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Reportagem Especial Sábado, 22 de Outubro de 2022, 13:22 - A | A

Sábado, 22 de Outubro de 2022, 13h:22 - A | A

Reportagem Especial

Preta princesa no mundo da contação de histórias

De forma lúdica, pedagoga discute enfrentamento ao racismo e a importância da representatividade negra

Renata Silva
Especial para o Capital News

Acervo pessoal

Preta princesa no mundo da contação de histórias

Preta Princesa e a sua coroa

Ela usa um vestido rodado vermelho, uma coroa de princesa e leva com ela uma boneca preta nas mãos é assim que a Preta Princesa entra em cena para chamar a atenção de crianças e jovens de escolas, creches e da comunidade. Todo esse aparato lúdico é para discutir um tema muito importante: o racismo.

"Preta Princesa é a imagem idealizada de algo que eu gostaria de ver na minha infância"

 

Através da contação de histórias, livros representativos, músicas, cantigas populares e dança a Preta princesa também quer falar sobre o respeito as diferenças, que o tom de pele e o cabelo crespo são bonitos e devem ser motivos de orgulho. A autora dessa ideia é a Pedagoga, especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica e História e Cultura Afro-Brasileira Andréia Souza Cássio. “Preta Princesa é a imagem idealizada de algo que eu gostaria de ver na minha infância. Alguém que eu pudesse visualizar com meus traços, tom de pele, cabelo, algo real transposto do imaginário de criança”, pontua.

Tudo começou em 2017, após uma aula numa escola no perímetro urbano quilombola. Andreia notou que as atividades que eram realizadas em sala de aula não tinham referência com a cultura e a origem afro-brasileira e africana, foi então que ela teve a ideia de criar a personagem.

Acervo pessoal

Preta princesa no mundo da contação de histórias

Andréia ao lado dos filhos em mais um dia de contação de histórias


Andreia lembra que os primeiros passos da Preta princesa no mundo das histórias foi de forma improvisada. Com uma ânsia danada de falar com as crianças, ela vestiu um vestido de formatura que tinha em casa e foi para escola, a pedagoga diz que sempre sentiu falta dessa referência na infância e percebeu que estava nas suas mãos fazer a diferença.

Natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Andréia fala que a personagem surgiu com o intuito de se fazer presente a representatividade negra que as crianças não tem enquanto materialidade, imagens e objetos em torno de sua formação. Essa ideia deu tão certo que ela criou também o Projeto Vivências Culturais Afro-Brasileiras na Educação que tem como proposta o educar para igualdade racial e oportunizar para as crianças e adultos uma vivência da cultura afro-brasileira.

Ela fala que desde jovem se questionou sobre a falta de brinquedos com o seu tom de pele e propagandas na televisão com pessoas pretas, “como somos maioria da população negra, nunca soube o porquê de não sermos a maioria também nos espaços, como nas propagandas de televisão. Isso me fez criar a Preta Princesa, ser a princesa que represente as crianças pretas”, detalhou.

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Preta princesa no mundo da contação de histórias

Os filhos Davi Souza da Silva de 9 anos e Jorge Souza da Silva de 8 durante as apresentações

 

Quando pode, a pedagoga conta com a participação dos filhos, Davi Souza da Silva de 9 anos, Jorge Souza da Silva de 8 no enfrentamento do preconceito. Quando eles não estão na escola, acompanham a mãe e dão um show de cultura que envolve dança, ginga de capoeira e muita música “Eles aprendem e ensinam. Faz parte de nossas rotinas cotidianas o envolvimento com a cultura, dança, música e diversas artes”, acrescenta.

"Ainda sou uma princesa em construção, porém nossa caminhada está além desses obstáculos, continuo seguindo meu objetivo em levar meu melhor para todos"

 

Embora o trabalho seja organizado e muito importante para a sociedade, Andréia explica que para trabalhar o tema enfrenta muitos desafios entre eles a falta de colaboração, de parcerias, de visibilidade e apoio nos diversos âmbitos, o principal deles, o de recursos financeiros. Além disso, ela destaca a falta da conscientização das práticas que precisam ser alcançadas, como políticas públicas voltadas ao assunto. “Faço a minha parte, mas com ajuda é bem melhor. Ainda sou uma princesa em construção, porém nossa caminhada está além desses obstáculos, continuo seguindo meu objetivo em levar meu melhor para todos” finaliza.

Acervo pessoal

Preta princesa no mundo da contação de histórias

Os filhos Davi Souza da Silva de 9 anos e Jorge Souza da Silva de 8

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