hábitos saudáveis, políticas de alimentação adequada e saudável e incentivar a prática regular de atividade física.

O Capital News bateu um papo com a médica endocrinologista Dra. Samira Oliveira Santos. Formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ela fez a primeira especialização em Goiânia, no Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO). Atualmente, atende em consultório particular em Campo Grande e é professora da faculdade de medicina da UFMS (FAMED).

1. Capital News: A obesidade é considerada um problema de saúde pública, como ela é diagnosticada?

A obesidade é uma doença, ela é diagnosticada através de um cálculo matemático do IMC

Dra. Samira Oliveira Santos: A obesidade é uma doença, ela é diagnosticada através de um cálculo matemático do IMC (Índice de massa corpórea), no qual a gente faz a divisão do peso pelo quadrado da altura. Se o indivíduo tiver o IMC acima de 30, ele é considerado com obesidade de 30 a 34, obesidade grau 1, de 35 a 39,9, obesidade grau 2 e acima de 40, obesidade grau 3.

2. Capital News: A obesidade é uma doença crônica e não tem cura?

Dra. Samira Oliveira Santos: Sim, a obesidade é uma doença crônica, não tem cura, mas existe tratamento e controle.

3. Capital News: A obesidade é um fator de risco para outras condições crônicas? Quais são elas?

Dra. Samira Oliveira Santos: A obesidade é um fator de risco para várias doenças metabólicas ou não. A hipertensão arterial, diabetes, gordura no fígado (Esteatose hepática) , síndrome da apneia obstrutiva do sono. Além disso, tem relações com vários tipos de câncer, inclusive, câncer de intestino e câncer de mama.

4. Capital News: Qual é a relação da obesidade com a genética?

Dra. Samira Oliveira Santos: É uma doença, infelizmente, de cunho genético em 70% das vezes. O indivíduo que tem predisposição genética para ganhar peso, 70% dos casos a obesidade serão genéticos e os outros 30% fatores ambientais.

Esses fatores se caracterizam por hábitos de vida, histórico gestacional dessa mãe, histórico dos dois primeiros anos de vida, o que esse paciente comeu ou não, o que essa pessoa comia ou não, se ela foi amamentada ou não.

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Obesidade

Sobrepeso

5. Capital News: Por que é tão difícil tratar a obesidade?

Dra. Samira Oliveira Santos: É tão difícil tratar a obesidade porque nosso hipotálamo grava o nosso melhor peso como sendo o maior peso que a pessoa teve na vida. E ele faz de tudo para que você volte a ter esse peso máximo.

Ele entende que esse peso máximo é o seu melhor peso e que se você perde peso você está aí contra a sua fisiologia.

Eu posso dizer a você que a maior dificuldade em tratar o paciente com obesidade é fazê-lo entender que é uma doença crônica. Isso porque por mais que ele tenha emagrecido 15 quilos, se ele não se cuidar, se ele não continuar o acompanhamento, se ele não modificar os hábitos, ele vai voltar naturalmente para o seu peso máximo. Isso significa que o hipotálamo e o nosso centro da fome da sociedade é recordado como o melhor peso da vida dele. 

6. Capital News: Os medicamentos prescritos sob supervisão são seguros para tratar a obesidade?

Dra. Samira Oliveira Santos: Em relação às medicações, para obesidade, elas são amplamente estudadas, estudos criteriosos de segurança, de eficácia, de segurança em relação a risco cardiovascular. Então, sim, as medicações são muito bem-vindas quando bem indicadas e quando acompanhadas por um médico.

Eu tenho que lembrar o paciente que ele tem que ser acompanhado por um médico, a prescrição é médica, então isso faz diferença na hora de um bom resultado, de uma boa resposta ou não do paciente.

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Obesidade: Precisamos falar sobre isso

Segundo a médica, perda de peso deve ser encorajada muito mais às custas de gordura a massa magra

7. Capital News: Qual a importância de sensibilizar a população?

Dra. Samira Oliveira Santos: A importância se dá ao fato de sensibilizar a população a começar, cada vez mais precoce, a melhora dos hábitos. A genética a gente não controla, os nossos genes a gente não escolhe, mas o que a gente pode controlar são os 30%, ou seja, a nossa alimentação, o grau de atividade física que a gente faz, o nosso sono.

8. Capital News: Dormir mal engorda?

Dra. Samira Oliveira Santos: A privação de sono aumenta muito o risco de obesidade, aumenta o hormônio da fome, a grelina, a gente pode melhorar o nosso ambiente, o que a gente está trabalhando ou não. Eu tenho pacientes que vão trabalhar, por exemplo, no shopping e ganham 20 quilos. Por quê? Quais são as opções de comida, de lanche que tem ali no shopping? Então o ambiente conta muito na hora do paciente ganhar ou não peso.

9. Capital News: Sobre as dietas restritivas?

Dra. Samira Oliveira Santos: Dieta restritiva é uma pegadinha, não só coloca o paciente em risco, como também o coloca em risco de ele desenvolver o transtorno alimentar se ele tiver predisposição genética. Além disso, como as dietas restritivas fazem esse paciente perder peso muito rápido as custas de massa magra, isso é péssimo para o tratamento da obesidade.

O paciente que perde peso, às custas de massa magra, faz com que ele cada vez mais tenha facilidade em ganhar.

10. Todos os alimentos “saudáveis” são bons para perder peso?

Dra. Samira Oliveira Santos: A gente estima que mais da metade da população mundial em 2035, da população vai ter sobrepeso ou obesidade. Nós estamos falando aí de mais de 4 bilhões de pessoas que têm sobrepeso ou obesidade. Hoje isso já é uma realidade no Brasil, a metade da população no Brasil já está com sobrepeso ou obesidade.

A gente não fala em alimento proibido, mas a gente pede que o paciente tenha uma consciência de não consumir ou consumir o mínimo possível alimentos ultra processados, ou seja os salgadinhos de pacote, bolachinha recheada, refrigerante, alimentos que são adicionados a alta quantidade de açúcar e gordura.

11. Qual recado você deixa?

Dra. Samira Oliveira Santos: A perda de peso tem que ser encorajada muito mais às custas de gordura e não de massa magra. Então cuidado com as dietas restritivas que leva o paciente a sacrificar coisas muito importantes do estilo de vida dele, às vezes tira tudo, tira carboidrato e acha que essa solução. Fuja disso, fuja dos extremos, o mais importante não é a intensidade que se coloca, é a constância.

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