Quem vê o aposentado Gabino Lino não imagina a dor e a angústia que ele passou ao acompanhar a luta de seu genro contra o câncer que assim como o pai de Ivone Oliveira nutria a esperança de vencer a doença. Gabino e Ivone se encontraram na tarde desta quarta-feira (31) para relatar aos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, da Câmara Municipal.
A 18ª oitiva da CPI que investiga denúncias de irregularidades no tratamento de oncologia em Campo Grande convocou oito familiares de pacientes com câncer e que questionaram alguns procedimentos e possíveis irregularidades que ocorreram durante os tratamentos.
Gabino Lino, de 59 anos, acompanhou de perto a luta de seu genro Rodrigo Santana, de 34 anos, contra a doença. Rodrigo recebeu o diagnóstico de câncer gástrico e recebeu o tratamento no Hospital do Câncer no período de 20 de agosto a 11 de novembro do ano passado. Rodrigo não resistiu e morreu no dia 10 de março deste ano. Casado há 15 anos, deixou um filho de quatro anos de idade.
Segundo Gabino, o genro foi internado para tratar a doença, mas não recebeu acompanhamento adequado. O aposentado relatou aos parlamentares que viu de perto o sofrimento das pessoas naquela unidade hospitalar e afirmou que os pacientes chegavam a esperar até cinco horas para receber a visita de um médico. Diante do que viu, Gabino resolveu ir até a Procuradoria Jurídica e pediu para a promotora Paula Volpe que realizassem vistorias no Hospital, na época, para constatar in loco as denúncias que fizera.

Gabino Lino contou sobre a luta de seu genro e do descaso no acompanhamento médico
Foto: Rafael Gaijim/CapitalNews
Gabino afirmou aos vereadores durante a oitiva desta tarde que a vistoria ocorreu, mas não soube precisar a data correta. O sogro disse, emocionado, que Rodrigo morreu, mas tem esperança de que seu depoimento na CPI colabore para que não haja mais negligência ou irregularidades. “Eu vou poder, no futuro, dizer para o meu neto que eu não fiquei calado diante do que presenciei no Hospital”, afirmou Gabino.
Para a professora Ivone Oliveira, de 45 anos, a troca de medicamento no tratamento de seu pai contribuiu para que ele perdesse a batalha contra o câncer. Segundo Ivone, seu pai fazia tratamento, na Santa Casa de Campo Grande, para câncer no peritônio, um tipo raro da doença que atinge uma membrana serosa, a maior do corpo, transparente e que recobre tanto a parede abdominal quanto as vísceras.
Seu pai morreu no dia 13 de janeiro de 2013, após um ano de tratamento. Ivone contou aos membros da CPI que houve uma mudança no medicamento que seu pai recebia. Quando a Força Tarefa do Ministério da Saúde começou com a elaboração dos relatórios, ela teve acesso à informação de que o Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Força Tarefa, que o medicamento empregado no tratamento de seu pai havia sido disponibilizado. No entanto, o remédio que seu pai recebeu era recomendado para câncer de mama.
“O remédio foi fornecido para o setor de oncologia, mas não foi dado para o meu pai. Onde foi parar esse medicamento?”, questionou Ivone, “se foi para outra pessoa, graças a Deus, mas porque não foi para o meu pai, se o SUS disponibilizou”, afirmou a professora. “O que eu vi foi muita desumanidade, pessoas que enxergavam naqueles remédios a única esperança de vida”, completou Ivone.

A professora Ivone Oliveira afirmou que houve uma troca na medicação que seu pai recebia
Foto: Rafael Gaijim/CapitalNews
Para ela, aqueles que estavam encarregados em fornecer os remédios se colocaram no lugar de Deus. “Eles decidiam quem morreria e quem viveria, e isso é eutanásia. Estão matando nossos parentes, nossos entes queridos”, pontuou Ivone.
Ivone disse ainda aos parlamentares que prefere acreditar que todos os trâmites da CPI não passarão em branco e afirmou que tem esperança no trabalho da Comissão. “Meu pai já não pode ser mais salvo, mas outras pessoas ainda estão ali, e elas não têm voz e nem vez”, encerrou Ivone.
Os depoimentos foram ouvidos pelos vereadores Carla Stephanini (PMDB), Alex do PT, Coringa (PSD), Cazuza (PP), além de Flávio César (PT do B) que preside a Comissão.