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Rural Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008, 07:31 - A | A

Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008, 07h:31 - A | A

Apesar de crise, safra brasileira de grãos é a maior dos últimos anos

Da redação (LM)

A crise mundial dos alimentos, a explosão dos custos de produção, o embargo europeu à carne bovina brasileira e a maior colheita de grãos da história foram fatos que marcaram o setor agropecuário no país em 2008. O desafio agora é encontrar um novo modelo de financiamento para os produtores.

Em relação à produção de alimentos, o ano começou com características bem diferentes das que se verificam agora, em seu desfecho. Antes era a crise dos altos preços dos alimentos, agora é a econômica, que reduziu as fontes de crédito contratadas pelos produtores. Os custos de produção aumentaram até 50% em alguns casos, influenciados sobretudo pelos fertilizantes, que atingiram, segundo classificação de representantes do governo e do setor produtivo, preços “abusivos”.

A crise dos alimentos foi considerada a maior dos últimos 30 anos. Uma das causas seria o aumento da demanda em países asiáticos, principalmente China e Índia, onde a população passou a ter acesso a produtos pouco consumidos anteriormente, como carne. Outras causas seriam o uso do milho para produção de etanol nos Estados Unidos, algumas secas regionalizadas, devido a mudanças no clima, e o aumento do preço do petróleo, matéria-prima usada na fabricação de fertilizantes.

Estimulados pelos bons preços das commodities agrícolas e com condições climáticas favoráveis, os agricultores brasileiros colheram a maior safra de todos os tempos. Foram 143,2 milhões de toneladas, um incremento de 9% em relação ao ciclo anterior. Junto com os bons resultados no campo, uma conquista no Congresso: a Lei 11.775, sancionada em setembro, definiu as regras da maior renegociação da dívida rural já feita. Entraram no programa R$ 75 bilhões em débitos de 2,8 milhões de contratos.

Depois da colheita recorde, a preparação para o plantio na safra 2008-2009 foi marcada por reivindicações dos produtores, que, devido à crise econômica mundial, deixaram de ter parte da produção comprada antecipadamente pelas trading companies. Esses recursos representavam um terço do financiamento da safra, complementados por empréstimos do governo e por reservas dos próprios produtores.

Com a nova crise, a incerteza, mais uma vez, sobre sua duração, e o improvável retorno do capital estrangeiro ao setor agrícola no mesmo volume verificado até então, um novo desafio se apresenta: que modelo de financiamento será adotado na agropecuária brasileira? A escassez de recursos para a agricultura e tantas incertezas devem causar redução entre 5% e 10% no volume de grãos colhidos no próximo ano. Diante da inviável manutenção do modelo atual, técnicos da área econômica já começaram a se reunir periodicamente para discutir possíveis alternativas. O setor produtivo ensaia uma proposta.

Na apresentação do balanço do ano e das perspectivas para 2009 feita pela CNA, o professor da USP e consultor da entidade Guilherme Dias afirmou que “a primeira mudança deve vir do próprio produtor, que deve se apresentar como uma firma rural moderna, capaz de sobreviver aos novos desafios”. Ele disse ainda que, sem transparência, não há como montar um seguro de produção.

Expansão do seguro rural, ampliação da política de preços mínimos ou incorporação, pelo governo, da parte que era financiada pelas trading companies. Ninguém se arrisca a dizer qual será a saída para uma agricultura sustentável a longo prazo no país. A única unanimidade é que o modelo atual está superado. Com tantas crises, no entanto, é possível que, até o modelo ser implantado, muitas das reivindicações apresentadas em 2008 se repitam ainda por algumas safras.(Com informações da Agência Brasil)

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